Pensar Piauí

Um Chico, outro Xico

Um Chico, outro Xico

O país que tem um cantor, compositor e cidadão do quilate de Chico Buarque de Holanda, não é qualquer país. Chico Buarque é unanimidade (ou era até tempos não tolerantes como o atual). Sua obra é sinônimo de arte pura.

Mas o Brasil não se contentou apenas com um Chico. Foi buscar outro, e este como bom cearense que é não nega as raízes, ele é escrito com "x", Xico Sá. Jornalista e escritor.

Atualmente Xico Sá é colunista do jornal El País. Ontem, Xico escreveu sobre o Chico e o pensarpiaui compartilha com o seu leitor esta beleza dos dois Franciscos.

Quando Chico Buarque chegou Xico Sá

O golpe pode até triunfar, as tramoias e as tenebrosa transações envolvidas são gigantescas, tem dinheiro da FIESP, tem dinheiro pesado do estrangeiro, tem muito cacau na parada, mas nada foi e nunca será tão bonito como ver, bem de pertinho, Chico Buarque de Holanda chegando ontem no Largo da Carioca para o protesto pela democracia. Rapaz, que emocionante, a gente acha que já viveu tudo. A gente nunca viveu nada.

Que bom, digo, que bom que, por mais que muito careca, ainda sobram pêlos para nos arrepiar na vida. Estamos vivos. Estamos prontos. Às vezes a gente se julga à prova de emoções. Que bobagem. Os pêlos, pelo amor de Deus, nos traem. Os olhos do velho Chico brilhavam. Não eram verdes àquela altura, eram clorofilados pelo sol (de Albert Camus) da resistência.

Meninos fracos

Os meninos novos ficam aí nas redes dizendo que Francisco foi lá por receber da Lei Rouanet etc. Quanta bobagem. De que o xará precisa? Sempre foi um grande artista que vive dos seus discos, dos seus livros e do amor que nos desperta, ai sim, a grande moeda da existência. Se depender disso, me orgulho de sustentar esse homem. Banco.

Foi bonita a festa, pá, fiquei contente. Que beleza, diante de tanta obviedade golpista ir para as ruas e defender o contrário. O mundo tem que saber disso. O mundo já sabe faz tempo. O mundo tem que saber, apesar dos jornais e dos telejornais, que existe outra gente. Às vezes a gente, diante de tantos paneleiros pautados pela televisão, acha que só existe esse tipo de pessoa na varanda. Não. Estamos vivos. E nos olhos do Chico nos clorofilamos.

E no reencontro com Mano Brown outro dia no aeroporto de Congonhas ficamos mais vivos ainda. Se o lead da imprensa nos mata, essa gente nos ressuscita. Chico, Brown, a massa etc. Se bem que com o Brown só falamos do que mais interessa no mundo: O Santos Futebol Clube. Valeu, irmão. Sempre. Sabe ainda a Copa do Brasil, aquela noite esquisita do Peixe? Contra o Palmeiras. Só falamos sobre isso. Nós.

Chico na carioca

No que o xará deu a letra: “No sinal fechado/
Ele vende chiclete/ Capricha na flanela
E se chama Pelé/Pinta na janela
Batalha algum trocado/Aponta um canivete
E até/Dobra a Carioca, olerê...”

No que Francisco chegou tão lindamente na Carioca, carajo, a praça sentiu a presença, ele entrou decentemente, mirando nos olhos da humanidade, crente nos homens e mulheres que estavam à sua frente, crente em quem é livre para pensar diferente da tese única da mídia golpista brasileira.

Ufa!

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