Centro de Teresina abandonado. Parece campo de guerra
O abandono proporciona ao local muita insegurança
A cidade segue do mesmo jeito que jamais foi
Cada vez maior, incrementada em milhares de almas...
Os ruídos das calçadas avultaram-se nestes anos,
Também os roubos, as brigas, os assassinatos,
Qualquer mal intrínseco à multiplicação dos humanos...
Igualmente, a riqueza, obviamente, se multiplicou
Novos prédios altos derribaram os velhos cortiços
Conforme o local, não se vislumbra mais horizontes
E esqueça-se procurá-los em frestas ao derredor
Apenas ao meio do céu sobrevive um nubloso ponto de fuga...
A cidade, posuda, depurou as formas do que nunca muda...
E há mais crianças pedindo nos sinaleiros, rindo e chorando
E há mais vida e morte e mais pressa e preguiça
E há mais beijos e tapas e mais louvores e insultos...
Eu ouço pouco, vejo pouco, acho pouco disso tudo...
Sinceramente, sinto-me um intruso, como poucos
E sigo, um pouco, do mesmo jeito que jamais fui...
Do jeito que jamais fui
GeMuniz
O centro de Teresina está parecendo um campo de guerra.
Muitos dos seus imóveis estão fechados, abandonados, à venda ou para alugar, com paredes pichadas, destruídos, em ruinas, com o lixo tomando conta das calçadas e se tornando local propício para alojamento de pessoas usuárias de drogas e que não tem lugar para morar.
O centro da capital desenvolveu um forte comércio e também a área de serviços.
Há poucas pessoas residentes naquele local. As que moram no centro estão sujeitas a uma insegurança maior que moradores de outras localidades da cidade.
Dia 9 de dezembro criminosos arrombaram o casarão histórico que pertencia a Genu Moraes e roubaram diversos objetos da escritora e jornalista, importante personalidade da política e da sociedade piauiense. Arrombado pela segunda vez, o casarão está localizado em frente ao Palácio de Karnak, sede do governo piauiense.
Mas nas redondezas os arrombamentos são frequentes, conforme relata Lidya Moraes, filha de Genu Moraes, em áudio enviado à redação do pensarpiaui. Ouça:
O pensarpiauí ouviu José Roncalli Filho, Superintendente de Ações Administrativas Descentralizadas da Prefeitura de Teresina. Questionado sobre qual projeto para a vitaliação do centro da cidade tem a prefeitura local, ele respondeu com um áudio. Ouça:
Foi entrevistada também a arquiteta e urbanista Angela Napoleão Braz. Ela pediu que as perguntas fossem enviadas por e-mail, que ela responderia, e assim foi feito:
pensarpiauí - O que acontece com uma cidade para o centro ficar como está o de Teresina?
A expansão territorial da zona urbana é a raiz dos problemas nas áreas centrais da cidade. No caso de Teresina, sua expansão foi orientada inicialmente pelas atividades da COHAB-PI, principalmente na década de 1980, que acabou por gerar a criação de novos centros urbanos como, por exemplo, os do Saci, Parque Piauí, Itararé, Mocambinho. Nas décadas seguintes vimos o surgimento de condomínios habitacionais instalados na periferia urbana impulsionando a expansão territorial urbana de Teresina e o surgimento de shoppings centers fora da zona central que se constituíram em importantes polos de atração para atividades de lazer, comércio e serviços. O aumento da população nos últimos tempos e sua instalação nas proximidades das franjas da cidade seja por força das condições de deslocamento, pela busca de “melhor clima e mais segurança”, pelo alto valor da terra nas áreas urbanas centrais ou pela proximidade com os novos mercados de trabalho, aliados aos novos polos comerciais, desencadearam o abandono da área central de Teresina como zona de moradia. O que se viu daí por diante na área central de Teresina foi a transformação de suas edificações residenciais em edificações comerciais e de serviço a ponto de, hoje, termos quase que um uso monofuncional. E isso é muito ruim porque quando os edifícios mudam de função, mudam a sua relação com os processos do bairro também. Por exemplo, quando a área tem uso predominantemente comercial e de serviço, temos uma grande circulação de pessoas somente durante o horário de seu funcionamento. Isso implica no uso excessivo de suas estruturas. É o caso das ruas da cidade que têm trânsito intenso, dimensões inadequadas para o uso da frota atual, transporte público ruim, conflito de modais e dificuldades de estacionamento. Juntas, estas características afastam os usuários que preferem fazer compras ou recorrer a serviços em outro local da cidade. Já nas demais horas do dia temos pouco ou nenhum movimento. E aqui cabe lembrar que um espaço sem apropriação por parte das pessoas não pode resistir ao tempo. Acaba desgastado, abandonado de vez. O abandono de uma área atrai o crime, afeta os valores das propriedades ao redor e pode prejudicar a saúde pública. No caso de Teresina, percebe-se que as ações da Gestão para controlar estes problemas são tímidas ou foram equivocadas. De modo geral, as principais causas da degradação nas áreas centrais urbanas são a interação não planejada e mal coordenada de atividades socioeconômicas, institucionais e técnicas.
