Política

Urubus de olho na carniça de Bolsonaro

Sete governadores de direita sobem ao palanque com Bolsonaro em ato por anistia e expõem disputa pela herança política do ex-presidente


Monstagem pensarpiaui Urubus de olho na carniça de Bolsonaro
Os governadores não estavam lá por solidariedade

O ato convocado por Jair Bolsonaro neste domingo (6), na Avenida Paulista, foi, mais uma vez, uma tentativa descarada de reescrever a história — ou melhor, de apagar um crime. Ao lado de sete governadores de direita, o ex-presidente pediu anistia para os golpistas do 8 de janeiro de 2023, como se a invasão criminosa aos três Poderes fosse apenas um mal-entendido patriótico.

Mas a imagem dos sete governadores alinhados a Bolsonaro diz mais do que qualquer discurso. Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União-GO), Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Junior (PSD-PR), Jorginho Mello (PL-SC), Wilson Lima (União-AM) e Mauro Mendes (União-MT) não estavam ali em nome da paz ou da reconciliação nacional. Estavam lá por puro cálculo eleitoral. O que vimos foi uma disputa por espaço no vácuo deixado por um líder que hoje caminha para a inegibilidade e para o banco dos réus.

Não houve comoção genuína, nem solidariedade autêntica. O que houve foi oportunismo. Tarcísio, o pupilo obediente, sabe que seu projeto político depende da bênção de Bolsonaro e tenta manter vivo o elo com a base mais fiel do bolsonarismo. Já Caiado, que lançou sua pré-candidatura à Presidência sem pedir licença, apareceu como quem tenta agradar, mesmo depois de ter desafiado o chefe — um aceno dúbio de quem teme ser banido do círculo ultraconservador. Ratinho e Zema, por sua vez, sonham com o Planalto, mas sabem que não têm densidade política nacional. Apostam no colapso interno da extrema direita para herdar alguma sobra. E Wilson Lima? Esse quer sobreviver no Amazonas, onde a polarização com senadores como Aziz e Braga exige que ele escolha um lado — e escolheu o do golpismo.

Já Jorginho Mello e Mauro Mendes dispensam explicações: são bolsonaristas raiz, seguidores leais até o fim, mesmo que esse fim os leve ao esvaziamento institucional completo.

A defesa da anistia, travestida de discurso de paz, é uma afronta ao Estado de Direito. Não há democracia que sobreviva ao perdão de crimes contra ela própria. A tentativa de transformar golpistas em vítimas é, além de desonesta, perigosa. E ao evocar leis coloniais como justificativa para o perdão, Tarcísio apenas revela o quanto está disposto a retroceder — não só na História, mas nos princípios básicos que sustentam uma República.

Em um momento em que o Brasil colhe frutos de uma reconstrução democrática – com geração de mais de 2,2 milhões de empregos, crescimento dos investimentos públicos e a maior redução da fome em uma década – o que se espera dos líderes eleitos é compromisso com a Constituição e o Estado de Direito, e não conivência com golpistas por oportunismo eleitoral.

Não se trata aqui de esquerda contra direita. Trata-se de civilização contra barbárie. O país precisa de líderes que tenham coragem de defender a Constituição mesmo quando isso significa contrariar suas bases eleitorais. O que vimos na Paulista foi o contrário: governadores que preferiram se ajoelhar diante de um homem que desprezou a democracia, que tentou fraudar as eleições, que instigou o caos, e agora pede perdão como se fosse ele a vítima.

O STF e o sistema de Justiça têm o dever de manter a serenidade e aplicar a lei. A anistia não é um gesto de conciliação, mas um convite à reincidência. O Brasil não pode, sob nenhuma hipótese, repetir os erros do passado e abrir as portas para que novos ataques aconteçam. Quem atenta contra a democracia deve ser punido. E quem defende criminosos em troca de dividendos eleitorais deve ser exposto.

É preciso dizer com todas as letras: o palanque da Paulista foi o palanque da impunidade. E quem sobe nele, o faz contra a democracia. Quem subiu nele foram urubus de olho na carniça de Bolsonaro. 

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