É HOJE! Começa o conclave que escolherá o novo papa
Cardeais se reúnem no conclave mais global da história com promessa de manter reformas de Francisco

Após duas semanas de intensas discussões, 133 cardeais iniciam nesta quarta-feira (7) o conclave que elegerá o 267º Papa da Igreja Católica. O encontro, realizado na Capela Sistina, será o mais diverso da história, reunindo representantes de 71 países.
O sucessor do Papa Francisco, falecido recentemente, será responsável por conduzir a Igreja em um momento de grandes desafios e transformações, destaca reportagem do jornal O Globo. Durante a última reunião antes do início do confinamento, os cardeais enfatizaram o compromisso de dar continuidade às reformas iniciadas por Francisco, especialmente no combate aos abusos sexuais, na transparência das finanças do Vaticano e na promoção de uma Igreja mais próxima dos pobres, engajada nas questões sociais e ambientais.
“O perfil é aquele que o Espírito Santo nos indica, né?”, afirmou com discrição Dom Jaime Spengler, cardeal arcebispo de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), após uma vigília na qual os sete cardeais brasileiros rezaram diante de uma bandeira do Brasil e uma imagem de Nossa Senhora Aparecida.
O Colégio dos Cardeais também publicou uma nota inédita, pedindo cessar-fogo urgente nos conflitos da Ucrânia e do Oriente Médio. “Constatamos com pesar que não houve avanços nas negociações para interromper os dois conflitos e evitar ataques a civis”, diz o comunicado, reforçando o papel do Vaticano como mediador pela paz, uma das marcas do pontificado de Francisco.
Na véspera do conclave, os cardeais definiram o perfil desejado para o novo Papa: “Foi delineado o perfil de um Papa pastor, um mestre em humanidade, capaz de encarnar o rosto de uma Igreja samaritana”, informou o comunicado da Santa Sé. O texto ainda destaca a necessidade de um líder que ofereça “misericórdia, sinodalidade e esperança” em tempos marcados por guerras e polarizações políticas.
Francisco, o primeiro Papa latino-americano, comandou a Igreja por 12 anos e foi responsável pela nomeação de 108 dos 133 cardeais com direito a voto – o equivalente a 81% do colégio eleitoral. Seu legado será decisivo para os rumos do conclave, embora, como apontam vaticanistas, a eleição papal seja sempre cercada de imprevisibilidades.
Entre os favoritos estão os cardeais italianos Pietro Parolin, Matteo Zuppi e Pierbattista Pizzaballa, além de nomes de fora da Europa, como o filipino Luis Tagle e o maltês Mario Grech. A experiência recente mostra, no entanto, que o consenso pode emergir em torno de nomes menos cotados, como ocorreu com João Paulo II em 1978 e Francisco em 2013.
Francisco entrou para a história ao optar por uma Igreja voltada ao Sul Global. Sob seu comando, os europeus deixaram de ser maioria no colégio eleitoral — passaram de 52% em 2013 para 39% agora —, enquanto África, Ásia e América Latina ganharam protagonismo. Dioceses historicamente influentes, como Paris e Milão, não terão cardeais votantes neste conclave.
Apesar de não ter alterado os dogmas da Igreja, Francisco promoveu aberturas importantes, como o acolhimento de divorciados recasados e a aproximação com fiéis LGBTQIA+. “Se uma pessoa é gay, procura Jesus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”, afirmou ele em 2013, numa das frases mais marcantes de seu pontificado.
A tendência é que seu sucessor seja cobrado a se posicionar sobre temas que ainda enfrentam resistência dentro da instituição, como o celibato obrigatório e a ordenação de mulheres. Também será desafiado a reverter o avanço das denominações evangélicas na América Latina e a queda no número de fiéis nos países ocidentais.
Entre os cardeais, cresce o reconhecimento de que Francisco falhou ao concentrar excessivamente o poder e promover poucas reuniões do consistório. “Muitos cardeais reclamaram que não conheciam bem os colegas”, revelou o O Globo, o que levou o Vaticano a providenciar crachás de identificação durante os encontros preparatórios.
A primeira votação ocorre ainda nesta quarta-feira, mas a expectativa é que a fumaça que sairá da chaminé seja negra — sinal de que não houve consenso.
Caso não haja definição, o processo continuará com até quatro votações por dia, até que um cardeal receba ao menos dois terços dos votos. Quando isso acontecer, a fumaça branca anunciará ao mundo que há um novo Papa. Ele escolherá seu nome, vestirá a batina branca e será apresentado no balcão central da Basílica de São Pedro.
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