Galípolo é o principal cabo eleitoral do Bolsonarismo
Ele faz Lula trabalhar para os ricos

O Banco Central, sob a presidência de Gabriel Galípolo (indicado ao cargo pelo presidente Lula), decidiu mais uma vez aumentar a taxa básica de juros (SELIC), agora fixada em 15% ao ano — o maior patamar desde 2006. Com isso, o Brasil conquista a infeliz posição de segundo país com a maior taxa de juros do mundo.
A decisão surpreende especialmente porque, na mesma semana, os Estados Unidos mantiveram suas taxas inalteradas, mesmo com o aumento de seu déficit público decorrente de múltiplos conflitos armados ao redor do mundo. Enquanto o Federal Reserve opta pela estabilidade, o Banco Central brasileiro impõe um freio à economia nacional num momento delicado para o governo.
Mas o que mais causa perplexidade é a justificativa apresentada no relatório do Comitê de Política Monetária (Copom). O documento — confuso, agressivo e tecnicamente questionável — mistura previsões de mercado com diagnósticos econômicos frágeis e interpretações geopolíticas discutíveis. Um verdadeiro “sincericídio” da falta de preparo técnico e político da atual diretoria, boa parte dela indicada pelo próprio presidente Lula.
O relatório parte das chamadas “expectativas de inflação” divulgadas pela pesquisa Focus — um levantamento semanal conduzido pelo próprio Banco Central com cerca de 170 instituições financeiras, como bancos e consultorias. Ou seja, o aumento da SELIC foi fundamentado não em dados concretos, mas na opinião de agentes de mercado interessados diretamente na manutenção dos juros elevados.
Se isso soa absurdo, imagine o inverso: sindicatos indicarem o valor do salário mínimo e o governo simplesmente acatar. Parece impensável, mas é exatamente o que está ocorrendo com a política de juros no país.
Segundo o relatório do Copom, os motivos para o aumento seriam: (1) uma “desancoragem das expectativas de inflação”; (2) uma “resiliência dos preços de serviços” devido ao “hiato do produto mais positivo” — ou seja, à recuperação da economia —; e (3) uma combinação de fatores externos e internos que poderiam pressionar os preços.
Traduzindo para o cotidiano: o Banco Central aumentou os juros porque (1) o mercado acredita que a inflação pode subir no futuro, (2) o crescimento econômico está elevando os preços de serviços (como médicos, engenheiros, faxineiras), e (3) o cenário internacional — com tarifas e guerras — estaria pressionando o câmbio.
É uma decisão baseada em projeções, não em fatos consolidados. A inflação atual não decorre dessas causas apontadas. E, mesmo assim, o comitê afirma que continuará “vigilante” sobre a política fiscal, insinuando que o governo está gastando demais — uma tese defendida sistematicamente pela oposição — e que, por isso, os juros devem permanecer altos por um período “prolongado”.
Mais grave ainda é o tom do comunicado final: uma ameaça explícita ao presidente Lula. O Banco Central afirma que "não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste" se considerar necessário — ou seja, se o governo tentar implementar políticas públicas mais ousadas ou redistributivas, os juros podem subir ainda mais, penalizando a população em favor dos interesses do mercado.
Na prática, isso significa que o BC está pronto para sabotar qualquer tentativa de crescimento inclusivo, transferindo uma fatia significativa do PIB aos rentistas. Afinal, com uma taxa de juros real (descontada a inflação) próxima de 10% ao ano, os bilionários brasileiros seguem acumulando riqueza sem produzir absolutamente nada — apenas com seus investimentos protegidos pelo Estado.
Enquanto o mundo inteiro se prepara para uma recessão causada pela guerra comercial entre EUA e China, além dos conflitos no Oriente Médio, o Banco Central brasileiro segue agindo como se estivesse isolado dessa realidade. Se o petróleo subir, a inflação será pressionada globalmente — mas, no Brasil, a resposta sempre será a mesma: subir os juros.
E o mais irônico: o crescimento econômico, o aumento do emprego e da renda são apresentados como “problemas” a serem combatidos com juros mais altos. Como se fosse um crime a população ter acesso a melhores salários e serviços. E tudo isso, claro, em nome da estabilidade — entendida como manter os lucros dos detentores de capital financeiro.
Gabriel Galípolo, nesse cenário, se tornou o principal cabo eleitoral do bolsonarismo. Ao adotar medidas que travam o crescimento e desgastam o governo Lula, ele arrisca não só a reeleição do presidente, mas também a continuidade de um projeto político progressista no Brasil. Em 2026, Lula estará nas urnas. Galípolo, não. Seu mandato no BC vai até 2028 — e, ao final dele, pode muito bem migrar para um grande banco, remunerado generosamente pelo mercado ao qual serviu com tanta diligência.
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