Em depoimento no STF, Tarcísio decepciona bolsonaristas
O senador Ciro Nogueira (PP-PI) também prestou depoimento ao STF

Em depoimento prestado nesta sexta-feira (30) ao Supremo Tribunal Federal (STF), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), atuou como testemunha de defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no processo que investiga a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Segundo o portal UOL, Tarcísio confirmou que se reuniu com Bolsonaro em diferentes ocasiões entre novembro e dezembro daquele ano, após o segundo turno das eleições. No entanto, negou categoricamente que os encontros tenham tratado de qualquer tema relacionado a uma ruptura institucional.
“Toda vez que ia a Brasília, eu visitava o Bolsonaro, pela consideração que eu tinha, a relação que eu tinha [com ele]”, declarou. E acrescentou: “Passava para transmitir minha solidariedade, meu abraço, meu respeito”.
As reuniões citadas pelo governador não constam na denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), nem na investigação conduzida pelo STF. O depoimento foi breve e limitado a perguntas feitas exclusivamente pelos advogados de defesa de Bolsonaro. Tarcísio reiterou que nunca houve qualquer menção ou discussão sobre golpe de Estado com o ex-presidente: “Jamais tocou neste assunto, jamais mencionou qualquer tentativa de ruptura”, afirmou. Ele também declarou que, durante sua gestão como ministro da Infraestrutura, esse tipo de conversa nunca ocorreu.
Frustração entre bolsonaristas
A postura do governador paulista causou frustração entre bolsonaristas. Bolsonaro e seus aliados esperavam que Tarcísio adotasse uma posição mais enfática em defesa do ex-presidente. Para esse grupo, o governador poderia ter usado o depoimento para denunciar a suposta “perseguição” que Bolsonaro diz sofrer.
Um aliado afirmou: “Chegar no Supremo e dizer que nunca ouviu o Bolsonaro falar sobre golpe e que nunca participou de reunião golpista é fácil”. Na visão desse grupo, Tarcísio deveria ter ido além, mesmo sob risco de ser advertido pelo ministro Alexandre de Moraes.
Como exemplo, citaram o ex-deputado federal Aldo Rebelo (MDB), que foi repreendido por Moraes após afirmar que “não admitia censura” durante sua fala. Para os aliados de Bolsonaro, Tarcísio deveria ter demonstrado a mesma disposição.
O governador, no entanto, evitou o confronto direto com Moraes. Foi poupado tanto pelo ministro quanto pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Em sua fala, Tarcísio preferiu ressaltar aspectos positivos da gestão de Bolsonaro e demonstrar preocupação com o cenário político à época. “O único comentário [de Bolsonaro] era que lamentava. Foi um período de situações difíceis, crises graves: Brumadinho, Covid, crise hídrica, guerra da Ucrânia... E todas elas, da melhor forma possível, terminamos com superávit. A preocupação era que a coisa desandasse, uma preocupação com o futuro do país”, disse.
E completou: “Jamais [tive conhecimento de intenções golpistas]. Nunca. Assim como nunca tinha acontecido no meu período de ministério. Nesse período em que estive com o presidente nessa reta final, nas visitas que fiz, ele jamais tocou nesse assunto e não mencionou qualquer tipo de ruptura. Encontrei um presidente triste, resignado. Esse assunto nunca veio à pauta”.
Ciro Nogueira também presta depoimento
No mesmo dia, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) também prestou depoimento ao STF. Segundo o jornal O Globo, o ex-ministro da Casa Civil durante o governo Bolsonaro afirmou que o ex-presidente não tentou obstruir o processo de transição de governo após sua derrota nas eleições de 2022 para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Nogueira, que atuou como interlocutor com a equipe do novo governo eleito, negou qualquer tentativa de tumultuar ou inviabilizar a transição. “O presidente, em minuto nenhum, quis obstaculizar qualquer tipo de situação para que a gente pudesse fazer a transição da melhor forma”, declarou ao STF.
O depoimento foi prestado no âmbito da ação penal que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado envolvendo Jair Bolsonaro e ex-integrantes de seu governo. Ciro Nogueira falou como testemunha de defesa do ex-presidente e dos ex-ministros Anderson Torres (Justiça) e Paulo Sérgio Nogueira (Defesa).
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