Religião

Padre Robson: romances e extorsões

Dois supostos casos amorosos do Padre o fizeram aceitar as chantagens

  • terça-feira, 25 de agosto de 2020

Foto: Correio BrasiliensePadre Robson
Padre Robson

Com informações do G1

Foram dois supostos casos amorosos do Padre Robson que os hackers usaram para extorquir o pároco, segundo depoimentos colhidos pela Justiça junto ao Ministério Público de Goiás e à Polícia Civil, que investigaram o caso. Como resultado da extorsão o padre pagou R$ 2,9 milhões com dinheiro da Associação dos Filhos do Divino Pai Eterno (Afipe).

Hacker é alguém que tem conhecimento suficiente de informática para acessar informações de outras pessoas. Pode fazer isso por meio da invasão de computadores ou de dados fornecidos por usuários para sites falsos.

Do montante de R$ 2,9 milhões, o MP afirma que a associação ficou no prejuízo em R$ 1,2 milhão, quase a metade da quantia. Já a defesa do padre, afirma que o valor usado nos pagamentos foi recuperado e está depositado em conta judicial, aguardando liberação para retornar às contas da Afipe

Padre Robson comandava a Basílica do Divino Pai Eterno em Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia, capital de Goiás. Ele está afastado das atividades religiosas após decisão do arcebispo metropolitano Dom Washington Cruz que suspendeu temporariamente o direito de padre Robson de realizar celebrações.

Um dos relacionamentos amorosos apontados pelo juiz Ricardo Prata na decisão seria com o próprio hacker que invadiu os celulares e e-mails do padre. Ele foi identificado como Welton Ferreira Nunes Júnior.  O magistrado narra no documento que a informação foi realçada pelos hackers à época do processo de julgamento. Welton e mais quatro pessoas envolvidas no esquema de chantagem foram condenadas, com penas que variam de 9 a 16 anos de prisão, em 2019. “Disseram os acusados que a vítima possuiria relacionamento amoroso com diversas pessoas, inclusive com o próprio Welton", diz o magistrado.

O documento traz um segundo romance usado no esquema da chantagem. Em depoimentos ao Ministério Público, um policial civil que estava na investigação e uma pessoa próxima ao padre disseram que os hackers encontraram uma foto dele com uma mulher e uma conversa relatando situações amorosas.

"Ele [Robson] me mostrava [mensagens]. Um dos vídeos, um deles né, parece que era um vídeo gravando a tela de outro celular, onde tinha uma foto do padre com a [mulher] próximos um ao outro, e suposta troca de mensagens amorosas, né?", relatou a pessoa ao MP. A existência da foto foi confirmada posteriormente pelo hacker em depoimento ao Ministério Público. "Tinha foto dele com uma moça. Ela falando da data do primeiro encontro dele, essas coisas", narra o hacker.

O juiz Ricardo Prata afirma que as ameaças intimidaram padre Robson a ponto de ele efetuar pagamentos de expressivos valores para fazer a vontade dos chantagistas.

As extorsões começaram no dia 24 de março de 2017. Um hacker, sob a alcunha de "Detetive Miami", enviou um e-mail ao religioso pedindo R$ 2 milhões para não revelar informações pessoais dele, entre elas, um suposto caso amoroso do padre.

O padre, então, acreditando ser um golpe, por alegar "serem inverídicas as informações apresentadas", passou a dialogar com o suspeito. Robson contatou a polícia e acordou, "dissimuladamente", a entrega de R$ 700 mil.

A ação foi feita sob a supervisão da polícia, que autuou parte dos envolvidos, os levou para a delegacia e depois os liberou. Os hackers diziam que se não recebessem o dinheiro, entregariam as mídias à imprensa e ao Vaticano.

Uma mulher, considerada o braço direito do padre Robson, foi quem entregou maços de dinheiro em uma camionete estacionada em um shopping de Goiânia como parte dos pagamentos combinados com os hackers.

Como o plano não deu certo, os hackers continuaram a se comunicar com o padre exigindo dinheiro. Diante da situação, seis dias depois, eles voltaram a cobrar os R$ 2 milhões. Conforme o MP, a "vítima sucumbiu às extorsões recebidas e passou a realizar diversos pagamentos aos denunciados, ora sem e ora com o conhecimento da Polícia".

O valor acabou sendo bloqueado pelo banco. Então, os hackers passaram a cobrar novamente o padre, de acordo com o processo.

Em 13 de abril, eles acordaram o pagamento de R$ 500 mil "até que fosse resolvida a liberação do dinheiro transferido via transferência bancária". O dinheiro seria deixado dentro de um carro na frente de um condomínio fechado.

Não satisfeitos, os suspeitos ainda acertaram um depósito de R$ 80 mil em 5 de maio. O último acordo foi feito a partir de 12 de maio. Conforme o MP, como o montante de R$ 2 milhões seguia bloqueado, o padre "aceitou fazer o pagamento de R$ 300 mil reais de forma parcelada".

Os repasses só cessaram no final de junho, quando o hacker que comandava o esquema foi preso no Rio de Janeiro.


 

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