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Oscar de Barros

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Dr. Oscar morreu hoje – “admiração” é a palavra que tenho para ele

Foto: PensarPiauíZefinha, Dr. Oscar e João Manoel
Zefinha, Dr. Oscar e João Manoel

Papai morreu em 1977 e mamãe em 2010, mas hoje eu fiquei um pouquinho mais sem eles: também morreu o médico Dr. Oscar.

Era final dos anos 50, a cidade de Picos tinha apenas dois médicos: Dr. Moura e Dr. Antenor, mas aquele rincão piauiense receberia dois novos médicos recém formados, Dr. José Nunes e Dr. Oscar Neiva Eulálio.

Papai e mamãe moravam a 37km da sede da cidade de Picos num povoado por nome de Malhada que mais tarde viria a compor a cidade de Bocaina.

Hoje, com seus afazeres que em muitas ocasiões salvam vidas, os médicos são tratados quase que como divindades. Como aquela população, de uma Picos extremamente rural, via os profissionais médicos lá na distante década de 1950?

Dr. Oscar foi transformado numa espécie de médico da família, muito antes de Cuba popularizar esta modalidade. Se alguém tinha um problema de saúde, João Manoel, meu pai, só admitia o tratamento com Dr. Oscar.

Logo após meu nascimento em 1962 adoeci de poliomielite e por quatro anos fiz tratamento na cidade de Picos. Fiz todo tipo de tratamento, inclusive o não convencional. O convencional sempre sob a responsabilidade de Dr. Oscar.

Já tinha em São Paulo dois irmãos que insistentemente pediam para meu pai me levar para lá. Ele com sua fé em Deus e em Dr. Oscar frequentemente afirmava: “O Deus daqui é o mesmo de lá, se tem cura lá, vai ter cura aqui”.

Muitas vezes Dr. Oscar percorreu os distantes 27 km de Picos à minha casa para fazer uma consulta, mas o progresso no tratamento não aconteceu e eu acabei indo para SP – um centro bem melhor estruturado que a nossa pequena Picos do início dos anos 60.

Dr. Oscar se envolveu com política. Vivíamos tempos de ditadura militar mas ele foi da resistência ao regime. Era filiado ao MDB que o povo da época carinhosamente chamava de Manda Brasa. Dr. Oscar foi prefeito de Picos e deputado estadual.

Em 1977, papai adoece. Recebe um primeiro atendimento na Bocaina mas como o caso era sério foi recomendado a ida a Picos para internação. Mamãe foi firme: “leva direto para o Hospital de Dr. Oscar”. Papai morreu, mas minha mãe ficou com o alento de que ele foi atendido no local que se tivesse a condição de escolha a teria feito. Morreu sob os cuidados daquele profissional médico que ele tanto admirava.

A partir dos anos 80, Picos foi invadida por um batalhão de médicos. Hoje é um importante centro de saúde do Piauí. Enquanto viveu minha mãe consultou-se com diferentes profissionais da cidade, mas nunca faltou com o respeito e admiração por Dr. Oscar.

Dr. Moura, Dr. Antenor, Dr. Zé Nunes e Dr. Oscar foram médicos em tempos outros. Num tempo de um outro Piauí. Comunicação, locomoção, tudo era difícil. Tecnologia? Quase zero. Fizeram milagres e iniciaram a história da medicina naquele pedaço de Piauí.  

A admiração que papai tinha por Dr. Oscar era tanta que quando seu 14º filho nasceu em 1962 recebeu o nome de Oscar em homenagem àquele jovem doutor.

Hoje, ao escrever estas linhas choro a morte de Dr. Oscar por mim e por seus dois grandes admiradores: João Manoel de Barros e Zefinha

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