Pensar Piauí

A insustentável leveza de Moro

Para Moro, ele é inquestionável e incontestável

Foto: Google ImagensSergio Moro
Sergio Moro

O personagem representado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, é um emblema do momento atual vivido pelo País, dominado pelo cinismo, pela mentira como ferramenta de exercício do poder, no qual uma autoridade, sob tantas suspeitas, se comporta como arauto da moralidade. A mais recente entrevista à Folha de São Paulo, em que Moro culpa o Supremo Tribunal Federal (STF) pelo baixo nível de percepção quanto ao combate à corrupção, por parte do governo Bolsonaro, mostra bem quem o é.

Sentindo-se, aparentemente inquestionável ou incontestável, Moro, de forma prepotente, surpreendeu ao ser confrontado com os números da derradeira pesquisa do Instituto Datafolha, revelando que, para 50% da população brasileira a gestão do governo é ruim ou péssima no combate à corrupção. Esse número conduz, de forma clara, que o suposto caráter anticorrupção do bolsonarismo ou lavajatismo, da assunção do próprio ex-juiz federal ao cargo de ministro, não passava de marketing, em grande medida, ou política.

E, como todos viram, ao invés de fazer um balanço administrativo de sua gestão, apontando prováveis equívocos, no tal combate à corrupção do governo bolsonaro, preferiu transferir suas próprias responsabilidades, atacando o Poder Judiciário, representado por sua instância máxima, a Suprema Corte. E, auto-suficiente, se sentiu à vontade para colocar a culpa na decisão do STF, que, nada mais fez do que cumprir a Constituição Federal e validar a prisão somente após o trânsito em julgado. Trata-se de uma cláusula pétrea.

Guerra ao Supremo

Ao fazê-lo, o ministro pode não ter declarado guerra ao Supremo, mas, subliminarmente, assim procedeu, desrespeitando a decisão soberana da instância maior do Judiciário brasileiro, o que, de certo, não o deixará impune, mais dia ou menos dia. Como se sabe, há um processo tramitando no STF, onde Moro está sob suspeição, podendo ter anulada a respectiva sentença que condenou à prisão o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por suposto recebimento de um triplex, que nunca, em tempo algum, pertenceu ao petista.

Fazendo uma retrospectiva, Sérgio Moro condenou Lula por atos indeterminados ou “ato de ofício indeterminado”. Como frisou o jornalista Jânio de Freitas, indeterminado: desconhecido, não existente. Ou seja, Moro condenou um ex-presidente da República por um ato que diz desconhecer, inexistir, no caso do triplex, para o qual jamais foram apresentadas provas. Tudo isso já se sabia, na época da condenação, mas com a divulgação, pelo site The Intercept-Brasil, das mensagens trocadas entre o então juiz e procuradores da Lava Jato…

Ficou insustentável a situação, inclusive política e institucional, do agora ministro, que, sim, além de ter condenado Lula, sem provas, por “ato indeterminado”, para destruir o ex-presidente, teria conduzido as investigações, coordenado supostamente a Operação Lava Jato. É o que ficou evidente com a divulgação das mensagens trocadas entre Moro e os procuradores federais da força-tarefa, especialmente Deltan Dallagnol. Num país sério, teria ficado insustentável a situação de Moro, mas isso infelizmente não se aplica ao Brasil. Até quando?

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