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Sinônimo de viagem de pobre, Itapemirim vai entrar no setor de aviação

A nova companhia aérea vai contratar 600 profissionais e começará a voar em março de 2021 ​

Foto: PensarPiauíItapemirim
Itapemirim


Na contramão do setor aéreo mundial, que sofre os efeitos da pandemia de covid-19, o grupo Itapemirim, de transporte rodoviário, vai iniciar na sexta-feira (9) um processo de recrutamento para sua nova companhia de aviação. No total, 600 profissionais serão contratados para diversas áreas, como pilotos, copilotos e comissários de bordo. O objetivo da empresa é começar a voar em março de 2021.

Para cada aeronave, serão necessários 67 funcionários, tanto de tripulação como de operação em solo, diz o presidente da Itapemirim, Rodrigo Vilaça. Segundo ele, até o fim do ano a empresa receberá três aviões Airbus A320 de um total de dez previstos para a primeira fase. O primeiro chega ainda neste mês. Se tudo correr como o planejado, ao fim de três anos, serão 56 aeronaves. A empresa, que se chamará Ita Transportes Aéreos, foi anunciada em fevereiro pelo sócio do grupo Sidnei Piva.

Inicialmente, falava-se que um fundo dos Emirados Árabes Unidos financiaria o projeto, o que não se confirmou. Vilaça afirma que hoje o grupo – que está em recuperação judicial – conversa com dois outros fundos, mas que ainda não fechou nenhum acordo. Por enquanto, a nova empresa, presidida por Tiago Senna, está sendo financiada com capital próprio. Quase 50 pessoas estão trabalhando para colocar o projeto de pé, diz Vilaça, destacando que a criação da companhia aérea está prevista no processo de recuperação.

Ele diz que a Ita Transportes Aéreos nasce dissociada da recuperação judicial, livre de qualquer dívida. E é por isso que Vilaça acredita que o momento seja o ideal para a companhia começar a voar, uma vez que algumas das concorrentes estão em dificuldades financeiras. “Não estamos carregando nenhuma estrutura pesada. Vamos começar com uma operação limpa”, diz o presidente da Itapemirim.

Rodrigo Vilaça conta também que o âmbito do projeto mudou de regional para nacional, por causa da pandemia. No planejamento que está em aprovação na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a empresa possuirá hub em quatro aeroportos: Guarulhos (SP), Galeão (RJ), Brasília (DF) e em mais alguma cidade do Nordeste, que ainda não foi definida. Serão, no total, 16 aeroportos no País.

O advogado especialista no setor aéreo, Felipe Bonsenso, afirma que há, hoje, num país do tamanho do Brasil, espaço para uma companhia aérea nova. Esse espaço ficou ainda maior após a falência da Avianca Brasil.

De acordo com ele, levando em conta a pandemia e a queda da demanda - implicando na queda da oferta -, os serviços retornarão de forma gradual.

“E é justamente nesse nicho que acredito que a Itapemirim poderá se sair muito bem, já que possibilita crescimento orgânico da atividade dessa nova companhia. Ou seja, não tem de lidar com uma folha de pagamento substancial nem custos fixos já elevados (em comparação com as outras empresas existentes).” Bonsenso acredita que a Itapemirim vá se adequando à demanda, da mesma forma que fizeram a Gol e a Azul anteriormente.

O Grupo é formado pelas empresas Viação Itapemirim S/A, Transportadora Itapemirim S/A, Ita Itapemirim Transportes S/A, Imobiliária Bianca Ltda., Cola Comercial e Distribuidora Ltda, Flecha S.A Turismo Comércio e Indústria e Viação Caiçara Ltda.

Itapemirim

A Viação Itapemirim S.A. é considerada atualmente como uma das mais tradicionais do ramo de transporte rodoviário no Brasil e sempre ficou conhecida pela qualidade de seus serviços prestados. Transporta 3,2 milhões de pessoas por ano em mais de dois mil municípios do Brasil, em 22 estados do Brasil (inclusive o Piauí), cobrindo 70% do território nacional.

A empresa foi fundada em 1953, no município de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo por Camilo Cola. Durante toda a década de 50, a Itapemirim cresceu cada vez mais: das simples jardineiras que a Itapemirim oferecia aos seus passageiros, a Viação começou a adquirir seus primeiros novos ônibus da General Motors, todavia, a manutenção e os reparos dos veículos eram feitos exclusivamente na oficina mecânica da empresa, que funcionava num barracão alugado.

No ano de 1967, a Itapemirim adota em seus veículos a cor que seria um dos maiores símbolos da empresa até hoje: o amarelo.  Em 1973, a Itapemirim adquire a Empresa Nossa Senhora da Penha, de Curitiba. Com isso, a empresa de Camilo Cola passou a atuar ativamente também no Sul do país.

Adentrando na década de 80 com uma frota de aproximadamente 1500 ônibus, a Itapemirim começar a operar a rota Rio/SP/Rio. A viação aproveitara um período de grande euforia econômica no país, embalado pelo fim do Regime Militar, no qual os transportes rodoviários cresciam a índices altíssimos.

A empresa inaugura sua própria fábrica de ônibus, a Tecnobus, que seria responsável, no final de 1984, pelo lançamento da segunda geração do Tribus, gerando muito sucesso.

No ano de 1998, a empresa lança o Golden Service, que oferece o conforto de um ônibus leito por uma tarifa econômica de um executivo.

Nos anos 2000, a Viação Itapemirim consegue manter um ritmo considerado de crescimento se mantendo firme no mercado de transportes no Brasil. Contudo, a concorrência cresce, com destaque para sua maior rival Gontijo que em 2003, adquire a São Geraldo. A empresa passaria a enfrentar diversas outras dificuldades na segunda metade da década.

Em 2008, morre a esposa de Camilo Cola, Inês Massad Cola, originando uma disputa judicial entre alguns herdeiros. Nessa mesma época, a empresa já acumulava uma dívida de 200 milhões de reais e amargava uma considerável queda nas vendas de suas passagens entre os anos de 2005 e 2006.

No ano de 2015, o grupo decide vender 40% de sua frota de veículos e transfere diversas linhas para a Viação Kaissara. Com isso, a Itapemirim passa a operar 50 linhas que equivalem a 43% da fatia de mercado em que atuava antes da venda.

No dia 7 de março de 2016, a Viação Itapemirim entrou com um pedido de recuperação judicial diante do agravamento de sua crise, com dívidas já ultrapassando R$ 300 milhões onde boa parte incluem-se dívidas trabalhistas.

O pedido foi aceito pela 13º Vara Cível Especializada Empresarial de Vitória no dia 21 de março e com isso a empresa recebeu um prazo de 60 dias para apresentar um plano de recuperação.

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