Depois do Dia da Mulher
A conscientização contínua e a superação da violência e do machismo são essenciais

Costumamos visibilizar o dia 8 de março como o “Dia Internacional da Mulher" para enfatizar e consolidar as lutas das mulheres – que, também, deve ser da sociedade –, como forma de efetivar direitos iguais entre gêneros, que teve início com manifestações e greves. A luta das mulheres pela igualdade de gênero se iniciou no século XIX, com a luta pelo direito ao voto. Enquanto, o movimento feminista contemporâneo surgiu nos Estados Unidos na década de 1960.
Ademais, depois do dia 8 de março, que é uma data de grande força simbólica e política, é necessário manter-se ativos – mulheres e homens – na luta diária pela desconstrução das violências, do machismo, do patriarcado e da dicotomia superior/inferior. Porém, sem forjar a instauração de uma opressão reversa entre os gêneros no meio social.
Assim, o “Dia Internacional da Mulher" reverberá para além de uma celebração pontual, que busca consolidar o propósito de homenagear, reivindicar, relembrar e festejar as conquistas, para se transformar num despertar contínuo em nós, nas nossas relações interpessoais e nos modos de pensar atrofiados pela ignorância sobre as relações de gênero.
Com isso, estaremos instigando uma simbiose de valores positivos para construir uma nova consciência sobre o papel da mulher e da equidade de gênero, gestando interações sociais mais justas e saudáveis entre homens e mulheres. Ou seja, sem a necessidade de dependência emocional, revanchismos e/ou crenças limitantes, que inibam ou paralisem a revolução interativa entre os gêneros.
Para tanto, devemos avançar para além da visibilização das conquistas, da contabilização de corpos e das pautas jurídicas, enfrentando outras questões que estão nas raízes da violência contra mulheres. Por exemplo, a política de medidas protetivas é importante, sim. Mas, não tem impactado diretamente nas causas e dinâmicas do ciclo da violência de homens contra as mulheres.
Talvez por isso, hoje cresce no imaginário social uma forte tendência de “naturalizar” a matança de mulheres – ou feminicídio –, pondo em pauta a defesa intransigente do direito à vida e à dignidade humana, para construirmos uma nova sociedade. Onde as relações entre gêneros sejam baseadas no respeito mútuo e na empatia incondicional, tornando-nos capazes de ressignificar as interações sociais noutra hominescência.
Nesse sentido, há o consenso de irmos além de registrar, celebrar e se contentar com as valiosas conquistas feministas. A violência contra mulheres no mundo constitui-se, simultaneamente, por um dilema hominescente entre os gêneros e a violação dos direitos humanos, impactando não somente na vida das mulheres – mas, também, em toda a sociedade –, em seus direitos à vida, à saúde e à dignidade humana.
O dilema hominescente entre gêneros se caracteriza pela resistência em não superar a reificação da ideia moral de superioridade do masculino sobre o feminino, que, desde a infância, se impõe nas interações interpessoais. Ele é mantido e reforçado na dinâmica das instituições públicas e privadas, através de pensamentos, ações, práticas sociais e propósitos humanos reiterados como algo “normalmente” aceito.
Em paralelo, a violação dos direitos humanos (das mulheres) impede a construção societal de uma visão transgêneros que sobrepuja os papéis sociais predeterminados. Assim, torna-se fundamental sobrelevar a misoginia incrustada na consciência coletiva e manifestada pelo senso comum, como o marco diferencial entre homem e mulher.
Portanto, a superação do dilema transgêneros e da violação de direitos exige uma educação crítica e reflexiva que desinstale o androcentrismo na base.
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