O eurocentrismo no futebol
Times brasileiros surpreendem na Copa de Clubes 2025, expõem viralatismo da mídia esportiva

Por André Lobão, colunista, na Fórum
Após os primeiros resultados da Copa Mundial de Clubes 2025, que está sendo realizada no EUA, a mídia esportiva brasileira, que atua nos grandes veículos de comunicação, está sendo colocada na berlinda, principalmente, após os resultados dos times brasileiros que não perderam até o momento nenhuma partida contra times europeus, e pela vitória do Botafogo, por 1x0, sobre o "bicho papão" francês, PSG.
Antes do torneio oficial da Fifa, analistas e comentaristas esportivos brasileiros exageraram nas previsões sobre os confrontos entre brasileiros e europeus, dando amplo favoritismo aos times do velho mundo, prevendo goleadas sobre os times brasileiros, como no caso da partida entre Botafogo e PSG.
Jornalistas consagrados e renomados expuseram o seu complexo de vira-latas, minimizando Botafogo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras.
Incialmente, após os empates entre Palmeiras x Porto (Portugal), que terminou em 0x0, mas com amplo dominio da equipe paulista, e de outro 0x0, entre Borussia Dortmund (Alemanha) e Fluminense, em que o time alemão foi literalmente amassado pelo tricolor carioca, os jornalista esportivos brasileiros começaram a justificar o domínio técnico e tático dos times das Américas sobre os "gigantes", por conta do desinteresse dos europeus na Copa do Mundo de Clubes, pelo simples fato destes estarem em fim de temporada, com alguns renomados articulistas considerando a competição de cunho "peculiar".
Como explicar o viralatismo esportivo?
Em uma transmissão do jogo entre Inter de Miami (EUA) X Porto, o craque Messi é a todo momento citado e focalizado pela transmissão oficial. Falta na entrada da área e Messi vai bater, o narrador cria o clima e Messi converte em gol. Em um grito, quase orgásmico, o narrador vibra em demasia.
Em outra partida, o treinador do PSG é focalizado a todo momento. "Luiz Henrique é um gênio do futebol, criou uma máquina de jogar bola!" , e por aí vai. Enquanto isso, Renato Gaúcho, técnico do Flu é retratado como um "boleiro" e "churrasqueiro", motivador apenas.
As explicações que podem ser consideradas plausíveis, para esse viralatismo: o grande número de torneios europeus com direitos de transmissão adquiridos por emissoras que atuam no Brasil como Champions League, Premier League (Campeonato Inglês), Liga Espanhola), Bundesliga (Campeonato Alemão), entre outras competições europeias.
Obviamente, por sugestões de seus patrões, esses especialistas se veem na obrigação de enaltecer o produto comprado.
Isso, de alguma forma, reproduz a ideia de globalização e neoliberalismo, que esvazia a autoestima cultural de um país. Ou seja, o que vem de fora é sempre melhor do que temos aqui no Brasil, revelando um pensamento colonial e periférico, em relação à "metrópole" europeia.
O futebol no Brasil é uma das referências principais da construção da identidade nacional, sendo motivo de orgulho ao povo brasileiro. Isso foi construído graças à massificação do rádio e televisão, exaltando times brasileiros, e principalmente, a seleção brasileira pelas suas conquistas. O neoliberalismo e a globalização estão sendo fundamentais na desvalorização e decadência da seleção brasileira. Se isso é intencional ou não, é outra questão. Mas o fato é que o futebol é a representação fiel de um sistema que espetaculariza e monetiza ao máximo qualquer esporte, e o futebol por sua força de mobilização popular não poderia estar fora disso.
Neste contexto, o menino de 10 anos já escolhe camisas de equipes como PSG, Manchester City, Real Madrid e Barcelona, em detrimento dos tradicionais times brasileiros. A torcidas organizadas reproduzem a cultura da violência e os cânticos dos ultras europeus.
Hoje, numa arquibancada brasileira, dificilmente se vê a presença das chamadas "charangas", bandas com instrumentos de sopro e baterias de escolas de samba, que davam a paisagem e identidade sonora do futebol brasileiro em outros anos. Atualmente, o que se escuta nos estádios são cânticos derivados de versões europeias, até com o uso de instrumentos musicais usados nos estádios de lá e da América do Sul.
Caso se conforme a boa atuação dos times brasileiros, ou até mesmo um antes improvável título da Copa do Mundo, será um verdadeiro soco na cara dos vira-latas. Agora é torcer para que a brasilidade volte a reinar nos estádios e, sobretudo, na mente de nossos articulistas esportivos.
O futebol é, e sempre será, a alma do povo brasileiro!
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