Entre bolsonarismo e democracia, de que lado está o PSDB?
Alckmin não concordou com compromisso proposto por Fernando Haddad

Por Luis Felipe Miguel, professor, no facebook
Ontem, Haddad e Alckmin se encontraram num debate virtual. Haddad propôs um compromisso entre PT e PSDB para 2022: divergência civilizada no primeiro turno, apoio no segundo turno a quem quer que esteja contra a extrema-direita.
Alckmin não concordou. Preferiu dizer que "temos divergência tanto em relação ao Bolsonaro quanto ao PT". E que não era possível falar em segundo turno agora.
O episódio ajuda a entender o significado do encontro entre Lula e FHC.
Quem me acompanha aqui sabe que sou crítico da opção preferencial pela diluição das diferenças, que caracteriza a política de Lula. Mas o encontro com FHC teve outra natureza, assim como o aceno de Haddad e Alckmin.
É preciso dar efetividade ao #EleNão. Criar uma barreira sanitária em torno da extrema-direita fascistizante, marcá-la como pária do jogo político.
A França, de alguma maneira "beneficiada" com o surgimento precoce de uma força relevante de extrema-direita, fez isso com o Front (agora Rassemblement) National. Já na Espanha, por exemplo, o Vox tem sido aceito como parceiro legítimo pela direita tradicional, apesar de seu discurso agressivamente racista e antidemocrático.
Não é só o momento da eleição. Um governo pós-Bolsonaro terá necessariamente que enfrentar sua base de extremistas inconformados e sem qualquer respeito pelas regras do jogo. O cenário fica bem pior se outros setores da oposição optarem, por oportunismo, a se aliar ao bolsonarismo.
No encontro dos ex-presidentes, quem se moveu foi FHC. Foram os tucanos, afinal, que fizeram do PT o inimigo público nº 1 e responsável por todos os males do país, que alimentaram a Lava Jato, que deram o golpe.
A autocrítica veio de FHC - insuficiente e tímida, é verdade. Mas o recado principal foi dado: a prioridade do PSDB deve ser se afastar completamente do bolsonarismo.
As reações da cúpula do partido mostram que a mensagem foi mal recebida. Mas a fala de FHC gera um constrangimento de certo peso. Afinal, há quase duas décadas, após o final de seu lamentável governo, os tucanos e a mídia ligada a eles tentam promovê-lo à condição de sábio estadista provecto. Não é fácil simplesmente ignorá-lo.
O encontro de Lula com FHC e o aceno de Haddad a Alckmin apontam na mesma - e correta - direção: indicar que existe uma linha divisória intransponível entre o bolsonarismo e a democracia e que cabe escolher de que lado se está.
Sem que isso apague ou minimize as diferenças.
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