Cultura

Karla Sofía Gascón: da indicação histórica ao afastamento das campanhas do Oscar

A atriz que concorre com a brasileira Fernanda Torres está envolta em polêmicas


Karla Sofía Gascón: da indicação histórica ao afastamento das campanhas do Oscar
Fernanda Torres e Karla Sofía Gascón. Atriz estrangeira envolta em polémicas

A espanhola Karla Sofía Gascón fez história ao se tornar a primeira mulher transgênero indicada ao Oscar na categoria de Melhor Atriz, por sua atuação em Emilia Pérez. Ele concorre diretamente com a brasileira Fernanda Torres. O filme Emilia Pérez que lidera as indicações da edição de 2025 com 13 categorias, é também o longa-metragem internacional mais indicado da história da premiação.   

Ao receber a notícia de sua indicação, Gascón celebrou no X (antigo Twitter): "Muito obrigada. Me refugio no Lótus da Lei Maravilhosa", referência ao Budismo de Nichiren, que pratica há mais de duas décadas. Sua performance já havia sido reconhecida no Festival de Cannes, onde venceu o prêmio de Melhor Atriz, tornando-se a primeira mulher trans a ser premiada na história do evento. Na ocasião, dedicou o troféu à comunidade trans e a todas as pessoas que enfrentam discriminação diariamente.

Carreira entre a Espanha e o México

Nascida em 1972 em Alcobendas, na região de Madri, Gascón iniciou sua trajetória na TV espanhola, atuando em produções como El Súper, El Pasado es Mañana e Calle Nueva. No entanto, foi no México que alcançou grande notoriedade, com participações em Corazón Salvaje (2009) e El Señor de los Cielos (2013), além do sucesso de bilheteria Los Nobles - Quando Os Ricos Quebram a Cara. Em 2018, iniciou sua transição de gênero e posteriormente lançou sua autobiografia, Karsia, abordando essa fase de sua vida.

Seu papel em Emilia Pérez foi um dos mais desafiadores de sua carreira. Inicialmente, o diretor Jacques Audiard planejava escalar um ator cisgênero para viver o narcotraficante Manitas antes da transição de gênero, mas foi convencido pela própria Gascón a interpretar a personagem integralmente. "Até hoje, não sei onde termina Emilia e começa Karla Sofía", declarou Audiard.

O longa, ambientado na Cidade do México, segue a história de Rita (Zoe Saldaña), uma advogada que recebe uma missão peculiar: ajudar um poderoso chefe do crime a realizar sua transição de gênero em sigilo. O filme mistura o formato clássico de musical com elementos contemporâneos, abordando temas como identidade, violência e corrupção.

Polêmicas e afastamento

Apesar do sucesso, a produção também coleciona controvérsias. A representação do México no filme gerou críticas severas, e organizações LGBTQIA+ como a GLAAD classificaram a caracterização da protagonista transgênero como "retrógrada".

Além disso, antigas postagens de Gascón nas redes sociais vieram à tona, trazendo comentários considerados racistas e islamofóbicos. Entre suas declarações polêmicas, estavam críticas ao islamismo, ao movimento Black Lives Matter e à diversidade no Oscar. Em uma postagem, escreveu: "Cada vez mais o Oscar parece uma cerimônia de filmes independentes e de protesto, não sabia se estava assistindo a um festival afro-coreano, a uma manifestação do Black Lives Matter ou ao 8M".

Diante das repercussões negativas, a Netflix, distribuidora do filme nos EUA, Canadá e Reino Unido, distanciou-se da atriz, removendo-a de materiais promocionais e cancelando sua participação em eventos de premiação, incluindo o Virtuosos Awards no Festival de Santa Barbara. Fontes afirmam que a empresa não está mais arcando com os custos de suas viagens, incluindo sua presença no Oscar.

O silêncio da Netflix e o impacto na campanha do Oscar

A postura da Netflix gerou um dilema na indústria. Enquanto o estúdio se posicionou firmemente contra discursos de ódio no passado, como no caso dos protestos antirracistas de 2020, agora optou pelo silêncio em relação a Gascón. A estratégia parece visar minimizar danos e garantir as melhores chances de Emilia Pérez na premiação.

O afastamento também se refletiu na Espanha: Gascón foi excluída do Prêmio Goya, onde Emilia Pérez concorre na categoria de Melhor Filme Europeu. Segundos apurações do canal Telecinco, a atriz não recebeu convite do produtor do longa.

O que Karla Sofía Gáscon falou sobre Fernanda Torres?

Na entrevista, a espanhola começa elogiando a atriz brasileira e diz que ela é "uma mulher maravilhosa, além de uma atriz incrível, que merece todo o reconhecimento do mundo". Karla ainda confessa que não conseguiu assistir "Ainda estou aqui" e nenhum outro filme do Oscar por falta de tempo, já que está trabalhando na campanha de divulgação de "Emília Peréz".

Em seguida, ela diz que ficou feliz com o Globo de Ouro que Fernanda ganhou e segue: "Isto não é uma competição. Há pessoas que gostam mais do seu trabalho ou não e ponto. Se ela ganhar, ótimo. Seu eu ganhar, também. O que eu não gosto é que há equipes de redes sociais que trabalham ao redor de todas essas pessoas tentando diminuir o trabalho das outras, como o meu ou o do meu filme, porque isso não leva a lugar algum".

Por fim, veio a declaração que mais gerou polêmica: "Em nenhum momento, alguém me verá falando mal de Fernanda Torres ou do filme de Fernanda Torres. Mas, por outro lado, há muitas pessoas que trabalham no ambiente de Fernanda Torres que falam mal de mim e de 'Emilia Pérez'. Isso fala mais deles e de seu filme do que do meu".

O futuro de Gascón na temporada de premiações

Diante da exclusão, Gascón usou suas redes sociais para se manifestar. "Apenas busco a liberdade de existir sem medo, de criar arte sem barreiras e de seguir em frente com minha nova vida. Estão tentando me cancelar", escreveu. Em áudio enviado ao Telecinco, criticou os ataques que tem recebido: "Foram longe demais comigo".

A grande questão agora é: Karla Sofía Gascón comparecerá ao Oscar? O evento ocorre no dia 2 de março, e até o momento, não há confirmação oficial de sua presença. Em meio ao boicote, resta saber se a atriz conseguirá reverter sua situação ou se sua histórica indicação será ofuscada pelas controvérsias.

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