Política

Armações das elites

Toda vez que ocorre operação da Polícia Federal contra petistas, em ano de eleição, é sinal de que a campanha iniciou pra valer

  • segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Foto: Montagem pensapiauiManchetes

Por Wellington Soares, professor e escritor 

Toda vez que ocorre operação da Polícia Federal contra petistas, em ano de eleição, é sinal de que a campanha iniciou pra valer. E de preferência, segundo o script das elites, pra ferrar não só o PT como os demais partidos de esquerda, colocados, todos, indistintamente, num mesmo saco de pancadas. 

Entra eleição e sai eleição, vez que o brasileiro esquece tudo, a história volta a se repetir como farsa grotesca, responsabilizando os candidatos progressistas pelas mazelas seculares do país: corrupção, aparelhamento do estado e crise econômica. Por ordem da Justiça, através do MPF e da PF, realizam ações espetaculares e midiáticas a fim de enterrar suas reputações. E, com isso, claro, deixam de se eleger.  

Algum tempo depois, com o estrago já feito, descobre-se que tais candidatos eram inocentes, com inquéritos arquivados por falta de provas. E a mídia comercial que fizera um estardalhaço na época das operações, aliada das forças econômicas e políticas conservadoras, presta o “favor” de divulgar tais resultados de forma discreta, quase  imperceptível. 

Para refrescar a memória, vamos destacar três casos emblemáticos, entre muitos, envolvendo candidatos petistas, vítimas dessas armações em período eleitoral. Não só eles quanto o próprio partido, local e nacionalmente. Tudo isso pra pedir ao eleitor, ainda mais no atual governo fascista de Bolsonaro, a não se deixar ludibriar por essas e outras maquinações diabólicas de nossas elites.  

SEQUESTRO DO ABÍLIO DINIZ 

Em pleno segundo turno da eleição presidencial de 1989, a primeira realizada pós-ditadura, a polícia militar de São Paulo inventa participação do PT no sequestro do empresário Abílio Diniz, na época executivo do grupo Pão de Açúcar, inclusive obrigando um dos sequestradores a vestir uma blusa estampando a estrela do partido. O restante da trapaça, que veio à tona depois, coube à imprensa burguesa montar direitinho, feito com bastante escarcéu. Sem falar também da manipulação do debate entre Lula e Collor, confessada depois por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, então vice-presidente da TV Globo. Resultado: Lula perdeu a eleição pra Fernando Collor. Na eleição de 2018, a sacanagem foi ainda maior, com os procuradores da Lava Jato, que substituíram provas por “convicções”, mandando prender e tornando Lula inelegível. Tal farsa jurídica, exposta pelo The Intercept depois, permitiu a extrema-direita chegar ao governo federal. E culpam o PT essas elites, na maior cara de pau do mundo, pela eleição de Bolsonaro. 

FERNANDO HADDAD 

Em setembro de 2018, o Ministério Público de São Paulo denunciou Fernando Haddad, candidato do PT à presidência da República, por improbidade administrativa ao pedir R$ 2,6 milhões à construtora UTC Engenharia para quitar dívidas de campanha anterior. Lançada a suspeição, a mídia televisiva e impressa, já sabedora de seu papel no banquete dos poderosos, caiu de pau sem dó nem piedade no ex-ministro da Educação dos governos Lula e Dilma. Resultado das urnas: Bolsonaro levou a melhor no segundo turno. Há poucos dias, os desembargadores da 7ª Câmara de Direito Público do TJ-SP reafirmaram, por unanimidade, a absolvição de Haddad, decretada em dezembro de 2019, pela 8ª Vara de Fazenda de São Paulo.  

FERNANDO PIMENTEL 

A Operação Acrônimo deflagrada em 2015, sob o comando da Polícia Federal, tinha por objetivo incriminar o ex-governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, pelo crime de lavagem de dinheiro oriundo de contratos com grandes empresas em troca de vantagens junto ao BNDES. Na última terça-feira (28), a Justiça determinou o arquivamento do inquérito por falta de provas.  Antes, ele já havia sido absolvido, pela Justiça Eleitoral do estado, da acusação de caixa 2 na campanha de 2010. Massacrado no noticiário, o ex-governador não conseguiu a reeleição ao governo de Minas em 2018, tampouco Dilma Rousseff ao senado federal.

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