Política

Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle Franco, irá depor pela primeira vez no STF

Esse será o primeiro depoimento de Lessa desde a homologação de sua delação premiada


Montagem Pensar Piauí Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle Franco, irá depor pela primeira vez no STF
Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle Franco

Após 10 dias de sessões da audiência de instrução e julgamento do homicídio da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, no Supremo Tribunal Federal (STF), o depoimento mais aguardado finalmente acontecerá nesta semana: o do ex-sargento da Polícia Militar Ronnie Lessa. A expectativa é que o assassino confesso da parlamentar fale pela primeira vez desde a homologação de sua delação premiada, na próxima terça-feira (27/08). Em seguida, será ouvido outro colaborador, compadre e cúmplice de Lessa no crime, o também ex-policial Élcio de Queiroz, que conduziu o carro durante o ataque contra a vereadora, há seis anos.

A expectativa é grande em relação ao que Ronnie Lessa dirá diante da Procuradoria-Geral da República, dos assistentes de acusação das vítimas e das defesas dos réus: os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão — conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) e deputado federal, respectivamente —; o ex-chefe de Polícia Civil, Rivaldo Barbosa; Robson Calixto Fonseca, conhecido como Peixe; e o major Ronald Paulo Alves Pereira. De acordo com as investigações da Polícia Federal, os três primeiros são apontados como mandantes do duplo homicídio.

Élcio de Queiroz e Lessa fizeram acordos de delação premiada com a Polícia Federal e o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ). Como Lessa mencionou o nome do deputado federal Chiquinho Brazão, que tem foro privilegiado, o caso passou a ser julgado pelo STF, com a Procuradoria-Geral da República acompanhando o processo. Nos últimos 10 dias, as sessões da audiência de instrução e julgamento, uma fase crucial tanto para a defesa quanto para a acusação, permitiram esclarecer muitos pontos e questionar as investigações diretamente com as testemunhas.

Nas últimas duas semanas, foram ouvidas nove testemunhas de defesa: a sobrevivente Fernanda Chaves; o assessor de Marielle Franco, Arlei Assucena; o delegado da Polícia Federal Guilhermo Catramby; os agentes federais Marcelo Pasqualetti e Felipe José Alves; o delegado Brenno Carnevale; o ex-PM Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando Curicica; Otacílio Antônio Dias Júnior, conhecido como Hulkinho; e Rosimére Santiago, viúva de um homem que comercializava passarinhos e conhecia Chiquinho, Lessa e Edmilson Oliveira da Silva. Este último foi apontado pelo assassino confesso como a pessoa que intermediou a negociação para a execução da parlamentar.

As sessões foram intensas e, em alguns momentos, tensas, como durante o depoimento do agente federal Felipe José. O advogado Cléber Lopes, que defende Chiquinho Brazão, chegou a declarar que iria arguir a suspeição da testemunha, alegando que o policial estava sendo parcial nas respostas. No entanto, o desembargador Airton Vieira, que preside a sessão, interveio e afirmou que o objetivo da testemunha era esclarecer a investigação. O procurador da República, Olavo Evangelista Pezzotti, fez a mesma ponderação, e os ânimos se acalmaram.

O término do depoimento do agente Felipe José está previsto para a tarde desta segunda-feira (26/08), quando as defesas do delegado Rivaldo Barbosa e do major Ronald Paulo farão suas perguntas à testemunha. Na sessão da última sexta-feira (23/08), foi acordado que, devido à expectativa em torno do depoimento de Lessa, ele seja ouvido a partir das 13h desta terça-feira, para ter mais tempo para prestar esclarecimentos. No entanto, todos sabem que a testemunha deva levar mais de dois dias depondo.

Durante os 10 dias de depoimentos, observou-se que as defesas fizeram perguntas relacionadas à ligação de Ronnie Lessa com o ex-bombeiro Cristiano Girão, que chegou a ser investigado como mandante pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) e pelo Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ. No dia 18 de março de 2018, quando Marielle Franco e Anderson Gomes foram assassinados, Girão passou mais de 10 horas em uma churrascaria na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

O ex-bombeiro foi citado no relatório da CPI das Milícias, de 2008, presidida pelo então deputado estadual Marcelo Freixo, que era do PSOL, assim como Marielle, que foi sua assessora. Às vésperas do duplo homicídio, Girão visitou a Câmara dos Vereadores, chegando a ir ao gabinete de Chiquinho Brazão, que, na época, era vereador, mas não estava no local. O álibi de Girão, que morava em São Paulo, foi o de que tinha uma consulta da esposa marcada no Centro do Rio e decidiu visitar amigos na Câmara justamente na semana do crime. Sobre o longo tempo na churrascaria, na data da execução, afirmou que estava fechando negócios com um empresário paulista. Chamou a atenção dos investigadores, na época, o fato de ambos terem saído de São Paulo para se encontrarem no Rio.

Marcelo Ferreira, advogado de Rivaldo Barbosa, disse que a expectativa da defesa é que o delator mantenha a versão apresentada na colaboração:

— Nossa expectativa é que ele mantenha a narrativa mentirosa, talvez agora com algum acréscimo decorrente das informações às quais teve acesso ao longo da instrução. Ele é psicopata e inteligente, ao ponto de ter conduzido os investigadores da PF, assim como o boiadeiro conduz a boiada. E fará tudo para manter a validade da sua delação premiada, pois, do contrário, terá de cumprir muito mais do que os míseros 12 anos de reclusão que lhe restam — afirmou Ferreira.

Marcio Palma, defensor de Domingos Brazão, foi no mesmo Tom:

— A Defesa não tem qualquer expectativa quanto ao depoimento do sicário que matou Marielle e Anderson, assassino que, sem provas e credibilidade, após disparar friamente contra a vereadora, busca benefícios enquanto proteje aqueles que sempre financiaram suas empreitadas criminosas — afirmou

Os advogados Cléber Lopes, que defende Chiquinho, e Igor Carvalho, defensor de Ronald Paulo, disseram que não irão se pronunciar sobre o assunto. Gabriel Habib, defensor de Robson Calixto, não respondeu.

Saulo Augusto Carvalho Santos, que orientou o delator Ronnie Lessa nas tratativas para o acordo de colaboração premiada, preferiu não se manifestar a respeito, devido ao segredo de justiça que lhe foi imposto.

Com informações do Agenda do Poder 

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