Política

Kennedy Alencar: Datafolha aponta evidência de ameaça eleitoral por fake news

Kennedy Alencar: Datafolha aponta evidência de ameaça eleitoral por fake news

  • sexta-feira, 30 de março de 2018

De Londres, o jornalista Kennedy Alencar chama atenção para as fake news. Confira:
Em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma pesquisa Datafolha divulgada no fim de semana mostrou que 60% dos moradores da cidade do Rio de Janeiro receberam notícias falsas a respeito da vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada no dia 14 de março.
A pesquisa traz alertas importantes sobre a facilidade para difamar uma pessoa e o risco de distorções que fake news podem causar nas eleições deste ano.
Em primeiro lugar, o alcance das mentiras sobre Marielle Franco foi enorme, porque 60% dos moradores do Rio de Janeiro tomaram conhecimento de notícias falsas que tiveram origem nas redes sociais. Isso é assustador. Confirma o que estamos vendo: como é fácil difundir mentiras.
Do universo de todos os que tomaram conhecimento dessas mentiras, a grande maioria soube identificar que eram falsas, de modo geral. Numa mentira específica, 75% souberam ver a falsidade. Esses 75% equivalem a 45% dos moradores da cidade.
Há essa diferença porque os 75% que identificaram a mentira se referem ao conjunto dos que tomaram conhecimento. Os 45% se referem ao conjunto de todos os entrevistados, o que inclui os 60% que tomaram conhecimento e os 40% que não receberam as mentiras.
Sem dúvida, é um dado positivo que 75% dos que receberam a notícia tenham identificado a falsidade. Mas não é desprezível o impacto dos que acreditaram que as mentiras eram verdadeiras.
Entre aqueles que receberam as notícias falsas, 10% acreditaram que eram verdadeiras. Isso equivale a 6% do total de moradores do Rio. Uma fatia de 15% dos que receberam a notícia não soube dizer se ela era falsa ou verdadeira. Esses 15% equivalem a 9% do total de moradores do Rio. Quem não sabe identificar fica numa zona cinzenta, que é propícia à dúvida, ao erro.
Os dados mostram que uma parcela caiu na mentira e outra não identificou a falsidade. Numa eleição disputada, um resultado por margem estreita poderia, em tese, ser influenciado por uma maré de fake news. A pesquisa aponta essa evidência.
Uma notícia falsa ou não identificada como mentirosa tem potencial, sim, para determinar o resultado numa eleição disputada.
No segundo turno da eleição presidencial de 2014, Dilma Roussef (PT) venceu Aécio Neves (PSDB) por uma margem de apenas 3,28 pontos percentuais. O resultado eleitoral que deu a vitória a Donald Trump na eleição americana em 2016 ocorreu por margem apertada _numa enorme atmosfera de fake news. O Brexit, que foi a decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia, também aconteceu por margem estreita em 2016.
No Reino Unido, eclodiu há pouco tempo o caso da Cambridge Analytica, empresa que usou dados de usuários do Facebook, obtidos de modo fraudulento. A Cambridge Analytica sofre acusações de ter criado fake news sob medida para alguns usuários. Com isso, teria distorcido os resultados na eleição americana e no plebiscito sobre a saída do Reino Unido da União Europeia.
Voltando ao caso de Marielle Franco, uma série de reportagens do jornal “O Globo” identificou o site Ceticismo Político como propagador inicial da mentira sobre Marielle e a página do MBL (Movimento Brasil Livre) no Facebook como vital para amplificar as notícias falsas sobre a vereadora do PSOL.
Nos Estados Unidos, ganhou força a discussão sobre a necessidade de uma regulação mais forte para empresas como o Facebook. Elas se dizem empresas de tecnologia, mas são empresas de mídia e assim devem ser tratadas pela lei. Não bastam anúncios de página inteira nos jornais americanos e britânicos para limpar a barra do Facebook.
No Brasil, o MBL tem agido como propagador de fake news impunemente há anos, espalhando ódio e intolerância no debate público, como mostra o noticiário. A atitude de mentir e distorcer a realidade ajudou a criar esse clima de esculacho em aeroporto, de ovadas e pedradas no lugar de argumentos e respeito por quem pensa diferente da gente.
Ter posição política de direita, de centro ou de esquerda é um direito de qualquer cidadão. Mas difamar é crime pela lei brasileira. Fazer isso no debate público é mais grave e precisa ser punido.
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