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Protesto não é crime: Governo Trump transforma imigrantes em inimigos internos

Trump escala conflito na Califórnia e transforma protestos em confronto militarizado


Reprodução Protesto não é crime: Governo Trump transforma imigrantes em inimigos internos
Trump escala conflito na Califórnia e transforma protestos em confronto militarizado

Os Estados Unidos vivem uma nova escalada de tensão entre o governo federal e autoridades locais da Califórnia, em meio a uma série de protestos contra as operações de imigração promovidas pelo ICE (Serviço de Imigração e Alfândega). O presidente Donald Trump autorizou o envio de 2.000 soldados da Guarda Nacional ao condado de Los Angeles, uma ação que reacende temores sobre o uso político das Forças Armadas em solo nacional e revela o aprofundamento do autoritarismo em seu segundo mandato.

A decisão foi anunciada no sábado (7) após violentos confrontos na cidade de Paramount, onde centenas de manifestantes se reuniram nas proximidades de uma loja Home Depot, temendo mais uma batida migratória. Embora o ICE negue operações no local, a repressão foi imediata: gás lacrimogêneo, balas de borracha e detenções em massa. As imagens lembram zonas de guerra, não uma democracia em funcionamento.

Trump, em seu habitual estilo inflamatório, declarou nas redes sociais que “saques e distúrbios” estavam fora de controle e que o governador Gavin Newsom e a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, “não conseguem fazer seus trabalhos”. Em tom ameaçador, afirmou que seu governo “resolverá o problema... da maneira que deve ser resolvido”.

A retórica beligerante da Casa Branca encontrou eco nas falas do ex-diretor do ICE, Tom Homan, que prometeu “reagir contra essas pessoas”, e no vice-presidente JD Vance, que classificou os manifestantes como “insurrecionistas com bandeiras estrangeiras”. O secretário de Defesa, Pete Hegseth, foi além: alertou que os fuzileiros navais estão prontos para serem mobilizados se a violência continuar. Trata-se de uma das declarações mais graves desde a década de 1990 em termos de militarização de conflitos internos.

Enquanto isso, a resposta das autoridades locais foi marcada pela perplexidade e resistência. O governador Newsom acusou o governo federal de buscar “um espetáculo” e de “semear o caos” para justificar o envio de tropas. “Isso não é o comportamento de um país civilizado”, declarou. A prefeita de Paramount, Peggy Lemons, criticou a ausência de diálogo com os municípios, enquanto Karen Bass condenou as táticas do ICE como formas de terror contra comunidades imigrantes.

Organizações de direitos civis, como a CHIRLA, denunciaram a falta de acesso a detidos e a brutalidade das operações, que atingiram vendedores ambulantes, trabalhadores têxteis e imigrantes em situação precária. A prisão do líder sindical David Huerta, acusado de obstrução, só aumentou a indignação.

O Departamento de Segurança Interna (DHS) alegou um aumento de 413% nos ataques a agentes e citou a prática de doxxing contra familiares de oficiais. O número de prisões em uma semana ultrapassou 100, segundo o governo. Mas a forma como essa repressão tem sido conduzida levanta sérias questões sobre proporcionalidade, direitos civis e manipulação política.

O que se observa não é apenas mais um episódio na longa disputa sobre política migratória nos EUA, mas uma grave erosão do pacto federativo e do respeito aos princípios constitucionais. Trump opta pela força em vez do diálogo, criminaliza o protesto e acena com o uso do Exército como força de contenção interna — uma linha perigosa que ameaça empurrar o país para um abismo autoritário.

Em vez de buscar soluções para a crise migratória, o governo parece interessado em fomentar o medo, dividir o país e fazer da repressão uma plataforma eleitoral. Em seu segundo mandato, Trump não apenas dobra a aposta: ele militariza o dissenso, reprime os vulneráveis e desafia as bases democráticas da nação.

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