MBL é um dos resultados tóxicos do movimento antipolítica
Os jovens reacionários são piores que os políticos que criticavam

Por Chico Alves, colunista do UOL
Há nove anos, jovens tomaram as ruas para protestar não só contra o governo, mas contra os políticos em geral. Depois da surpresa inicial, os rapazes e as moças foram seguidos por gente de todas as idades. Misturaram pautas das mais variadas, com diversas linhas ideológicas. A massa heterogênea se unia em um ponto fundamental: o ódio aos partidos e aos políticos.
Nessa onda, Kim Kataguiri, Renan Santos e outros começaram a carreira de outsiders reacionários, criando o Movimento Brasil Livre (MBL). Desde o início, o grupo recorria a golpes baixos, como fake news e campanhas de difamação nas redes sociais, para atacar os movimentos progressistas.
Foi assim que ofenderam feministas com baixarias impublicáveis, se mobilizaram por censura a manifestações artísticas que consideravam escandalosas, tentaram emplacar o cerceamento da expressão de professores em sala de aula. Naturalmente, o estilo moleque de fazer política do MBL confluiu para Jair Bolsonaro, a quem o grupo apoiou em 2018.
Rapidamente, os agitadores se desiludiram com Bolsonaro e recalcularam a rota. Encenaram uma autocrítica em 2019 e houve quem acreditasse. Ao entrar para a política institucional, imaginaram alguns incautos, os moleques acabariam virando homens civilizados.
Episódios recentes mostraram que o MBL continua sendo MBL.
Kim defendeu a liberdade de expressão para nazistas.
Arthur do Val foi fazer marketing eleitoreiro na Ucrânia e gravou áudio em que comparava a beleza das refugiadas e das policiais ucranianas às mulheres das baladas brasileiras - citando turismo sexual.
Depois de cobrado pela deputada estadual Janaína Paschoal a prestar contas da viagem à Ucrânia, Renan Santos se referiu a ela como "porca invejosa".
As estrelas da antipolítica confirmam o que os mais atentos já sabiam: os jovens reacionários são piores que os políticos que criticavam.
É certo que os integrantes do Centrão são execráveis, seja pela ação predatória sobre os recursos públicos, seja pela obediência cega a qualquer governo que pague o preço do seu passe. Mas iniciativas como a CPI da Covid mostram que o Congresso não é só o Centrão, que há uma boa cota de políticos que faz o seu trabalho de forma eficiente.
Já o estilo performático, que é a marca do MBL, não tem salvação. A raiz do grupo está cravada no machismo, no reacionarismo, no discurso de ódio, nas fake news.
Não é por acaso que justamente o pré-candidato a presidente também moldado no figurino da antipolítica tenha firmado parceria com o grupo. Sergio Moro chegou a dizer que o apoio do MBL era mais importante que o de partidos.
Agora, depois de romper com Arthur do Val, falta Moro se posicionar claramente sobre o MBL. O grupo tem-se manifestado seguidamente em defesa de Mamãe Falei.
Como o ex-juiz vai justificar agora a cumplicidade com essa gente?
Essa pode ser a pá de cal que faltava na candidatura cambaleante de Moro.
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