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Roberto Carlos está certo, calem a boca! Está cada vez mais difícil fazer e assistir shows

O rei perdeu a paciência e esbravejou com parte do público, que não parava de falar; essa falta de educação tem sido recorrente em vários shows

Foto: Reprodução/InstagramRoberto Carlos
Roberto Carlos

 

Viralizou nas redes nesta semana, um vídeo em que o cantor e compositor Roberto Carlos perde a calma e manda o público calar a boca. O rei ainda completa a frase com um sonoro: porra! O espanto causado entre internautas não é para menos. Roberto sempre é calmo, gentil e sorridente. Não há registro de vê-lo perder a paciência desta maneira.


Pode-se tentar atribuir o descontrole à idade do cantor, que já passou dos 80 anos. Mas qual nada, Roberto continua firme, muito bem e cantando como poucos.

Qualquer pessoa que frequente shows e concertos sabe do que se trata. O comportamento de parte das plateias tem se tornado insuportável. Não que seja generalizado, mas basta meia dúzia para que a bagunça se torne total. O fato é que virou comum o falatório, enquanto o artista tenta cantar ou tocar. E isso em qualquer tipo de espetáculo.

Não precisa de muita atenção ao vídeo para perceber o enorme alarido de parte do público, enquanto Roberto canta seu sucesso “Como é grande o meu amor por você”. Quase dá pra entender o que é dito por pessoas do público. O resultado foi inevitável. O cantor explodiu e foi parar entre os assuntos mais comentados nas redes sociais.

Mas será que ele está errado? Como lidar com esse fenômeno? Este que vos escreve é músico profissional há 40 anos, cantor e compositor e pode atestar. O nível de atenção das plateias vem caindo assustadoramente nos últimos anos. A queixa não é só minha. Praticamente todos os colegas repetem o mesmo. Em alguns casos, se tornou quase impossível se apresentar.

Certa vez, um sujeito começou a me gravar com seu celular enquanto eu cantava. Antes que acabasse, ele colocou o vídeo pra tocar junto comigo, que ainda finalizava a mesma canção. O resultado foi uma barafunda sonora que me obrigou a parar. O sujeito, indignado, reagiu cheio da razão: "mas é você, é você".

Era eu sim, que não sou nenhum Roberto, em outro tempo totalmente diferente do vídeo que ele insistia em mostrar.

Interação e bagunça

O fenômeno que se alastra mundo afora tem várias explicações. A partir das redes, as pessoas criaram o hábito de interagir cada vez mais. Deixaram de ser meros espectadores passivos para entrar em campo. Isso tem um lado positivo, mas também tem um limite, que parece não estar bem claro. 

Participar de um espetáculo é ouvir, cantar junto com o artista, bater palmas tanto no ritmo quanto no final de cada canção. Coisa que sempre se fez e sempre se fará, assim espero. Agora, conversar e berrar no meio das apresentações, falar sem parar como se estivesse na sala de casa vendo Netflix de frente para um saco de pipocas é uma coisa. Fazer isso em uma sala de espetáculos é outra.

Certa vez, um amigo cantor se apresentava enquanto alguém insistia em falar alto e gritar. Após algumas tentativas, ele parou, chamou a pessoa e disse: “olha, ou você berra ou eu canto, as duas coisas juntas não vão rolar”. A pessoa foi embora ofendidíssima e ele continuou sua apresentação, para a alegria geral dos outros espectadores.

Roberto está certo. Calem a boca os que falam, os que perturbam. Compramos ingressos para assistir os artistas que amamos, não para ouvir falatório de gente mal-educada.

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