Desafio gigantesco de contar com os respiradores
Com 1.612 casos confirmados e 57 mortes oficiais por Covid-19 no Piauí, até esta terça-feira (12-5), segundo boletim divulgado pela Secretaria da Saúde (Sesapi), o estado não está muito distante do tsunami do novo coronavírus que está varrendo o Brasil. Longe disso. As projeções da Sesapi, nas quais teremos 134.440 casos, no dia 24 deste mês – portanto, daqui a 11 dias –, comprovam a extrema preocupação das autoridades, especialmente do Comitê de Organização Emergencial do Piauí.
Se se confirmar tal projeção, baseada em métodos e evidências científicos, o comitê calcula que serão necessários, em 11 dias, 1.065 leitos operativos de unidade de terapia intensiva (UTI), ou seja, não só instalados, mas funcionando e gerenciados por equipes médicas intensivistas altamente especializadas. De acordo com os números oficiais, hoje o estado dispõe, entre hospitais públicos, privados e filantrópicos, 204 leitos completos de UTI, equipados com respiradores, o que configurará déficit de 861 respiradores nessas unidades.
Isso significa que faltarão 861 respiradores disponíveis para atender os pacientes piauienses mais graves com casos de Covid-19, ou seja, são pessoas que, caso não disponham desses equipamentos, perecerão em leitos de estabilização, ainda em quantidade muito aquém do necessário, nas enfermarias ou mesmo em casa. Será o colapso da saúde pública no Piauí, a exemplo do que vem acontecendo, há semanas, em estados vizinhos como Maranhão e Ceará, para ficar nos territórios mais próximos de nossa realidade. O que fazer?
No limiar dos 50%
O estado conta atualmente, de acordo com o boletim oficial da Sesapi, com 304 pessoas internadas – 201 em leitos clínicos, 101 em UTIs – em estado gravíssimo – e duas em leitos de estabilização. Diante de números sombrios como esse, se chega à conclusão de que o Piauí está com quase 50% dos leitos ocupados de UTI. Em live realizada nesta segunda-feira (11-5), o governador Wellington Dias, respaldado pelo secretário da Saúde, Florentino Neto, disse que se o estado superar 50% dos leitos de UTI e estabilização, virá o lockdown.
Até 11 deste mês – há 48 horas –, o percentual de internados em UTI e estabilização emplacava 42,9% de ocupação, patamar bastante próximo dos 50% definidos pelo governador como condição sine qua non para decretar lockdown em municípios como Picos, Parnaíba e Floriano, onde a situação parece fora de controle. Sendo assim, a medida extrema, o fechamento total, excetuando os serviços considerados essenciais, como farmácias, supermercados e postos de combustível, deverá ser colocado em prática nessas cidades e em outras.
A grande pergunta a ser feita, e que parece básica para toda a sociedade piauiense, se refere a como adquirir em tempo hábil 861 respiradores – equipamentos de alta complexidade, cujo prédio médio, em valores de mercado especulativo e superfaturado, não é inferior a R$ 160 mil, segundo avaliações mercadológicas? E não é preciso ser um expert para perceber, de imediato, que a meta dos 861 não é viável, senão impossível, até porque a grande maioria das tentativas de comprar esses equipamentos no mercado internacional são frustradas.
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