Política

"Tarcísio é um canalha homenageando outro canalha", diz Alex Solnik

Jornalista afirma que Erasmo Dias não foi condenado porque foi anistiado


Foto: DivulgaçãoErasmo e Tarcisio
Erasmo e Tarcisio

247 - O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), enviou uma defesa ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (4), reiterando seu apoio à lei que promulgou uma homenagem ao coronel Erasmo Dias, figura notória da ditadura militar, segundo informa o jornalista Guilherme Seto, da coluna Painel, da Folha. No documento, o governador argumentou que Erasmo Dias nunca foi condenado judicialmente e que sua trajetória incluiu três mandatos como deputado estadual, todos conquistados democraticamente.

Segundo Tarcísio de Freitas, "o homenageado foi deputado estadual por três legislaturas —1987/1991, 1991/1995 e 1995/1999— tendo sido eleito democraticamente e não se tendo qualquer notícia de condenação judicial por atos praticados por sua vida pública pregressa."

No entanto, a trajetória de Erasmo Dias e de outros militares que participaram da ditadura militar foi marcada pela Lei da Anistia, promulgada em 1979, que concedeu impunidade aos crimes cometidos durante o período repressivo. A homenagem gerou polêmica devido ao histórico do coronel, que comandou a invasão na PUC de São Paulo em setembro de 1977, uma das últimas grandes operações do regime militar contra o movimento estudantil. Na ocasião, centenas de estudantes foram detidos e processados com base na Lei de Segurança Nacional, acusados de subversão.

Alex Solnik

O jornalista Alex Solnik reagiu com indignação à resposta do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a lei que promulgou uma homenagem ao coronel Erasmo Dias, figura notória da ditadura militar. 

Em participação no Bom Dia 247, da TV 247, nesta terça-feira (5), Solnik explicou que Erasmo Dias, assim como muitos outros nomes da ditadura militar, não foi condenado porque se beneficiou da anistia. O jornalista ainda disparou contra Tarcísio: "é um canalha homenageando outro canalha".

Ele também cobrou uma resposta dura da Assembleia Legislativa de São Paulo ao governador. “Nenhum torturador foi condenado. Médici não foi condenado. O Ustra foi condenado? O Ustra morreu e depois teve uma condenação. Nada… Ninguém foi condenado. Então o contexto dessa história é o seguinte: a ministra Cármen Lúcia, instada por políticos do Psol, do PT, perguntou ‘por que o senhor está homenageando o Erasmo Dias?’. E a resposta do Tarcísio: ‘é porque ele nunca foi condenado’. Isso é um canalha, um canalha homenageando outro canalha. Ninguém da ditadura foi condenado. Todo mundo foi anistiado. Eu quero saber por que a Assembleia Legislativa de São Paulo está quieta. Onde está a oposição ao Tarcísio? Onde estão os deputados que a população elegeu? Não dizem nada".

Marcia Tiburi

Sobre este episódio a professora de filosofia Marcia Tiburi escreveu: Tarcísio é o novo Bolsonaro, como Bolsonaro foi o novo Ustra. Veja:

Erasmo Dias é um nome muito conhecido dos paulistanos por ter participado de programas de televisão nos quais gritava preconceitos e conservadorismo. Tornou-se deputado com seus espetáculos de ódio, mas morreu no esquecimento não tendo feito nada de bom que deixasse seu nome para a posteridade. Autoritarismo era o seu negócio. E a perseguição a estudantes também. Ele foi o coordenador da invasão na PUC de São Paulo em 1977 visando o movimento Liberdade e Luta (Libelu). Nessa ocasião, mais de mil estudantes foram presos e muitos levados à tortura. Dizem que ele era o homem que sabia “lidar”com os que morriam nas dependências do DOI-Codi. Ele gostava de perseguir estudantes e em 1968, participou do cerco aos integrantes do 30º Congresso da UNE em Ibiúna. Ele foi um dos mais ferrenhos defensores do “suicídio” do jornalista Vladimir Herzog.

No documentário de Diógenes Muniz  Libelu – Abaixo a Ditadura pode-se ver muito mais.

Agora Tarcísio Freitas vem desenterrar essa figura grotesca, que carregava o riso do carrasco no rosto, homenageando o carrasco como se ele fosse um herói. Qual o objetivo do governador de São Paulo? Fazer o mesmo que Bolsonaro em 17/04/2016, quando ao votar pelo golpe (o paradoxo demorou a ser entendido) elogiou Brilhante Ustra, um torturador condenado por seus crimes hediondos.

Tarcisio é o novo Bolsonaro, como Bolsonaro foi o novo Ustra. Bolsonaro torturou psíquicamente a nação através das ameaças relacionadas à perda de direitos. Ele instaurou o pavor através do elogio da tortura e, depois, do deboche sobre a morte. Mas torturou também fisicamente usando no lugar dos tradicionais instrumentos como eram eletrochoques e pau de arara, o vírus da COVID.

O que temos a ver com isso? Estar sob o governo de Tarcísio é o mesmo que estar sob o governo de Bolsonaro, simples assim, mas também lastimável e perigoso.  Quem vota em figuras autoritárias, vota em seus projetos e é signatário de seus atos. A luta contra o fascismo tem que continuar e para isso é preciso consolidar a democracia em cada gesto e evitar que ela seja usada como fachada como Tarcísio está fazendo agora.

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