Política

Agressividade de Bolsonaro é reflexo de seu isolamento

O presidente voltou a açular seus cães de guerra e reassume, ele próprio a liderança da matilha

  • sexta-feira, 7 de maio de 2021

Foto: O Liberalxx

Por Fernando Brito, jornalista, no Tijolaço

Jair Bolsonaro teve hoje cedo mais um de seus chiliques diários, dizendo para os que não acreditam na cloroquina – mais ou menos o mundo inteiro – não tomem e “não encham o saco”.

Depois de uma temporada “Jairzinho Paz e Amor”, no final do ano passado e no início deste, para consolidar seu acordo com o “Centrão” e assegurar o controle sobre o Congresso, o presidente voltou a açular seus cães de guerra e reassume, ele próprio a liderança da matilha.

Que não lhe faltam estupidez e desejos antidemocráticos para isso, ninguém duvida.

Mais importante, porém, é refletir sobre aquilo que o está levando a uma postura semelhante à de 2018, embora num quadro político em tudo diferente daquele.

Jair Bolsonaro não tem ilusões de que vá conseguir apoio entre as forças políticas da direita convencional, mas considera essencial manter a fidelidade canina do pensamento medíocre e simplório dos que acreditam em qualquer bobagem milagrosa a que apele.

Contra a Covid, cloroquina; contra a violência, “CPFs cancelados” e armas a granel; contra a crise econômica, o desregramento total da economia e das garantias do trabalho. O sucesso, o progresso e o bem-estar vêm da falta de regras, não de políticas públicas.

Trata-os como merecedores de um igual “não encha o saco”, já que o “vai pra Cuba” perdeu o impacto.

E a razão disso é que conta ser capaz de vencer as eleições – ou chegar perto disso, alegar fraude e apelar para uma solução de força – mesmo com o seu apoio reduzido, oscilando entre um terço e um quarto da população, porque uma parcela da classe média ainda votaria no “cão” para não votar em Lula, abrigada sob o argumento da corrupção que alguns tantos taturanas, mesmo depois das decisões que tornaram Lula inocente, brandem estridentemente.

Tanto é assim que seguem procurando derivativos eleitorais que não surgiram e não vão surgir, porque os partidos políticos foram destruídos na sanha da demolição do petismo.

Tudo isso resultaria, em condições normais, em uma espera de ano e meio até as eleições que, no quadro de hoje, teriam o resultado previsível de uma vitória de Lula.

Mas não é assim, infelizmente.

Neste país que perdeu seus amortecedores políticos, cada crise traz o risco de um desfecho fora das regras da democracia. A distância que nos separa de uma tentativa de golpe por Bolsonaro ou de seu impedimento e a queda do país num quadro de ingovernabilidade não só é pequena quanto não tem os obstáculos morais que tornem um passo destes uma decisão extraordinária, onde a razão a desestimule.

Um presidente moralmente microscópico, mas que urra e berra como um gigante, transforma a política, necessariamente, em coisa miúda, numa guerra de tortas de lama, porque é o único cenário onde pode levar vantagem.

Mas só se estiver mesmo nos ombros de um Exército que não se envergonhe de sair enlameado desta era de baixarias em que vive o Brasil.

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