Pensar Piauí

Revista destaca caso 'Lagoas do Norte' em Teresina e trabalho do jornalista Maurício Pokemon

Revista destaca caso 'Lagoas do Norte' em Teresina e trabalho do jornalista Maurício Pokemon

Foto: Googlea arte fotográfica e o sentimento social de Maurício Pokemon
a arte fotográfica e o sentimento social de Maurício Pokemon

 A Revista Carta Capital, na sua edição 1058, traz matéria sobre a arte fotográfica e o sentimento social de Maurício Pokemon, jornalista piauiense, e as agruras dos moradores da avenida Boa Esperança, no encontra das água em Teresina. O pensarpiauí compartilha aqui conteúdo deste material porque é elogiável o trabalho do Pokemon e justa a luta dos moradores da Avenida Boa Esperança e adjacências. Em abril de 2017, este signatário escrevia no portal 180graus e tivemos a oportunidade de falar sobre o assunto. Também vamos reproduzir o conteúdo. Em janeiro deste ano, aqui no pensarpiaui foi feita uma entrevista com a a dançarina e coreógrafa Luzia Amélia  onde abordamos o assunto Lagoas do Norte. Veja os 3 trabalhos: Carta Capital

Foto: Googlea arte fotográfica e o sentimento social de Maurício Pokemon
a arte fotográfica e o sentimento social de Maurício Pokemon

Boa Esperança: arte é aliada para comunidade ribeirinha em Teresina

Por Pedro Alexandre Sanches

‘Retirando a gente daqui, querem retirar as festas de reggae, as praças de rima de hip-hop, os terreiros de umbanda’

Era uma vez uma ilha verde. Ficava no Nordeste, dentro da cidade de Teresina, capital interiorana na confluência de dois rios (o Parnaíba e o Poti). Numa margem do Rio Parnaíba era Maranhão, na outra era Piauí. Na margem piauiense erguia-se uma área verde habitada por um povo mítico que fazia roça quase no centro da capital. Entre a pesca, a pequena agricultura e a minúscula pecuária, capturavam os peixes que restavam no assoreamento do rio; plantavam abóbora, cajá, feijão, macaxeira, manga, maxixe, milho, quiabo; criavam bodes, galinhas, porcos, vacas. Ao passar de ônibus pela Avenida Boa Esperança, na Zona Norte de Teresina, em 2015, o artista visual Maurício Soares Gomes de Oliveira, de nome artístico Maurício Pokemon (herança dos tempos de menino skatista), notou algo diferente naquela comunidade que ligava o centro da cidade ao ponto turístico do encontro dos dois rios. Cartazes e pichações nas fachadas das casas da Boa Esperança gritavam o que a cidade queria calar. Estão lá até hoje. “Lagoas do Norte para quem?” “Estamos em luta por nossas moradias!” “TV Cidade Verde, a boa imagem do prefeito!” “Firmino descumpre acordo e assedia moradores.” “Minha terra, minha história.” “Firmino, exigimos respeito. Morar é preciso, desapropriar não.” Curioso, Maurício, hoje com 29 anos, foi conhecer os moradores da Boa Esperança para entender do que se tratava as mensagens nas garrafas de cimento. Integrante do projeto Rumos do Itaú Cultural, a exposição fotográfica Inventário Verde da Boa Esperança, em cartaz no Campo Arte Contemporânea de Teresina, é o resultado do encontro entre o jovem Pokemon e a comunidade tradicional de habitantes do oásis rural dentro da cidade grande e quente. É, mais que isso, uma denúncia potente contra uma situação peculiar da capital piauiense, mas comum a várias outras cidades grandes no Brasil e no mundo. O Projeto Lagoas do Norte, financiado parcialmente pelo Banco Mundial, pretende “reurbanizar” as margens piauienses do Parnaíba, num empreendimento turístico, paisagístico e hoteleiro. “Quando vi as frases de resistência, sabia do projeto Lagoas do Norte, mas não sabia quão violento ele era”, conta o artista. De acordo com os moradores da Boa Esperança, o plano é despejar 3,8 mil famílias e transferi-las para o bairro afastado (e não ribeirinho) de Santa Maria. “A imprensa não quer nos ouvir. Conversam com a gente, mas não sai publicado. O que a gente fala não serve”, afirma o líder comunitário Francisco Oliveira, ou Chico Boa Esperança, de 50 anos.

