Um povo construindo sua igreja
Ontem, dia 08 de dezembro, a cidade de Bocaina comemorou sua padroeira: Nossa Senhora da Conceição.
Bocainense que sou, aniversariando nesta data, estive presente na cidade acompanhando os festejos religiosos. Uma prática que faço desde criança levado pelas mãos de meus pais, João Manoel de Barros e Zefinha.
Houve um pequeno interstício de anos escolares vividos em SP, porém, todo o restante de meus 61 anos, dia 8 de dezembro, celebro a mãe de Jesús naquela cidade piauiense.
Ontem os bocainenses realizaram a festa de número 269 de Nossa Senhora da Conceição. É uma das atividades religiosas mais antigas do Piauí, quiçá do Brasil.
E a festa 269 foi marcada por um momento ímpar nesta longa história. Novenas e missas foram celebradas sem igreja física. O prédio havia sido demolido. Mas a igreja que Jesus mais valoriza estava lá, super presente, composta pelos fiéis e pela fé.
Fé e tradição são duas coisas que caminham juntas na Bocaina. Apesar de uma nova igreja estar sendo erguida no espaço dos escombros da antiga, o povo mantem a tradição de ser ele quem escreve sua história de fé em Nossa Senhora da Conceição.
É bom registrar que a Imaculada Conceição da Virgem Maria foi solenemente definida como dogma pelo Papa Pio IX em sua bula Ineffabilis Deus em 8 de dezembro de 1854, todavia 100 anos antes o povo de Bocaina já a festejava (o primeiro festejo da Bocaina é de 1754) acreditando ser ela preservada do pecado original desde o momento de sua concepção, sendo portanto cheia de graça divina.
A igreja da Bocaina foi feita portanto na metade do século 18 e sofreu duas reformas nestas duas centenas e meia de seculos. Uma em 1925, e, a mais radical reforma, em 1974, quando a torre da igreja caiu e uma outra foi erguida.
Neste século foi visto que o prédio da igreja necessitava de uma profunda reforma. Feitos os cálculos, a conclusão foi que o custo-benefício de demolir a igreja existente e erguer uma nova, era propício.
O pároco da cidade, padre Francisco Feitosa, com o aceite de Dom Plínio, bispo de Picos, a quem a paróquia é subordinada, trouxe a idéia de uma nova igreja. Houve polêmica, mas a grande maioria do povo optou por uma nova igreja.
Nos festejos de ontem era possível ver as paredes ainda inconclusas. No encerramento da missa padre Francisco Feitosa e Dom Plinio assentaram a pedra fundamental da igreja no presbitério.
Presbitério é o espaço onde acontece toda a ação litúrgica. Onde atuam os ministros, os presbíteros, que é quem preside a celebração, os acólitos e também os leitores. Em algumas comunidades é um espaço elevado para poder facilitar a visão de toda a assembleia do que acontece no presbitério. No centro do presbitério está o altar da igreja que é o local onde acontece a ação de graças. Onde se recorda o mistério do Cristo, e onde é feito a celebração eucarística.
Antes, no dia 7, ao encerrar a noite de celebração, Jones Barros, da comissão de organização dos festejos e da comissão de construção da obra usou o microfone para relatar um problema aos presentes.
Jones disse que o planejamento aponta para a finalização da construção antes dos festejos do ano que vem. Mas uma grande despesa ainda precisa ser feita e no orçamento da igreja não havia previsão de recursos para isto: a compra de 15 vitrais que vão compor o corpo da igreja. E, sem revelar o valor, Jones afirmou “um vitral é muito caro, por isso, apelo aqui aos filhos de Bocaina, aos devotos que Nossa Senhora, para que 15 famílias se disponham a assumir esta despesa”.
Imediatamente surgiu o nome de uma família, de outra, mais outra e eu lembrando aqui de João Manoel e Zefinha que tanto me estimularam na fé em Nossa Senhora da Conceição. Meus irmãos Zé e Raimundo estavam próximos de mim e os incentivei: “vamos lá, digam que a família de João Manoel e Zefinha assume um dos vitrais da nova igreja”. Eles se levantaram, se dirigiram a Jones e fizeram a afirmação. Jones revelou ao microfone: “está aqui Zé e Raimundo dizendo que a família Mané, assume outro vitral. A gente sabe que sempre pode contar com os Manés”.
Carinhosamente os filhos de João Manoel e Zefinha são conhecidos como “os Manés”.
Ao fim da fala de Jones mais de 15 famílias haviam se disposto a assumir os vitrais da futura igreja.
E, assim, como os brasileiros foram construindo, tijolinho por tijolinho, a gigantesca Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo, as famílias de Bocaina vão construindo aquela que para eles é a maior e mais bela de todas as igrejas.
Ave, Maria!
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