Política

Se não há condições para a saída de Bolsonaro é porque nós não fomos capazes de criá-las

Fazer do #ForaBolsonaroJá uma exigência cada vez mais forte e disseminada, é um dos passos desse trabalho

  • terça-feira, 5 de maio de 2020

Foto: Conversa AfiadaFora Bolsonaro

 

Por Luis Felipe Miguel, no facebook 

É claro que é difícil.

A classe dominante brasileira ainda não virou a chave - desde o golpe, está empolgada com a possibilidade de impor seu programa máximo, sem qualquer negociação ou concessão. Vê que o ex-capitão nos conduz à catástrofe, mas ao mesmo tempo sabe que ele se tornou uma peça necessária à implementação de seu projeto. Por isso, se aferra à ideia (que já se mostrou desprovida de sentido) de que é possível controlá-lo ou domá-lo.

O Congresso Nacional é o pior de nossa história. A usual maioria de oportunistas é secundada por uma expressiva minoria de direitistas hidrófobos. Seus chefes são provincianos, desprovidos de estatura política, de visão, de coragem - Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre. Com as exceções de praxe, as bancadas de oposição estão acomodadas ao jogo jogado e permanecem passivas.

A covardia do Supremo é notória. Não foi capaz de defender a Constituição quando foi desferido o golpe, nem quando a legitimidade da eleição de 2018 foi turvada por ingerências indevidas, nem a cada episódio de retração de direitos. Seu presidente, Dias Toffoli, é praticamente uma caricatura.

O Exército brasileiro nunca deixou de ser autoritário - os anos de democracia que nós experimentamos não foram capazes de reduzir em um milímetro seu apego à ditadura e seu ódio à igualdade. Mas aderiu ao ultraliberalismo econômico e abandonou o nacionalismo, o que o torna ainda mais insensível às agruras do povo brasileiro.

Nossa situação é ainda mais dramática porque, embora cada vez menos providas de efetividade, as instituições da democracia liberal continuam formalmente de pé, cumprindo uma de suas funções básicas: capturar a imaginação política, canalizar e disciplinar a mobilização, reduzir o espaço do possível.

É difícil. É muito difícil.

Mas sempre é difícil fazer política a partir da posição dos dominados. Essa é, aliás, uma das características elementares da dominação.

Se, para agir, tivermos que esperar a maioria do Congresso, o aval do Supremo, o sinal verde do Estado Maior, o apoio da FIESP, o beneplácito da Rede Globo e o incentivo da embaixada estadunidense, aí é que não vamos fazer nada mesmo.

Ou vamos apenas ficar esperando um deus ex machina, a tal "bala de prata" que, já ficou claro, nunca vem - Rio das Pedras, VazaJato, tic-tac, briga com Moro...

Se não existem condições para a saída de Bolsonaro do poder é porque nós não fomos capazes de criá-las. Podemos lamentar as "condições adversas" e mergulhar na passividade - ou podemos trabalhar para que essas condições surjam.

Fazer do #ForaBolsonaroJá uma exigência cada vez mais forte e disseminada - e há condições para isso - é um dos passos desse trabalho.

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