Eleições 2024

O "eu burro" nas eleições

Por Arnaldo Eugênio, doutor em antropologia


Reprodução O "eu burro" nas eleições
Cabine de votação

Por Arnaldo Eugênio, doutor em antropologia  

Após a leitura da obra “Billy Summers” (2021) de Stephen King, onde o protagonista sobrevive por agir de maneira que os outros pensem que tem pouca cultura e raciocínio limitado, fez-me pensar numa possível analogia com as disputas eleitorais municipais em 2024. Ou seja, o erro estratégico de muitos candidatos a prefeito e vereador, em busca de reeleição, será subestimar a inteligência do eleitor – que se fará de “eu burro”, “eu tolo” ou “eu bobo”.

Na obra, o escritor usou a ideia de que quando se subestima o inimigo se caminha para a derrota. Assim, criou para o protagonista um modo de agir e de falar que nomeou de “eu burro” – ele estava sempre lendo gibis e não livros, falando coisas inconsistentes, fazendo comentários pueris e, principalmente, chegando a conclusões ingênuas ou incongruentes sobre a realidade.

Numa analogia, nas eleições municipais de 2020, muitos candidatos a prefeito prometeram mundos e fundos irrealizáveis à população – estelionato eleitoral –, para se eleger a qualquer custo. Em 2024, em busca de reeleição, aqueles mesmos tentarão subestimar a inteligência do eleitor – que se fará de “eu burro” –, para manipular o resultado da eleição a seu favor. Porém, quando se subestima o outro (no caso, o povo) se caminha para uma derrota inevitável.

O comportamento intencional do personagem de Stephen King deu certo, passando a ser subestimado por quase todos. E tirou proveito disto, venceu diversas situações, sobrevivendo até a atentados contra a própria vida. Porém, na política, as coisas não funcionam tal qual na obra de ficção “Billy Summers” (2021), pois o eleitor que foi enganado e subestimado, em 2020, ficou com ego ferido. E, indubitavelmente, em 2024, se comportará como um “eu burro” ou “eu tolo”, para retirar os “enganadores” pelas urnas, derrotando-os numa espécie de “justiça política”.

Na ficção, de fato, é inteligente a estratégia do personagem “se proteger” sob o manto da “subestimação alheia”. E, na obra “Billy Summers” (2021), fica evidente como é fácil aproveitar-se de uma tendência que todos temos e, com algumas poucas atitudes e palavras, de alcançar as condições necessárias para ser subestimado e navegar socialmente sem chamar a atenção ou preocupação.

Todavia, na política, o mesmo não se aplicar ipsis litteris, pois existem outras variáveis que impedem o engano. Ou seja, aqueles prefeitos ou prefeitas que mentiram, engaram e traíram o povo com falsas promessas e muitas propostas irrealizáveis, apenas para se elegerem por meio de um estelionato eleitoral receberão nas urnas, em 2024, a “justiça política” – isto é, uns serão derrotados e outros, além disso, terão a carreira política encerrada (rejeição do eleitor).

Em uma analogia com o futebol, nas eleições municipais de 2024, o eleitor se fará de um “técnico eu burro”, que depois de sofrer com tantos enganos usou o tempo de identificar os craques, os medianos e os chamados pernas-de-pau ou os ruins de bola, para escalar o “time vencedor” que “leva o futebol a sério”. Isto é, muitos candidatos a prefeito e vereador, que pleitearão a reeleição, serão banidos da política, para o bem-estar da população e da cidade.

Durante os últimos quatro anos de gestão do Executivo e do Legislativo municipal, aos poucos, de tanto sofrer, os eleitores foram se convencendo de que tiveram a inteligência subestimada por aqueles que praticam a falsa política.

Portanto, nas eleições municipais de 2024, veremos que pagamos caro por subestimar o eleitor. Pois, subestimar é sempre um olhar míope, superficial e inconsistente. Aquele que subestimou o eleitor, superestimou a si mesmo. Subestimou o eleitor à sombra da própria soberba, arrogância, petulância e tirania.

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