Foto: Googlea arte fotográfica e o sentimento social de Maurício Pokemon
a arte fotográfica e o sentimento social de Maurício Pokemon

“Nunca fui empregado pra ninguém. Não tem como me tirar daqui, porque sou porco-d’água”, reage à ameaça de remoção o pescador Luís Miares, de 63 anos. “Se me expulsarem, ponho minha casa mais pra frente e, se expulsarem de novo, vou pro lado do Maranhão. Sempre vivi e sempre vou viver na beira do rio.” Ameaçada de remoção pela prefeitura, a comunidade promete resistir No dia de visita da reportagem à Boa Esperança, Maurício Pokemon executa uma das fases do Inventário Verde: cola nos muros e fachadas das casas suas fotos coloridas (e não apenas verdes), lado a lado com as frases duras de protesto da comunidade. O trabalho dá prosseguimento a intervenções anteriores, resultantes de uma viagem por comunidades ribeirinhas da Amazônia. Ali ele colava no espaço público de Teresina e outras cidades retratos em tamanho real de ribeirinhos, sempre em poses de altivez e empoderamento. “Era efêmero, porque as imagens incomodavam as pessoas. A cidade tinha uma repulsa. Entendi como isso era violento subjetivamente”, descreve. No dia seguinte, a exposição é inaugurada no espaço coletivo Campo, um grande galpão armado por uma coletividade de artistas de dança e artes visuais, onde antes funcionava um depósito de supermercado. A comunidade da Boa Esperança comparece em peso e interage com as imagens que a retratam com ternura e sutileza. O verde é preponderante no olhar de Maurício, porque é preponderante na comunidade. Ele o percebeu nas estampas florais das roupas, nas pinturas das fachadas e nos grandes quintais entre os fundos das residências e o rio, que formam o núcleo principal de convivência da Boa Esperança. Os discursos comprovam a percepção do artista. “Quando é verão, a água está da cor destas folhas, verde, verde”, diz dona Maria Monteiro, 69 anos, referindo-se a um dos fenômenos não naturais produzidos pelo homem no rio poluído. “O verde da Zona Leste é maquiado, não é natural. O verde daqui é natural”, afirma a irmã de Chico Boa Esperança e também líder comunitária Maria Lúcia Oliveira, de 48 anos, fazendo o contraponto inevitável entre seu povo e os moradores da região dita “nobre” da cidade. Vários moradores sublinham sua própria importância no processo de reflorestamento das margens do Parnaíba, única atitude capaz de deter o processo de erosão, o assoreamento, a diminuição constante da profundidade das águas, a formação de ilhas (chamadas de coroas), onde se instalam algumas das várias lavouras comunitárias.

