Morte das irmãs foi transmitida para líder do CV na cadeia
Faccionados presos no MT por envolvimento no duplo assassinato seguiram orientações transmitidas por chamada de vídeo pelo líder Véio
A candidata a vereadora Rayane Alves Porto (Republicanos), de 25 anos, e sua irmã Rithiele Alves Porto, de 28, foram encontradas mortas após terem sido sequestradas e torturadas por uma facção em Porto Esperidião, a 358 km de Cuiabá (MT), no sábado (14). Além das duas irmãs, outras duas pessoas ficaram feridas pela ação dos criminosos, conforme informou o pensarpiauí no domingo (15).
Uma banalidade foi a motivação para um dos crimes mais bárbaros que o Brasil vivenciou nos últimos anos
De acordo com a Polícia Civil do Mato Grosso, Rayane e Rithiele, que eram donas de um circo na região, jamais tiveram qualquer relação com o mundo do crime. A primeira era conhecida por seus dotes circenses, enquanto a segunda era influenciadora, com pouco mais de 85 mil seguidores nas redes sociais. Há alguns dias, elas estiveram com familiares curtindo uma tarde ensolarada nas margens do Rio Jauru, muito frequentado naquele trecho do território mato-grossense.
Na ocasião em que se divertiam com os parentes e amigos, elas fizeram uma foto em que posicionavam os dedos das mãos fazem o número três, e a imagem foi postada no Instagram. No universo criminoso do Mato Grosso, o número três com os dedos é o sinal que identifica alguém com o PCC (Primeiro Comando da Capital), a maior organização criminosa do Brasil, que opera em pelo menos 24 países. Por alguma razão, a foto foi repassada para integrantes de um bando rival, detidos na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá. De lá veio a sentença de morte: as duas deveriam morrer após uma prolongada e aterrorizante sessão de tortura.
Na noite de sábado, Rayane e Rithiele foram a uma famosa feira de pesca em Porto Esperidião, acompanhadas de dois rapazes, para aproveitarem os shows musicais, as comidas e as bebidas do evento. Quando saíam do local, foram abordadas por nove pessoas, sendo três menores de idade. A partir daí, foram coagidos a ir caminhando até um imóvel no centro do município, onde foram obrigadas a entrar, junto com os dois homens que as acompanhavam.
Tudo que se sabe até o momento foi graças a um dos rapazes que estava com as irmãs. Ele conseguiu fugir pulando o muro da casa e correndo desesperadamente, até encontrar uma unidade da PM. O relato de terror é de uma brutalidade incompreensível e desesperadora.
Após muitas agressões e terror psicológico, os integrantes do bando, que vieram inclusive de outras cidades do estado só para executar o crime, passaram a ligar para familiares de Rayane e Rithiele exigindo R$ 100 mil para liberá-las. Não receberam nada, mas se tivessem recebido, coisa alguma teria mudado.
As duas irmãs tiveram alguns dedos amputados a golpes de facão, e uma delas teve também as orelhas arrancadas. Ambas tiverem os cabelos cortados e foram mortas com vários golpes de arma branca. O outro homem que as acompanhava teve igualmente dedos amputados e uma das orelhas extirpada, além de receber golpes de faca na parte posterior do pescoço, na junção com a cabeça. Ele sobreviveu e segue internado.
Crime transmitido ao vivo para a penitenciária
Os depoimentos dos presos no Mato Grosso sob suspeita de participação no duplo assassinato revelam que o crime teria sido conduzido e ordenado por um suposto líder da facção Comando Vermelho (CV), conhecido como Véio, que está detido na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá.
De dentro do presídio, o líder do CV na região, identificado como Véio, teria ordenado o sequestro das jovens, conduzido por chamada de vídeo a tortura sofrida por elas em uma casa no Centro de Porto Espiridião e, em seguida, determinado as mortes.
Líder do CV conduziu tortura com corte de dedos e cabelo
Em seu relato à polícia, após ser preso, Rosivaldo Silva Nascimento, o Badá, de apenas 19 anos, apresentou-se como um faccionado do Comando Vermelho e disse que havia sido o líder da missão (sequestro, tortura e morte das duas irmãs). Segundo ele, a ordem foi repassada pelo grupo da facção, por uma pessoa de dentro da PCE, chamada Véio.
No local, Rosivaldo fez uma chamada de vídeo com Véio e, pelo celular, o tal líder do CV na região conduziu todo o processo de tortura e morte. Conforme os interrogatórios dos suspeitos presos.
Líder do CV falava que candidata queria roubar o poder dele
O depoimento de Higor relata, em detalhes, o que ocorreu. Segundo ele, o grupo, composto por cerca de oito pessoas, manteve contato telefônico com Véio, o líder do Comando Vermelho, durante todo o desenrolar da abordagem, desde a festa até a efetivação dos assassinatos.
O jovem diz que o líder da facção falava coisas sem sentido, dizendo que as irmãs eram ligadas ao PCC e que a candidata a vereadora (Rayane) queria tomar o poder dele na região. Ainda na casa, os faccionados, a mando de Véio, pegaram os celulares das duas e vasculharam em busca de alguma confirmação, mas não encontraram evidências.
A tal foto, com sinal suspeito, segundo Higor, na verdade, mostra Rayane e Rithiele fazendo o símbolo do “Rock” com as mãos. A imagem não teria qualquer relação com o PCC.
Prisão preventiva
Após a constatação do duplo assassinato, a polícia fez buscas na região e conseguiu prender quatro pessoas suspeitas de envolvimento no caso. Rosivaldo (o Badá), Maikon Douglas Gonçalves Roda, Lucas dos Santos Justiniano e Ana Cláudia Costa Silva foram encontrados em um hotel de Cáceres (MT). Eles haviam deixado Porto Espiridião em um táxi.
A Justiça converteu em preventiva a prisão em flagrante dos suspeitos. Nos interrogatórios, todos eles confirmaram o ocorrido e revelaram relação com a facção Comando Vermelho. Além disso, eles foram reconhecidos por testemunhas e sobreviventes.
A polícia do Mato Grosso apreendeu, ainda, quatro adolescentes suspeitos de participação no caso. Eles devem responder por atos infracionais correspondentes aos crimes imputados aos réus adultos. Conforme o inquérito, os presos serão indiciados por homicídio qualificado, tentativa de homicídio qualificado, tortura, associação criminosa e corrupção de menores.
Com informações da Fórum e Metrópoles
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