Salve-se quem puder: o PT está cheio de infidelidade

Foto: Montagem/Pensarpiaui

Franzé Silva, Flora Izabel e Deolindo Moura

O PT está constrangido. Lideranças da sigla pedem votos a candidatos de outros partidos. Isso pode terminar em denúncia no diretório municipal do partido em Teresina.

A deputada estadual Flora Izabel, uma das petistas históricas, está usando a estrutura de seu gabinete, por meio dos assessores, para pedir votos para seu filho, o vereador tucano Venâncio Cardoso, candidato à reeleição.

Vários assessores lotados no gabinete de Flora estão de forma explícita publicando fotos nas redes sociais em campanha eleitoral para o filho da deputada. Venâncio Cardoso fez parte da administração do prefeito Firmino Filho até o começo deste ano, como secretário de Desenvolvimento Econômico. Ele, que está no primeiro mandato de vereador, precisou se afastar do cargo, como manda a lei, para disputar à reeleição.

O militante do PT Sérgio Henrique Abreu, da ala Articulação de Esquerda, é um dos que reclama da postura da colega de partido. Para ele, Flora prejudica o PT na medida em que fortalece os adversários contra um partido que sofreu um duro golpe em 2016 (com o afastamento da presidenta Dilma) e que precisa de vitória nas urnas nas eleições de 15 de novembro para defender o legado da sigla.

"É uma atitude de infidelidade de Flora, que está usando a estrutura que é resultado do acúmulo político do PT para fortalecer seus adversários, fortalecer o projeto dos empresários, da direita. O mandato estadual dela foi conquistado com luta de muitos petistas. Ela está traindo o PT", critica Sérgio Abreu, filiado há 16 anos da sigla.

Para o militante, o mandato da deputada tem obrigação de estar ao lado dos trabalhadores e dos movimentos sociais, nunca do lado dos tucanos, pois estes são neoliberais. Sérgio diz ainda que, além dos assessores de Flora, a própria parlamentar devia votar em candidatura do PT, mesmo tendo um filho tucano. "As relações na política devem se diferenciar das relações pessoais", comenta.

Sérgio afirmou que está esperando terminar a campanha política para tomar as providências. Disse que vai se valer do estatuto do partido, mas não adiantou o que irá fazer.

Polêmica começou ainda em 2016

A polêmica sobre o apoio de Flora a Venâncio começou ainda em 2016, quando o filho, então filiado ao PT, disputaria uma vaga na Câmara Municipal. O pensarpiauí apurou que, na avaliação da deputada, o filho não teria chances de ser eleito pois outros petistas estavam mais bem posicionados nas pesquisas na época, como Dudu e Deolindo, que de fato foram eleitos.

Venâncio, então, com apoio da mãe petista, filiou-se ao Progressistas, antes do início da campanha, o que gerou reclamações de integrantes do PT à época. Ao mesmo tempo em que recebia o apoio de Flora e da base política da deputada estadual, o filho da deputada foi eleito apoiando a reeleição do prefeito Firmino Filho, forte adversário do PT no Piaui.

Agora, quatro anos depois, desta vez integrante do PSDB, Venâncio mais uma vez conta como apoio da deputada e de toda a sua estrutura.

O presidente do Diretório Municipal do PT, deputado estadual Cícero Magalhães, está sabendo da polêmica por meio dos comentários nas redes sociais, mas ressalta que cada um é livre. Ele “passou o pano” na situação. Afirmou que o partido só se manifestará se for provocado por algum filiado que se sentir incomodado com a situação.

Apoio a Venâncio se deu pelo resultado de seu trabalho como vereador, rebate Flora Izabel

Procurada pelo pensarpiauí, a deputada Flora Izabel enviou uma nota, por meio de sua assessoria, em que nega o uso da estrutura de seu gabinete para Venâncio. Veja abaixo a nota que a deputada pediu para que fosse publicada na íntegra.

Confira a íntegra da nota enviada por Flora Izabel

A deputada Estadual Flora Izabel, mãe do vereador Venâncio, afirma que a Assembleia Legislativa, onde fica seu gabinete, está fechada desde o mês de março por conta da pandemia com entrada apenas de um reduzido número de servidores testados, evitando o acesso do grande público.

“Por conta das determinações dos órgãos de saúde, o nosso gabinete está praticamente fechado, com apenas uma funcionária trabalhando de 8h às 11h para atender telefones, e que os demais estão afastados, fazendo os trabalhos de forma virtual. São medidas de segurança para evitar a disseminação da Covid-19”, explicou a deputada.

Flora disse que, em se tratando da campanha eleitoral e de seus assessores, eles são livres para votar; se estão pedindo voto para o vereador Venâncio é por afinidade, escolha, liberdade e também pelo fato do mesmo ter se destacado na Câmara Municipal de Teresina com vários projetos em benefício das mulheres, segmento LGBT, micro e pequenos empresários, pessoas atingidas com hanseníase, dentre outros.

Além disso, segundo a deputada, Venâncio sobressaiu-se como um dos secretários de Desenvolvimento Econômico de Teresina mais bem avaliados pela população por revitalizar os polos empresariais, fazer projetos importantes para a cidade, como o Procon Municipal, Espaço Thech, o apoio aos empreendedores dos bairros, os festivais, incentivo ao setor da moda, e dar visibilidade ao trade turístico para que a capital cresça mais e possa gerar empregos e riquezas por meio do turismo.

“Portanto, acredito que meus assessores, além da afinidade e da amizade com o vereador Venâncio, também avaliam muito bem o trabalho que ele fez em Teresina pelo bem da sociedade, seja como vereador ou como secretário de Desenvolvimento Econômico”, afirmou Flora Izabel.

Outros casos de infidellidade

Além desse constrangimento vindo de deputada Flora Izabel, o PT vive o mesmo problema com outros dois políticos do partido.

O vereador Deolindo Moura (PT), que disputa a reeleição, deixou a campanha do candidato do partido à Prefeitura de Teresina, Fábio Novo, para pedir voto para o deputado federal Fábio Abreu, do PL, também candidato ao Palácio da Cidade.

O deputado estadual e atual secretário de Administração e Previdência, Franzé Silva (PT), declarou publicamente apoio ao vereador Joaquim do Arroz (MDB), que também disputa para a reeleição.