pensarpiaui - O urbanismo oferece soluções para o problema? Quais?
Sim. Através do planejamento urbano estratégico é possível reverter a situação de abandono das áreas centrais. Devolver vitalidade à área é a meta principal neste caso. O instrumento básico para isso consiste na criação de um plano abrangente de uso do solo e no alinhamento de incentivos e estratégias de financiamento de projetos para reter e atrair empregos, apoiar projetos artísticos e de entretenimento e desenvolver projetos residenciais e de varejo para a área. Para o centro da cidade voltar a atrair pessoas é preciso dar aos seus espaços públicos algumas características projetuais que o tornem uma localização de boa qualidade. Por exemplo, ruas, praças e calçadas que se conectam com espaços públicos precisam permitir acesso igualitário a todos os moradores. Isso acontece quando o desenho urbano utiliza o conceito de "ruas completas", o que significa que as ruas devem ser acessíveis, seguras e centradas nas pessoas. Outra coisa a considerar é a exploração de novas formas de revitalização, como intervenções de urbanismo tático, que permitem uma maior variedade de usos de um espaço. Outra estratégia é criar políticas públicas que reforcem a economia local através da implantação de programas para a recuperação de espaços públicos ampliação do seu uso para a realização de feiras e festivais culturais, de programas voltados para o retorno do uso residencial na área, de programas de recuperação de propriedades vazias e de uso dos imóveis tombados. Redução dos impactos ambientais também é uma estratégia interessante. Para isso poderíamos converter propriedades vagas em infraestrutura verde, capacitar residentes da comunidade e estabilizar mercados imobiliários disfuncionais. Outra proposta seria criar programas e políticas de recuperação de propriedades vazias; transferir propriedades abandonadas para novos usos; criar um centro de recursos habitacionais, impor imposto sobre propriedades abandonadas, (agilizar execuções fiscais, criar uma força-tarefa de fiscalização, usar mandado de inspeção) e ampliar a reutilização dos imóveis.
pensarpiaui - Já fez propostas para a Prefeitura? Quais? Qual a resposta da prefeitura?
Sim. Apresentamos à PMT em 2017, ao superintende da antiga região Centro Norte, uma proposta para devolver a vitalidade à área central de Teresina. A proposta se baseava no aproveitamento da rede de praças do Centro e da existência de pontos importantes relacionados a história cultural da cidade como o Mercado Central, a casa onde morou Torquato Neto, o Troca-Troca e os imóveis tombados pelo IPHAN. A ideia que orientou o projeto proposto foi interligar o setor do turismo e a atividade cultural para ampliar as atividades econômicas no bairro. O projeto consiste na criação de uma rota cultural de visitação que além de valorizar a identidade patrimonial, cultural e natural representativa do local e ao mesmo tempo solucionar os problemas do bairro, também se constitui em investimento econômico com previsível retorno positivo. Sua execução seria viabilizada através de uma PPP que envolveria os comerciantes estabelecidos no percurso da Rota. Aliás, este projeto foi apresentado e publicado no 4o COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO, realizado em Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016., com o título A UTILIZAÇÃO DE ROTAS CULTURAIS PARA A QUALIFICAÇÃO DE CENTROS HISTÓRICOS OBSOLETOS. Ele foi desenvolvido no âmbito da disciplina de Projeto de Urbanismo II do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPI.
Acompanhe agora o trabalho fotográfico feito pelo profissional Nassar Jadão especialmente para o pensarpiaui
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