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Vem aí, outra "facada" do Congresso no governo Lula

Ex-presidente da Câmara é o relator do projeto do governo que prevê isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil


Reprodução Vem aí, outra "facada" do Congresso no governo Lula
Vem ai, outra "facada" do Congresso no governo Lula

O Congresso Nacional impôs mais um revés ao governo Luiz Inácio Lula da Silva ao travar uma das principais promessas de campanha do presidente: a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para trabalhadores com salários de até R$ 5 mil. A manobra, conduzida por Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Câmara e atual relator do projeto, foi vista por interlocutores do Planalto como parte de uma ofensiva política articulada por lideranças do centrão e da bancada bolsonarista com o objetivo de fragilizar o Executivo.

A decisão de Lira de adiar a entrega do parecer sobre o projeto ocorre dias após o Congresso derrubar o decreto presidencial que elevava a alíquota do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), medida proposta pelo governo para reforçar o caixa da União e compensar a renúncia fiscal estimada em R$ 27 bilhões com a nova faixa de isenção. A operação contou com o aval dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).

"Não há clima para apresentar o relatório", disse Lira a aliados, sinalizando que o impasse deve se estender, encurtando o prazo para aprovação da proposta ainda em 2025 – condição necessária para que o novo teto de isenção entre em vigor em 2026, ano da próxima eleição presidencial.

Pressão política e cálculo eleitoral

Nos bastidores, a avaliação entre aliados do governo é de que o adiamento do parecer amplia a pressão sobre o Planalto e reforça a disputa por protagonismo dentro da direita. Parte significativa do centrão e parlamentares ligados ao bolsonarismo enxergam na estagnação do projeto de isenção um caminho para desgastar a imagem do governo junto ao eleitorado e abrir espaço para a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em 2026.

A mesma base que impediu o aumento do IOF também articulou a aprovação relâmpago de outro projeto polêmico: a ampliação do número de deputados federais, medida que contraria o discurso de contenção de gastos defendido por esses mesmos setores.

Boulos: “Querem empurrar Lula para medidas impopulares”

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) avaliou, durante participação no Fórum Onze e Meia nesta quinta-feira (26), que o objetivo da aliança entre o centrão e bolsonaristas não é abrir caminho para um impeachment, mas sim forçar o presidente a adotar medidas impopulares.

"Essa estratégia busca obrigar o governo a cortar orçamento de áreas como Saúde, Educação e programas sociais. É uma forma de enfraquecer Lula politicamente para 2026", afirmou o parlamentar.

Boulos também criticou o que chamou de "hipocrisia" do Congresso, lembrando que parlamentares se recusam a discutir cortes em emendas enquanto exigem ajuste fiscal. Ele elogiou a atuação do ministro do STF Flávio Dino, relator da análise sobre a constitucionalidade das emendas, e defendeu que o governo recorra ao Supremo para contestar a derrubada do decreto do IOF.

"É importante dizer: a derrubada do decreto foi inconstitucional. O aumento do IOF é prerrogativa exclusiva do Executivo", argumentou.

Diálogo com força

Apesar da crítica, Boulos reconheceu a importância de manter canais de diálogo com o Legislativo, dado o isolamento da base governista no Congresso. Contudo, defendeu que o Planalto adote uma postura mais ofensiva e mobilize a sociedade para enfrentar o que considera uma chantagem política.

"O governo precisa comprar a briga. O Congresso, o centrão e a direita vão ter que se explicar para a população se quiserem continuar protegendo os mais ricos e botando a conta nas costas do povo", concluiu.

Enquanto a disputa política se intensifica, a base aliada do presidente Lula corre contra o tempo para evitar que uma de suas principais promessas perca a validade e se torne mais uma baixa na relação com o Congresso.

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