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Alguns segredos que a ciência já desvendou sobre a ômicron

Estudos preliminares revelam traços interessantes sobre a natureza e o comportamento da variante

Foto: ReproduçãoNova variante B.1.1.529 (Omicron)

 

outrasaude - O mais recente trabalho sul-africano resume as duas conclusões mais aceitas atualmente pelos cientistas sobre a ômicron: ela causa bem menos mal do que as suas antecessoras e isso se deve apenas em parte às características que a distinguem das outras cepas. A maior parte (três quartos) da redução de agressividade decorre da imunidade já adquirida pela população, por vacinação ou infecção prévia.

Publicado pelo Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis, o estudo comparou 11.600 pacientes das três primeiras ondas de covid com 5.100 da onda da ômicron, desde 26 de novembro. Apenas 8% dos pacientes morreram ou foram hospitalizados até 14 dias após um teste positivo para ômicron. Nas três primeiras ondas, a média de óbitos foi duas vezes maior, de 16,5%. Os sul-africanos estimaram a proteção que, conforme os dados, vinha da vacinação e da infecção. Deduziram que o resto se devia ao comportamento do vírus.

Nesse caso, a opinião acadêmica prevalecente é que a ômicron se estabelece de preferência nos brônquios. Não penetra mais fundo nos pulmões e no organismo, onde poderia ter efeitos mais graves. Essa explicação é compatível com análises de internações e é apoiada por muitos estudos com animais em laboratório. Um deles mostra, por exemplo, que a infecção pela ômicron não causa perda de peso em hamsters, mesmo em altas cargas. As variantes alfa, beta e delta, enquanto isso,  levam a emagrecimento da ordem de 14% na primeira semana.

 Os resultados também sugerem que a infecção pela ômicron é mais robusta na parte superior do trato respiratório. Outra análise importante, da Universidade de Liverpool, divulgada há duas semanas, mostra que camundongos têm cargas virais mais baixas, quando são infectados com a ômicron, em comparação a outras variantes. Novamente se constata que a ômicron parece se replicar preferencialmente nos brônquios.

Isso pode torná-la mais facilmente transmissível e menos agressiva, sugerem os autores. E também pode torná-la mais vulnerável ao ataque do sistema imunológico, dizem alguns cientistas citando outro estudo, muito importante, do Imperial College de Londres, do final de dezembro, que se baseou em 56.000 casos de ômicron e 269.000, de delta. Considerando os pacientes vacinados com duas doses, verifica-se que a ômicron causou 50% menos hospitalização do que a delta. Entre as pessoas não vacinadas, os infectados com a ômicron tiveram 26% menos hospitalização.

Uma pesquisa mais recente e igualmente ampla, deu resultado similar, sugerindo baixa severidade da infecção. Mostrou em janeiro que, entre quase 70 mil  pacientes, nenhum dos mais de 52 mil  com a ômicron tratados na Califórnia precisou de ventilação forçada. Entre outros quase 16 mil pacientes com a variante delta, 11 precisaram de ventilador. A duração média da internação hospitalar foi 3,4 dias menor para os pacientes com a ômicron. Houve 14 óbitos de pacientes com a delta, e apenas um dos pacientes com a ômicron morreu.

Todos esses trabalhos têm importância acadêmica, e preliminar. Seus resultados não podem ser transpostos para o combate à pandemia. A ômicron espalhou-se com um raio pelo planeta e em muitos países tornou-se responsável pela grande maioria dos novos casos. Diversos estudos mostram que as doses de reforço são essenciais para a imunização das populações. Sem o reforço a proteção é insuficiente, descobriram pesquisadores britânicos ao examinar mais de um milhão de casos.

Quem toma o reforço tem 81% menos chance de ser internado no hospital, comparando com pessoas não vacinadas. Em comparação com quem toma duas doses, a chance de hospitalização foi 65% menor. É uma diferença e tanto, mostrando que é preciso vacinar mais e mais, como sempre. As novidades científicas trazem um alívio, claro, mas são boas sobretudo por si mesmas: mostram que a ciência está fazendo o seu papel.

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