“Não tomo mais água e café do Senado”, diz senadora com medo de veneno
Relatora da CPI das Bets afirma que teme ser envenenada e anda escoltada por segurança armada

A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), relatora da CPI das Bets, declarou que passou a viver sob forte tensão e medo após receber ameaças relacionadas ao relatório final da comissão. A parlamentar afirmou, em declaração publicada por Paulo Cappelli, do Metrópoles, que abandonou o consumo de qualquer bebida oferecida dentro do Senado e que adotou medidas de segurança extremas. “Não tomo mais nem água nem café que venham de dentro do Senado. Estou andando com segurança armada até os dentes”, disse.
As declarações foram feitas depois da leitura do relatório final da CPI, que pedia o indiciamento de 16 investigados, entre eles donos de sites de apostas e influenciadores digitais como Virgínia Fonseca e Deolane Bezerra. Apesar dos esforços da relatora, o texto foi rejeitado pela comissão por quatro votos a favor e três contrários — insuficientes para aprovação.
Rejeição e clima hostil entre parlamentares - Segundo a senadora, as ameaças começaram dias antes da apresentação do relatório e se intensificaram à medida que os trabalhos da CPI avançavam. “Se cair uma unha minha, de alguém da minha família ou de alguém da minha equipe, sei de quem é a culpa. Não vou dizer quem foi, mas, se analisar quem assinou pela abertura da CPI, quem virou membro e quem a sabotou, você saberá quem me caluniou e me difamou”, afirmou, revelando que acionou a Polícia Federal.
Internamente, Soraya já expressava insatisfação com o presidente da CPI, senador Dr. Hiran (PP-RR), a quem acusava de enfraquecer os trabalhos deliberadamente. Ela atribui essa postura a uma orientação do presidente do Progressistas, Ciro Nogueira. A senadora também relatou ao senador Fabiano Contarato (PT) que as convocações das sessões eram feitas de última hora e que havia uma articulação entre parlamentares para esvaziar o quórum e impedir o avanço das investigações.
Viagem de senador e pedido de afastamento
O clima na comissão azedou ainda mais após a revelação de que o próprio Ciro Nogueira, membro da CPI, viajou a Mônaco em um jato particular pertencente a Fernando Oliveira Lima, empresário apontado pela relatora como “um dos principais nomes do setor de apostas online no Brasil” e um dos alvos do relatório.
Diante da repercussão, Soraya solicitou que Ciro fosse excluído da comissão, sob o argumento de que sua presença comprometia a “imparcialidade e a credibilidade dos trabalhos investigativos”. O pedido, porém, não foi aceito.
O episódio evidencia as dificuldades enfrentadas pela relatora no curso da apuração, em um cenário de pressões políticas, interesses empresariais e disputas internas. A CPI das Bets, que prometia investigar a fundo o mercado de apostas esportivas e suas conexões com personalidades públicas, termina sob questionamentos e suspeitas levantadas pela própria senadora que conduziu os trabalhos.
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