Política

Morre Roberto Saturnino Braga, ex-prefeito do RJ, aos 93 anos

Ele estava internado no CTI Hospital Pró-Cardíaco, na Zona Sul do Rio, em cuidados paliativos


Leo Martins Morre Roberto Saturnino Braga, ex-prefeito do RJ, aos 93 anos
O ex-prefeito do Rio Saturnino Braga

O ex-prefeito do Rio de Janeiro, Roberto Saturnino Braga, faleceu nesta quinta-feira (3), aos 93 anos. A informação foi confirmada por sua filha, Maria Adelia. Ele estava internado em cuidados paliativos no CTI do Hospital Pró-Cardíaco, na Zona Sul do Rio, após ser admitido na última sexta-feira (27) com pneumonia.

Roberto Saturnino foi o primeiro prefeito eleito diretamente no Rio de Janeiro após a redemocratização do Brasil, em 1985, recebendo quase 40% dos votos na ocasião, quando era filiado ao PDT. Durante sua gestão, decretou a falência do município em setembro de 1988, alegando a recusa do governo federal em oferecer ajuda financeira.

Após seu mandato, foi eleito vereador em 1993 e, em 1998, conquistou uma vaga no Senado pelo PDT. Em 2000, já no PSB, ele não cumpriu um acordo com o PDT, que previa sua renúncia após quatro anos, e permaneceu no Senado até o final de seu mandato de oito anos.

O atual prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), prestou homenagem a Saturnino, ressaltando sua dedicação como homem público. “Ele foi um dos mais dedicados e corretos que a cidade já conheceu. Sua luta pela democracia e pelos mais necessitados será sempre lembrada. É uma grande perda para o Rio e para o Brasil. Meus sinceros agradecimentos por sua contribuição à nossa cidade. Que Deus conforte sua família e amigos”, escreveu Paes.

Conheça um pouco mais sobre Roberto Saturnino                                                                                                                             

Roberto Saturnino Braga  nasceu no Rio de Janeiro, em 13 de setembro de 1931. Ele foi engenheiro e político brasileiro filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). Foi deputado federal, prefeito, vereador da cidade do Rio de Janeiro e Senador da República

Formação familiar e acadêmica

Filho do engenheiro Francisco Saturnino Braga, diretor do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), e neto de Ramiro Saturnino Braga, provinha de uma tradicional família de Campos dos Goytacazes, no norte do estado do Rio de Janeiro. Tanto seu pai quanto o avô foram deputados federais do Rio de Janeiro, o primeiro ligado a Nilo Peçanha, e o segundo aliado político do ex-interventor Ernâni do Amaral Peixoto, líder regional do Partido Social Democrático (PSD). Primo de Saturnino de Brito Filho.
Formado em engenharia[ pela Universidade do Brasil (atual UFRJ) em 1954, passou a trabalhar dois anos depois no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), onde se especializou em engenharia econômica.

Também estudou na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), onde foi aluno de Celso Furtado, e no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB).
Vida política

Roberto Saturnino Braga ingressou na vida política em 1960, quando se filiou ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), pelo qual elegeu-se deputado federal dois anos depois, a frente da coligação Renovação Federal, liderada pelo PSB.

Inclinado às posições nacionalistas e de esquerda, não foi cassado após o golpe militar de 1964, mas dois anos depois sua recandidatura a deputado federal foi impugnada por pressão do governo Castello Branco, o que o obrigou a retornar ao BNDE.

Retornou à política apenas em 1974, quando foi convidado às pressas por Amaral Peixoto para ser candidato ao Senado pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB; do qual fora fundador em 1966), substituindo Affonso Celso Ribeiro de Castro, que tivera um derrame. Com uma campanha improvisada, Roberto Saturnino venceu o favoritismo do marechal Paulo Torres (que buscava a reeleição pela Arena), e foi eleito senador do estado do Rio de Janeiro.

Em 1979, com o fim do bipartidarismo, Roberto Saturnino tornou-se a principal liderança do PMDB no estado, após a saída do governador Chagas Freitas (para o PP) e do senador Amaral Peixoto (para o PDS). No entanto, a incorporação do PP ao PMDB (trazendo de volta o grupo de Chagas Freitas ao partido), obrigou Saturnino Braga a romper, filiando-se ao Partido Democrático Trabalhista (PDT), de Leonel Brizola, pelo qual reelegeu-se senador em 1982.

Em 1985, com o restabelecimento das eleições diretas para prefeitos das capitais, Saturnino Braga foi lançado pelo PDT para disputar a prefeitura do Rio de Janeiro, sendo eleito com quase 40% dos votos. A cadeira no Senado passou para o suplente, Jamil Haddad.

Mas sua gestão à frente da prefeitura foi marcada por greves e rupturas. Em 1988, no último ano de seu mandato, decretou a falência do município do Rio de Janeiro. Hostilizado pelo vice-prefeito, Jó Antônio Rezende, Saturnino Braga rompeu com Brizola e saiu do PDT, filiando-se mais tarde ao PSB. O anúncio da falência abalou a candidatura do PSB a sucessão de Saturnino, que planejava lançar o vice, Jó, que acabou por renunciar à candidatura.

O anúncio da falência do município abalou fortemente a imagem pública de Saturnino Braga, voltou à política somente em 1994, quando concorreu ao Senado e ficou em quinto lugar com 774 mil votos. Em 1996, se elegeu vereador da cidade do Rio de Janeiro. Dois anos depois, concorreu ao Senado mais uma vez e foi eleito, com 38,10% dos votos válidos, por uma aliança de esquerda (reunindo PDT, PT, PSB, PCdoB e PCB), que também elegeu o governador Anthony Garotinho (PDT) e a vice-governadora Benedita da Silva (PT).

No ano 2000, quando Garotinho rompeu com Brizola e trocou o PDT pelo PSB, Saturnino Braga novamente ficou isolado. Por discordar, em 2002, do lançamento de candidatura própria pelo PSB à presidência com Garotinho, deixou o partido e filiou-se ao PT. Por sua vez, o PDT cobrou o cumprimento de um acordo político em que Saturnino cumpriria apenas a metade do mandato de senador eleito em 1998, cabendo o restante ao suplente do PDT, Carlos Lupi. Saturnino Braga assumiu o erro pelo acordo eleitoral, mas não aceitou entregar o cargo, permanecendo como senador pelo Rio de Janeiro.

Em 2004, como senador, Saturnino foi admitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao grau de Grande-Oficial especial da Ordem do Mérito Militar.

No início de 2006, foi impedido de disputar a reeleição pelo PT, que optou por apoiar Jandira Feghali, do PCdoB.  Recusou a proposta de se candidatar à Câmara e, no fim de julho anunciou o fim da carreira política em entrevista ao jornal O Globo: "É melhor sair numa boa do que derrotado", justificou.

Após quase duas décadas no PT, em 2019 Saturnino voltou a se filiar ao PSB, em ato com o então presidente da sigla Carlos Siqueira.

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