Política

“Os Bolsonaros representam ideologicamente a milícia", diz pesquisador

Bruno Paes Manso, da USP, traça a relação íntima dos Bolsonaros com milicias que tomaram o poder no Rio de Janeiro a partir de Rio das Pedras

  • segunda-feira, 26 de abril de 2021

Foto: Montagem pensarpiauíOs Bolsonaros

Fórum - Autor do livro "A República das milícias: dos esquadrões da morte à era Bolsonaro (Editora Todavia)", o jornalista Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP), desvendou na obra toda a ligação íntima do clã presidencial com os grupos milicianos e diz que a família Bolsonaro sempre foi a representante ideológica dos policiais que passaram, a partir da comunidade de Rio das Pedras, a usar a violência para ocupar o vácuo de poder deixado por traficantes no Rio de Janeiro.

“Os Bolsonaros sempre foram os representantes ideológicos dos grupos milicianos. Eles podem não ter uma ligação direta com os grupos que fazem negócios nestas comunidades, mas sempre fizeram discursos favoráveis a eles”, disse Manso em entrevista ao El País.

Reportagem de Sérgio Ramalho no site The Intercept Brasil nesse sábado (24) revela que escutas telefônicas da investigação sobre Adriano da Nóbrega, que comandava o chamado “Escritório do Crime” – braço de extermínio ligado à milícia de Rio das Pedras – mostram que milicianos teriam feito contato com uma pessoa identificada como “Jair”, “cara da casa de vidro” e “presidente” após a morte do ex-capitão do Bope em uma ação da polícia da Bahia no dia 9 de fevereiro de 2020. Casa de vidro seria referência ao Palácio do Planalto

Segundo o pesquisador, existem afinidades ideológicas entre o clã Bolsonaro e os milicianos “principalmente quanto ao uso da violência como ferramenta para estabelecer ordem nesses lugares”.

Paes Manso conta em seu livro a importância do amigo de décadas de Bolsonaro, Fabrício Queiroz, na articulação principalmente dos filhos do presidente com policiais ligados às milícias.

“Ele era a pessoa que fazia a ponte da família com a base eleitoral da Polícia Militar, da Polícia Civil, com policiais da zona oeste, e com os familiares dessas pessoas”, diz sobre Queiroz, que atuou no batalhão da PM em Jacarepaguá, que sempre foi muito ligado aos grupos milicianos.

“Quando começa a crise política pós-junho de 2013, com a Operação Lava Jato e tudo o mais, o discurso do Bolsonaro de guerra à corrupção e uso de violência começa a fazer sentido para um grupo maior de pessoas, não mais apenas para o nicho representado por Queiroz”, diz o jornalista, que relata que, a partir de então, Queiroz se tornou “peça burocrática no gabinete [de Flávio Bolsonaro, na Alerj], responsável por organizar a rachadinha”.

Na entrevista, Paes Manso ainda sinaliza os motivos de Bolsonaro apostar sempre no caos para se manter no comando, seja dos grupos ligados às milícias ou na Presidência.

“Quanto mais desacreditadas as instituições, mais força ganham estes grupos, pois passam a ser fiadores da ordem nos territórios. Se você não tem para onde correr, estes grupos oferecem alguma proteção. E claro, impõe um domínio tirânico”, diz ele, sobre o terro imposto pela milícia para comandar.

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