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Transferência de Lula foi contraofensiva da Lava-Jato?

Transferência de Lula foi contraofensiva da Lava-Jato?

Foto: GoogleRepublica de Curitiba
Republica de Curitiba

Por Sérgio Fontenele, jornalista A reação do Supremo Tribunal Federal (STF) à esdrúxula decisão dos juízes Carolina Lebbos – responsável, na Justiça Federal, pelas decisões sobre a custódia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – e Paulo Eduardo de Almeida Sorci – representante da justiça estadual de São Paulo – foi cabal, pronta e imediata. O fato surpreendeu o País, acostumado com a sucessão de decisões judiciais respaldando a condenação e prisão do líder petista, também retirado do processo eleitoral de 2018, quando estava disparado nas pesquisas. Não se esperava, de forma tão rápida, que o plenário do STF, por 10 votos a 1, suspendesse as decisões dos dois magistrados, no sentido de transferir o ex-presidente para o presídio de Tremembé (SP), para que lá permanecesse encarcerado, em cela comum, ao lado de presidiários condenados por bárbaros crimes de homicídio. A surpresa se deve à sequência de atitudes do Supremo, que vinha corroborando praticamente todas as sentenças originárias da Operação Lava-Jato relacionadas a Lula. Desta vez, foi diferente. Chamava a atenção a aparente submissão da Corte Suprema aos ditames da força-tarefa apelidada de “República de Curitiba”, assinando em baixo tudo o que vinha das mãos do então juiz federal Sérgio Moro e dos procuradores federais dessa operação, ao arrepio da lei e Constituição Federal de 1988. Apresentada como um grupo de super-heróis brasileiros, que supostamente surgiram para salvar o Brasil da corrupção, a Lava-Jato parecia realmente estar acima das leis, da Constituição, de tudo e todos. Mas esse castelo de cartas começa a desmoronar. Fora do cálculo O que Moro e sua turma não calcularam foi o risco de que seus atos fossem desmascarados – e de maneira tão precoce – através da revelação das respectivas mensagens trocadas em chat implantado no aplicativo Telegram. Reveladas pelo site The Intercept Brasil, às vezes em consórcios estabelecidos com grandes veículos e profissionais de imprensa, as mensagens tornaram público o que já se sabia, porém, não se podia comprovar, quanto às fraudes processuais ocorridas no contexto da atuação da força-tarefa. Acusada de praticar uma espécie de macarthismo dos trópicos, lawfare, contra os petistas, a Lava-Jato impressionou tanto pelo que conseguiu fazer quanto pelo que a motivou, ocultamente, na verdade, o ódio genérico e patológico aos segmentos da sociedade identificados com o PT, as esquerdas e os “comunistas” em geral. Seu caráter partidário-ideológico, de extrema-direita, foi finalmente revelado, confirmando todas as suspeitas que pairavam em torno de tal fenômeno acontecido no judiciário brasileiro. A carta na manga, portanto, da “República”, transferindo Lula para Tremembé, faria parte de um conjunto de ações combinadas visando conter o processo de desgaste provocado pela revelação das mensagens trocadas avidamente no Telegram. Isso inclui a sinistra Portaria 666 – o número da besta, segundo o Apocalipse, 13:18 – e a Operação Spoofing, que prendeu os hackers de São Paulo, Araraquara e Ribeirão Preto. Felizmente, foram contidos pelo STF, que desta vez se impôs e fez prevalecer o estado democrático de direito, tão ameaçado.

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