Cultura

Uma história de São João

Meninos brincando de roda, velhos soltando balão, moços em volta à fogueira, brincando com o coração! Eita, São João dos meus sonhos...


Uma história de São João
Meninos brincando de roda, velhos soltando balão, moços em volta à fogueira, brincando com o coração! Eita, São João dos meus sonhos...

Por Paulo Vanderley, historiador da vida de Luiz Gonzaga, no facebook

Era noite de São João de 2011, no interior da Bahia. Já estávamos há mais de uma semana na estrada, acompanhando a turnê de Dominguinhos. Saímos de uma cidade rumo a outra. Eu dirigindo, o mestre ao meu lado, meu maior ídolo, amigo querido, ali tão perto e tão sereno. Suzana, Ana Paula e o pequeno Paulinho vinham no banco de trás, enquanto os músicos seguiam noutro carro.

Naquela conversa boa de viagem, falávamos das histórias com Gonzaga, das criações, das coisas simples do dia a dia. E fiquei pensando: qual música ele abriria o show naquela virada pro dia 24 de junho? E me veio “Noites Brasileiras” na cabeça.

Ai, que saudade que eu sinto das noites de São João…

Pensei em sugerir, mas me calei. Não quis quebrar o encanto da estrada, nem me meter no repertório do mestre.

Lá fora, o colorido das bandeirinhas começava a surgir, os fogos truando. Mas dentro do carro, era só aquele silêncio aconchegante, embalado pelas histórias de Dominguinhos.

Chegamos. Bastidores cheios de abraço, cheiro de comida boa, fãs chegando. Paulinho, pequenino, dormia no colo de Suzana e nem acordou. E foi nesse clima, com a alma aquecida, que Dominguinhos subiu ao palco.

Ana Paula, com 11 anos, fez esse retrato. Na época, já arranhava uns acordes na sanfona, e Dominguinhos brincava dizendo que ela era a pequena sanfoneira-fotógrafa. Foi ali que ela clicou seu Dominguinhos diante das bandeirinhas.

Na hora, era só mais um registro de viagem, desses que a gente tira sem imaginar o tamanho da lembrança. Mas aquele clique seguiu seu próprio caminho: virou encarte de disco, ilustrou livros, ocupou paredes de museus... E hoje, na parede da sala da nossa casa, é como se Dominguinhos estivesse sempre ali, sorrindo por trás das bandeirinhas.

E a primeira música?

“Noites Brasileiras”, de Gonzaga e Zé Dantas.

Sem que eu dissesse uma palavra. Como se ele tivesse lido meu pensamento na estrada.

Saudade danada daqueles dias. Daqueles caminhos. Daquela voz.

Que neste São João a gente celebre tudo isso:

Meninos brincando de roda

Velhos soltando balão

Moços em volta à fogueira

Brincando com o coração

Eita, São João dos meus sonhos…


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