A histórica vitória de 'Ainda Estou Aqui', Veja repercussão e importância
Cineasta Walter Moreira Salles dedica o prêmio a Eunice Paiva

Pela primeira vez, o Brasil venceu o Oscar de Melhor Filme Internacional com o longa Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles. Ao receber a estatueta, o cineasta dedicou a conquista à protagonista da história real que inspirou a trama.
"Uma honra imensa. Este prêmio é para uma mulher que sofreu uma perda irreparável. Ele pertence a Eunice Paiva e às mulheres extraordinárias que a interpretaram, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro", declarou Salles.
A produção narra a luta de Eunice Paiva, mãe de cinco filhos, após o desaparecimento e assassinato de seu marido, o engenheiro e ex-deputado Rubens Paiva, durante a ditadura militar. O roteiro é baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, filho do casal, que transformou a tragédia familiar em um relato poderoso sobre os crimes do regime.
A vitória é histórica para o Brasil, que antes havia sido indicado quatro vezes na categoria com O Pagador de Promessas (1963), O Quatrilho (1996), O Que É Isso, Companheiro? (1998) e Central do Brasil (1999), sem nunca conquistar a estatueta. A conquista também reacende o debate sobre o período de repressão e autoritarismo vivido pelo país.
Quem foi Eunice Paiva?
Interpretada por Fernanda Torres, Eunice Paiva foi uma figura marcante na luta contra a ditadura militar. Em 1971, agentes do regime invadiram sua casa e levaram seu marido, Rubens Paiva, que nunca mais retornou. Durante anos, o Estado omitiu a verdade sobre o caso, mas hoje se sabe que ele foi torturado e assassinado pelo DOI-Codi.
Sozinha e com cinco filhos para criar, Eunice tornou-se advogada e passou a atuar na defesa de perseguidos políticos, consolidando-se como uma referência na luta pelos direitos humanos. Sua história se tornou símbolo da busca por justiça e verdade no Brasil.
A luta de Rubens Paiva contra a ditadura
Rubens Paiva, ex-deputado federal pelo PTB, foi um dos principais denunciantes da participação dos Estados Unidos no golpe militar de 1964. Cassado e exilado após a ruptura democrática, ele denunciou a Operação Brother Sam, plano do governo norte-americano para apoiar os militares brasileiros. Em 1971, foi preso, torturado e assassinado pelo regime. Seu corpo nunca foi entregue à família. Somente em 2014, a Comissão Nacional da Verdade confirmou a responsabilidade do Estado em sua execução.
Lula e Dilma celebram a conquista
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou o Oscar nas redes sociais, destacando o orgulho pelo cinema brasileiro e pela democracia. "Hoje é um dia de sentir ainda mais orgulho de ser brasileiro. Parabéns a Walter Salles, Fernanda Torres, Fernanda Montenegro, Selton Mello e todos os envolvidos nesta obra extraordinária que mostrou ao mundo a importância da luta contra o autoritarismo", declarou.
A ex-presidenta Dilma Rousseff também se manifestou, enfatizando a importância do filme como um tributo às vítimas da ditadura. "Este é um reconhecimento da força da cultura brasileira e da nossa história. A história de Eunice e Rubens Paiva só pode ser contada com profundidade graças ao trabalho da Comissão Nacional da Verdade, que ajudou a esclarecer os crimes do regime", afirmou Dilma.
Fernanda Torres faz história no Oscar
Apesar de não vencer o prêmio de Melhor Atriz, Fernanda Torres entrou para a história como a segunda brasileira indicada na categoria, seguindo os passos de sua mãe, Fernanda Montenegro, indicada por Central do Brasil em 1999. O Oscar ficou com Mikey Madison por Anora, mas a interpretação de Torres foi amplamente elogiada, com o The New York Times chegando a apontá-la como favorita.
Um marco para o cinema nacional
Ainda Estou Aqui reafirma o potencial do cinema brasileiro em contar histórias impactantes e necessárias. O reconhecimento da Academia fortalece a produção nacional e amplia a visibilidade das lutas por memória, verdade e justiça.
Com essa vitória, o Brasil entra para a história do Oscar e celebra um cinema que, mais do que entreter, tem o poder de transformar.
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