Segurança Pública

Edméia teve o filho morto, procurou justiça e foi morta também. O caso "As mães de Acari"

Mais de 30 nos após o crime, os processos ainda se encontram em fase de instrução e as mães continuam em busca de uma justiça no país da impunidade


Edméia teve o filho morto, procurou justiça e foi morta também. O caso "As mães de Acari"
Edméia Euzébio

Conheça a triste e corajosa história de Edméia Euzébio, a mãe que teve seu filho assassinado, resolveu investigar o crime sozinha,  fundou um grupo de mães pra fazer justiça, enfrentou o sistema policial do Rio de Janeiro e morreu pela coragem de não ficar calada.

Edméia era residente na comunidade de Acari, Rio de Janeiro, viu sua vida mudar em 11 de julho de 1990, quando, em uma manhã de calor, recebeu a notícia de que 11 jovens, quase todos da mesma comunidade, desapareceram. Dentre eles, estava seu filho.

A comunidade se revoltou com o sumiço dos jovens e, tomada de indignação, Edméia e outras mães formaram um grupo para acompanhar e cobrar uma solução para o triste evento, já que sabiam que sem mobilização não haveria nem investigação do caso.

A partir daquele momento, começava uma árdua batalha de mães em busca de justiça pelo sumiço de seus filhos. As primeiras investigações davam conta de que os desaparecidos foram mortos e tiveram os corpos ocultados por Policiais Militares do Nono Batalhão.

A tese foi sendo comprovada pouco a pouco, mas andava a passos lentos, como de costume em toda investigação relacionada a casos envolvendo as forças policiais.

Foi então que Edméia, liderando as mães de Acari, inicia um corajoso trabalho de investigação e divulgação dos resultados. A mãe descobriu e passou a frequentar lugares de desova de corpos, cemitérios clandestinos, denunciar policiais que faziam parte de grupos de extermínio

E não parou por aí. Edmeia visitava ex-policiais presos, para colher informações sobre o paradeiro do corpo do filho. As mães de Acari também acionaram órgãos internacionais como a ONU e forneciam, constantemente, boletins dos avanços das investigações à imprensa nacional.

A postura das mães passou a incomodar grupos de policiais que supostamente estavam envolvidos nas mortes. Em 1993, após o recebimento de muitas ameaças, Edméia fez uma visita a um ex-policial que estava preso e descobriu que os meninos de Acari foram realmente assassinados

Segundo afirmam, após a visita, ela portava nomes de alguns dos assassinos e o paradeiro dos corpos, porém, no trajeto para casa, Edméia e a cunhada sofreram uma emboscada e foram brutalmente assassinadas, os suspeitos eram policiais ligados ao Nono Batalhão.

Após o assassinato, o movimento das mães de Acari sofreu um duro golpe, mas as mulheres não desistiram, continuaram mobilizando a população civil e órgãos de imprensa para não deixar que o crime caísse no esquecimento.

Hoje, mais de 30 nos após o crime, nenhum dos dois processos andou, eles ainda se encontram em fase de instrução.  Edméia está morta e as mães de Acari continuam em busca de uma justiça longínqua, no país da impunidade.

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