Sambódromo do Rio, 40 anos: visão educacional, projeto de Niemeyer e oposição da Globo
Espaço inaugurado em 1984 como palco fixo do carnaval carioca foi idealizado por Darcy Ribeiro também como local de escolas
A Porto da Pedra, de São Gonçalo, na região metropolitana, abre o desfile do grupo principal no Rio de Janeiro, na noite deste domingo (11). As 12 escolas que se apresentarão, em dois dias, estarão também celebrando o 40º aniversário da própria passarela. O Sambódromo, na rua Marquês de Sapucaí, foi inaugurado em tempo recorde em março de 1984, com oposição da emissora que hoje faz as transmissões oficiais.
Com 700 metros de extensão para os desfiles (e 13 metros de largura), o Sambódromo foi construído em frente a uma antiga fábrica da cervejaria Brahma, a primeira do Rio, datada de 1888, no bairro do Catumbi. Em 2011, o prédio foi demolido depois de ser “destombado”, sob críticas de órgãos de defesa do patrimônio histórico. Com isso, as instalações da passarela do samba foram ampliadas de 60 mil para 72.500 pessoas.
Projetos de Niemeyer
A construção da passarela do samba em 1984, concluída em 120 dias, acabou com a era das arquibancadas móveis – que, segundo se dizia, eram portas abertas para a corrupção. Até então, os desfiles, bem mais modestos, ocorriam em áreas como a Praça Onze ou a Avenida Rio Branco, além da própria Sapucaí. Isso aconteceria também em São Paulo, que ganhou seu Sambódromo em 1991, no Anhembi. Antes, as escolas se apresentavam na avenida Tiradentes, também na zona norte.
Nos dois casos, os projetos foram de autoria de Oscar Niemeyer. No Rio, a ideia do professor e antropólogo Darcy Ribeiro era fazer da área não apenas um espaço de carnaval, mas um equipamento urbano educacional, com dezenas de salas de aula. Dessa forma, seriam políticas públicas envolvendo, ao mesmo tempo, cultura e educação. Darcy Ribeiro era vice-governador, na gestão de Leonel Brizola, sempre um alvo preferencial das Organizações Globo.
O cemitério e a passarela
O jornal O Globo fustigou o governo estadual, questionando a obra e seu principal responsável. A campanha incluiu uma charge que comparava Brizola ao lendário Odorico Paraguaçu, personagem da novela O Bem-Amado! vivido por Paulo Gracindo. Era prefeito de Sucupira e tentava a todo custo inaugurar o cemitério municipal, principal obra da sua gestão. O problema é que ninguém morria na cidade.
Em 1984, pela primeira vez o desfile das escolas foi dividido em duas noites, por sugestão da associação que reunia as agremiações. Ficou decidido que em cada noite seria declarada uma campeã – Portela e Mangueira foram as vencedoras. Houve ainda um “super campeonato”, que terminou com vitória da verde-rosa, em homenagem a Braguinha.
Sem Cieps, sambas imortais
Curiosamente, hoje é a Globo que faz as transmissões do carnaval carioca. Mas, na inauguração do Sambódromo, quem apresentou os desfiles foi a recém-criada TV Manchete, já extinta. A Globo teria declinado por “questões técnicas”. Em livro, o executivo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho chegou a dizer que a Globo foi passada para trás.
Os Cieps (escolas de tempo integral) que funcionavam no Sambódromo deixaram de funcionar, esvaziando parte do projeto original idealizado por Darcy Ribeiro. Ficam as histórias contadas pelo sambistas. Como em 1988, quando a Vila Isabel levou o título – o primeiro – com Kizomba, festa da raça, criado por Martinho da Vila. Ou o Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós!, da Imperatriz, no ano seguinte. E ainda Peguei um Ita no Norte, do Salgueiro (“Explode coração, na maior felicidade…”), em 1993. Outro bastante lembrado é História pra ninar gente grande (Mangueira, 2019). Assim como Gosto que me enrosco (Portela, 1995).
Olhai por nós
Assim, também em 1989, o carnavalesco Joãosinho Trinta e a Beija-Flor ousaram com Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia, pondo mendigos na avenida. E até um Cristo Redentor em farrapos, coberto por lona, diante da reação da Arquidiocese do Rio, que conseguiu uma proibição judicial. “Mesmo proibido, olhai por nós”, dizia uma faixa.
Um palco também de personagens, como a carnavalesca Rosa Magalhães, que tem seis títulos conquistados. Ou o gari-passista Renato Sorriso, famoso por mostrar sua coreografia na avenida – em 2023, completou 25 anos de “desfile” no Sambódromo. Nos outros dias, segue varrendo as ruas no bairro da Tijuca. E o carnaval cede espaço ao business.
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