Bolsonaro conseguiu o que queria?
Bolsonaro mostrou que tem grande capacidade de mobilização
Por Luis Feipe Miguel, professor, no facebook
É difícil comparar o público das manifestações de ontem com o 7 de setembro do ano passado. Tinha muita gente, tanto antes como agora, mas foi mais ou foi menos?
Isso importa pouco. Bolsonaro mostrou que tem grande capacidade de mobilização - alavancado por fartíssimo financiamento, é verdade. Mostrou também que conta com a cumplicidade dos militares, que não se furtaram a cumprir seu papel no sequestro das comemorações do bicentenário da independência.
O desvirtuamento da festa cívica, transformada em evento de campanha, valeria a impugnação de sua candidatura. Mas ninguém acredita que a Justiça vá agir. Também merecia punição o golpismo insinuado nas falas de Bolsonaro e explicitado nas faixas do público e nos discursos de muitos de seus apoiadores. Mas o Supremo, parece, prefere comemorar que foi menos atacado.
Como evento de campanha, o 7 de setembro não foi um sucesso. Bolsonaro continua falando só para seus fiéis.
Dado o pífio efeito das medidas eleitoreiras, ele teria que mudar o registro, para reduzir a taxa de rejeição e conquistar mais votos. Mas parece incapaz de fazer isto.
Como preparação para um golpe, o 7 de setembro também não funcionou. Há muita gente ensandecida, querendo ditadura? Há. Mas não parece haver força ou liderança para a virada de mesa que Bolsonaro insinua.
O saldo para ele, portanto, é mesmo a capacidade de mobilização. É seu trunfo para ver se escapa da cadeia, depois de sair do poder. Resta saber se essa capacidade de mobilização continua, sem os recursos públicos - e talvez com menos interesse dos empresários que hoje o cercam e adulam.
De todo jeito, punir Bolsonaro e seus próximos, por tudo o que fizeram nestes anos, é uma condição necessária para a reconstrução da democracia no Brasil.
Pagamos - continuamos pagando - um preço muito alto por não termos punido os torturadores de 1964. Por covardia, por falta de tirocínio político, tudo travestido em "conciliação".
Não vamos repetir o mesmo erro. É preciso mostrar que atos têm consequências.
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