Política

Privatização de praias dá surra no bolsonarismo com sua própria estratégia. Por Leonardo Sakamoto

O assunto furou a bolha da polarização política, segundo levantamento da FGV


Privatização de praias dá surra no bolsonarismo com sua própria estratégia. Por Leonardo Sakamoto
Flávio Bolsonaro quer as praias privatizadas

O bolsonarismo está levando uma surra nas redes ao defender a proposta de emenda à Constituição que trata do controle de regiões costeiras e que pode limitar o acesso de turistas e comunidades tradicionais a praias. Ela está hoje sob a relatoria do senador Flavio Bolsonaro.

Ironicamente, eles estão sofrendo com o uso bem-sucedido de uma estratégia que lhes é bastante familiar: pegar um caso complexo, traduzir em uma ideia simples e rapidamente replicável ao grosso da população e bombar nas redes e aplicativos de mensagens. A ideia, neste caso, é a privatização do acesso às praias.

O UOL trouxe que o senador tem perdido o debate nas redes após redigir parecer favorável à PEC que transfere terrenos em área urbana a estados, municípios e proprietários privados. O assunto furou a bolha da polarização política, segundo levantamento da FGV.

Quanto mais simples o conceito, melhor a mensagem consegue ser passada e mais facilmente ela é absorvida. Isso vale para a publicidade de produtos ou de ideias. Não raro, setores da esquerda querem fazer um tratado ao explicar um ponto à população e falam apenas com a sua bolha.

Diante disso, a questão da privatização do acesso vem viralizando como rastilho de pólvora, gerando indignação. O senador e seus aliados estão gastando saliva para tentar explicar que as faixas de areia não serão vendidas. Mas a sua argumentação, além de mais complicada que a ideia presente na acusação, é rapidamente retrucável.

A proposta não vende faixas de areia, mas abre brechas a quem ocupa suas margens de limitar o acesso a elas - o que, na prática, tem resultado semelhante para o turista, que pode ver dificultada sua entrada em um local controlado por um resort, por exemplo. Isso sem contar os problemas a pescadores, caiçaras e ribeirinhos, que moram, trabalham e, por isso, protegem o meio ambiente local, que podem ser impedidos de fazer isso.

Praias são o espaço mais democrático, em que ricos têm que engolir os pobres a seu lado. É coerente que, depois de atacar instituições democráticas durante anos o bolsonarismo esteja defendendo um projeto que abre brechas antidemocráticas. E irônico que ele esteja padecendo do próprio remédio.

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