Um Lula moderado e acenos do Centrão, o que vem por aí?
Veja a análise do sociólogo Ruda Ricci sobre a entrevista de hoje do ex-presidente Lula

Por Rudá Ricci, sociólogo, no twitter
O Ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, tomou atitude de impacto gigantesco. Fachin um apoiador da Operação Lava Jato, se desesperou e antecipou a campanha de 2022.
O ministro Fachin procurou, já está nítido, preservar minimamente o juiz Sérgio Moro e o legado da Operação Lava Jato ao anular os processos contra Lula por terem sido julgados por um foro não competente. A 13ª Vara Federal de Curitiba. As vara competente seria a do DF
Fachin afirmou que retirou-se os casos que não se relacionavam com os desvios praticados contra a Petrobras" e foram distribuídas por todo território nacional as investigações que tiveram início com as delações premiadas da Odebrecht, OAS e J&F, caso das acusações contra Lula
A redistribuição será automática e devem envolver a 10ª Vara Federal ou a 12ª Vara Federal, especializadas em crimes relacionados a sistema financeiro, lavagem de dinheiro e organização criminosa, e contam com Juizado Especial Federal Criminal Adjunto
Fachin não tocava no mérito da matéria - se as sentenças foram corretas ou não - e dava condições, até então, para a Vara Federal do DF que assumir o julgamento de Lula reaproveitar provas e, com isso, acelerar as suas decisões sobre o caso. Por que teria feito tal manobra?
Por que o ministro Fachin percebia que a 2a Turma do STF - da qual ele faz parte e é presidida pelo ministro Gilmar Mendes - apontava tendência para colocar Sérgio Mouro sob suspeição em todas sentenças que proferiu contra Lula. Procurava, assim, extinguir esta suspeição
Tentou, mas não levou. Gilmar Mendes se antecipou e colocou o julgamento sobre a suspeição do então juiz Sérgio Moro na 2a turma. E a 2a turma aprovou a retomada do julgamento iniciada em 2018. Em 2018, Fachin e Cármen Lúcia votaram a favor de Moro.
Acontece que a ministra Cármen Lúcia vem sinalizando que alterará seu voto. Ontem, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski votaram contra Moro. A 2a turma possui 5 membros, se a ministra alterar seu voto, Moro terá sido condenado. O que muda?
Se Moro for absolvido na acusação de ter manipulado politicamente o processo de julgamento de Lula e ter sido imparcial, terá conseguido sobrevida política. Como é jovem e ambicioso, possivelmente procurará mobilizar segmentos sociais radicais com pendor de extrema-direita
Contudo, se for sentenciado como suspeito, praticamente acaba qualquer ação contra Lula e coloca a grande imprensa e todos que lideraram a Cruzada contra Lula numa situação vexatória, incluindo boa parte do PSDB. Em minha opinião, a Nova República será retomada. Com força

A Nova República é uma baliza que definiu um acordo entre elites políticas, econômicas e militares. Preservou militares (no espírito da Anistia pós-ditadura), definiu políticas sociais sem alteração da ordem econômica e reservou ao campo institucional a liderança política
Nesse sentido, o movimento de Fachin cravou uma estaca no coração da concepção ativista de parte do judiciário brasileiro. E recolou Lula moderado no centro da política nacional. O Centrão parece ter caído de cabeça nessa nova "ordem política" inaugurada há poucos dias.
A sequência de tuítes publicada pelo deputado Rodrigo Maia enquanto Lula falava à grande imprensa, hoje, na sede do sindicato dos metalúrgicos do ABCD, é reveladora de como o Centrão percebe que o bolsonarismo desgovernou o país.

Não apenas Rodrigo Maia, mas os tuítes do atual presidente da Câmara dos Deputados e um dos líderes do Centrão que faz acordos com os generais Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos que estão instalados no governo Bolsonaro.

O desgoverno de Bolsonaro colocou o Brasil numa rota de colisão. Perdemos posição no ranking dos PIBs nacionais no mundo; somos a 4a moeda nacional mais desvalorizada em 2020; tivemos queda recorde de investimentos públicos; tivemos queda recorde de mortes por Covid19
O "país do Centrão" parece ser o país de Lula. Um Lula moderado, que prega a conciliação nacional pela retomada da ordem instalada na Nova República. Retoma, assim, o projeto forjado entre 2006 e 2010
O Brasil viveu uma aventura desde 2015, incluindo o início desastroso do segundo mandato de Dilma Rousseff. A partir daí, saímos dos trilhos e tivemos uma onda de radicalismos políticos (com traços fascistas) e econômicos (ultraliberais).
Mais uma vez, os militares brasileiros cometeram um erro político grave que abala sua imagem de competência. Deu aval a esta aventura que alinhou Operação Lava Jato, Dalagnol, Sérgio Moro e Jair Bolsonaro. A grande imprensa não sai ilesa. Mas, o Centrão, como todo camaleão...
Penso que estamos ainda na corda bamba. Não há garantias de como a 2a Turma do STF (que adiará a decisão por, no mínimo, 20 dias com o pedido de vista do ministro Kássio) e teremos um longo percurso para recolocar o país nos eixos
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