Eu era apenas um, mas estava lá, gritando: “Eleições diretas, Já!”

Eu tinha 21 anos de idade. Tinha um ano e pouco que trabalhava e dois anos que fazia faculdade de comunicação. Coração e mente cheios de sonhos libertários.

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Era morador de São Bernardo do Campo-SP e respirava o clima político de quem vivia no ABC paulista. Na faculdade, mal entrara e já estava participando de uma greve contra o reitor que acabaria sendo deposto.

O presidente do Brasil era o general que gostava mais de cavalos do que de gente, João Batista de Oliveira Figueiredo. Havia uma pequena distensão, mas na realidade o regime era uma ditadura que já matara muitos e reprimia com vigor as liberdades individuais e coletivas.

A ditadura, que tivera iniciativa civil e acabou se tornando militar, iniciara em 1964. Houve resistência. Mas os milicos permaneceram  no poder por muitos anos.

Depois de um período de exilio, importantes lideranças políticas tinham voltado ao Brasil: Miguel Arrais, Francisco Julião, Leonel Brizola, Gabeira, Betinho (o irmão do Henfil), entre tantos.

Um jovem deputado do MDB de Mato Grosso, Dante de Oliveira, resolvera em 1983 propor uma emenda constitucional que restabelecesse eleições diretas para presidente da República, já que o povo estava sem eleger seu mandatário desde o golpe.

Aos poucos se formou uma grande frente democrática e foi ela que deu robustez ao movimento que ganharia ruas e praças do Brasil.

Aqui no Piauí houve comício. Não participei, já que morava em São Paulo, mas se meus conhecimentos não enganam foi realizado na praça do Marques.

Houve por todo o Brasil. O encerramento foi marcado pelos mega-comícios da Candelária-RJ e do Anhangabú-SP com milhões de pessoas presentes.

Mas, para mim, o comício marcante, aconteceu em janeiro, na Praça da Sé-SP. Foram em torno de 300 mil pessoas que se aglomeram naquela tarde de garoa fina para responder ao locutor das Diretas Já, Osmar Santos:

- Vocês querem eleições diretas quando?

- JÁ!!!!!!!!

Para ouvir Tete Spindola cantar "Escrito nas Estrelas"

Para ouvir oradores do porte de Franco Montoro, Ulisses Guimaraes, Tancredo Neves, Miguel Arraes, Lula. Leonel Brizola, FHC, Mario Covas e Orestes Quércia.

São Paulo, 25 de janeiro de 1984. Um dia de uma das mais importantes páginas da História do Brasil. Eu era apenas um, mas estava lá, no meio de milhares e gritando:

- Eleições diretas, Já!