Cultura

"Asa Branca" a música regravada mais de 500 vezes em mais de dez idiomas

Com sanfona e poesia, Luiz Gonzaga transformou a realidade do sertão em símbolo nacional


Reprodução "Asa Branca" a música regravada mais de 500 vezes em mais de dez idiomas
Luiz Gonzaga

Luiz Gonzaga nasceu em 1912, na cidade de Exu, no sertão de Pernambuco. Filho de um lavrador que também dominava a arte de tocar e consertar sanfonas, teve contato precoce com o instrumento que marcaria sua trajetória. Ainda na adolescência, começou a se apresentar em feiras e forrós, sempre ao lado do pai.

Na década de 1930, alistou-se no Exército e percorreu vários estados brasileiros durante a Revolução de 1930. Após deixar a carreira militar, decidiu seguir seu verdadeiro chamado: a música.

Instalado no Rio de Janeiro, começou a tocar em bares e participar de programas de calouros. Foi em 1941, durante uma apresentação no programa de Ary Barroso, que sua carreira deu um salto. A execução da música “Vira e Mexe” lhe rendeu aplausos entusiasmados e um contrato com a gravadora RCA Victor.

A partir de então, Gonzaga lançou uma série de sucessos — tanto instrumentais quanto cantados — e tornou-se o principal divulgador dos ritmos nordestinos, como o baião, o xote e o forró pé de serra. Com seu icônico chapéu de couro e a inseparável sanfona, deu voz às alegrias e às dores do povo sertanejo, falando sobre temas como a seca, a miséria e a desigualdade no Nordeste.

"Asa Branca": o símbolo do sertão

Em 1947, ao lado do parceiro Humberto Teixeira, compôs “Asa Branca”, uma das canções mais marcantes da música brasileira. A gravadora inicialmente resistiu à ideia de lançá-la, por considerá-la melancólica demais. Determinado, Gonzaga impôs uma condição: só continuaria na RCA se pudesse gravá-la. A aposta foi certeira — a música se tornou um fenômeno.

“Asa Branca” fala da migração forçada causada pela seca e usa como metáfora a ave que abandona a terra castigada em busca de sobrevivência. Com versos sensíveis, como “Quando olhei a terra ardendo, qual fogueira de São João...”, a canção emociona e se firmou como um verdadeiro hino de resistência e identidade do povo nordestino.

A obra foi gravada mais de 500 vezes, em mais de dez línguas. Artistas consagrados como Zé Ramalho, Elis Regina, Gilberto Gil, Fagner, Elba Ramalho e Raul Seixas (em versão em inglês) interpretaram a música. Em 2009, a revista Rolling Stone Brasil a classificou como a 4ª maior canção brasileira de todos os tempos.

Luiz Gonzaga faleceu em 1989, no Recife, vítima de uma parada cardiorrespiratória. Mesmo décadas após sua morte, seu legado permanece vivo — nas festas juninas, nas rádios, nas escolas e nas memórias de milhões de brasileiros. Mais do que uma música, “Asa Branca” representa uma identidade. É a alma do sertão em forma de canção.

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