Foto: Googlea arte fotográfica e o sentimento social de Maurício Pokemon
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 A ameaça de destruição pesa sobre o verde, e não só sobre ele. “Acabaram com o boi”, afirma Chico, em referência aos folguedos populares do Piauí (e do Maranhão, e do Pará, e do Amazonas). “Reformaram o Teatro do Boi, hoje é um espaço para balé e show de heavy metal. Disseram que o boi brigava. É da cultura do boi brigar, são brincantes.” Lúcia reafirma a cultura de criminalização imposta à Boa Esperança pela prefeitura (que, procurada pela reportagem, não se manifestou até a conclusão desta edição): “Retirando a gente daqui, querem retirar as festas de reggae, as praças de rima de hip-hop, os terreiros de umbanda. Estão criminalizando os terreiros. Esse progresso não é para nós. É a cabeça do colonizador, porque a gente é pobre e preto”. A destruição da cultura, patrimônio macabro do Brasil de 2019, corresponde à destruição dos fazedores da cultura. “Esta é a melhor região para viver em Teresina. Era habitada pelos índios Potis, foram todos dizimados”, prossegue Lúcia, provável remanescente dos dizimados. “Escutamos da boca do prefeito que é região nobre de pretos e pobres que precisa ser rentabilizada. O secretário falou que era preciso fazer as Lagoas do Norte para as famílias de Teresina se sentirem bem. Como se nós não fôssemos as famílias.” Lúcia e Chico celebram o sobrinho Raimundo Novinho, historiador formado e representante da comunidade nos meios acadêmicos. Num dos pontos de ônibus instalados na avenida em frente às casas, uma pichação vermelha pede “Lula Livre”. No quintal da família Oliveira, Chico conta que a mãe, Davina, de 78 anos, tem Alzheimer, mas ainda guarda a Boa Esperança na memória. Ela comprova no quintal, apontando para os vários jabutis ali criados: “Esse bicho não morre, não”. O vizinho aposentado Alcides Alves da Silva, de 69 anos, dá um dedo de prosa: “Nasci na Vila Operária, mas meu hábitat sempre foi aqui”. Ribeirinho, já viveu em vários centros urbanos do País, que enumera espontaneamente: “Ajudei a construir a Rodovia dos Imigrantes. A Casa da Moeda do Rio de Janeiro. O Hospital Roberto Santos, em Salvador. Vários estádios, de Fortaleza, Teresina, São Luís. Angra 1 e 2. Projetos da Itaipu no Pantanal”. Jornalista por formação, Maurício Pokemon faz a ponte fotográfica entre o dito e o não dito. Afastou-se do jornalismo diário no Meio Norte pela insatisfação com os usos dados às suas fotos: “Ia ver o jornal, a notícia era o oposto do que a foto queria dizer”. Com seus afetos e seu trabalho, faz a ponte entre a comunidade à deriva da Boa Esperança e a comunidade à deriva dos artistas piauienses. “Não tenho o sentimento de estar ilhado em Teresina”, afirma, ao comparar a coletividade da Boa Esperança e o coletivo (cheio de verde) instalado no galpão chamado Campo. Com mais de 500 imagens coletadas (107 estão na exposição), ele pretende constituir um Museu da Boa Esperança em Teresina. Era uma vez uma ilha verde.      

Foto: Googlea arte fotográfica e o sentimento social de Maurício Pokemon
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 Link para a Carta Capital Fotos: Jairo Moura, Maurício Pokemon 180graus

Moradores da zona norte dizem que falta dialogo com a prefeitura de Teresina sobre o Lagoas do Norte

Hoje, vamos falar de vazanteiros, de oleiros, pescadores, vaqueiros, de homens e mulheres - de uma gente preta. Gente que construiu Teresina com seus braços, pernas e muito suor e que até para praticar a fé, teve e tem que ser de maneira marginal, pois “a sociedade” olha desconfiada para o candomblé, umbanda ou outra religião que eles pratiquem. Na construção de suas respectivas famílias e de uma vida melhor, foram se fixando num recanto maravilhoso de Teresina e a partir dali dando uma significativa contribuição para o que é hoje a capital do Piauí. Às margens dos rios Parnaíba e Poti, lá onde as águas se encontram, ergueram moradia, fizeram família, trabalharam duro. A região é uma planície com grandes lagos e um por do sol de extrema beleza. A água é em abundância. Tem a dos rios e a das lagoas. O poder constituído diz que houve uma “OCUPAÇÃO URBANA DESORDENADA”, e quer culpabilizar quem construiu a cidade afirmando que tal ocupação “TEM ACARRETADO ACENTUAÇÃO E DESCONTROLE DOS PROCESSOS NATURAIS, COM EFEITOS NEFASTOS À QUALIDADE DE VIDA DA POPULAÇÃO”, mas o correto é dizer que o poder público demorou para chegar e cumprir suas obrigações e, agora, ao sanear o local expulsa de lá quem morava, trabalhava e vivia. Especuladores do imóvel urbano são os novos personagens do local. Estamos falando do Lagoas do Norte – “CONJUNTO DE AÇÕES INTEGRADAS DESENVOLVIDAS PELA PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA E QUE VISA RESOLVER PROBLEMAS SOCIAIS, AMBIENTAIS E URBANÍSTICOS QUE CAUSAM RISCOS, AFETAM A SAÚDE, DEGRADAM O MEIO AMBIENTE, COMPROMETEM A QUALIDADE DE VIDA E IMPEDEM O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA ZONA NORTE DE TERESINA”. A área total do Programa Lagoas do Norte, conta com aproximadamente 1.198 ha, compreende os 13 bairros da zona norte da cidade que estão sob influência direta das lagoas e onde vivem mais de 92 mil pessoas. Os bairros são Acarape, Aeroporto, Alto Alegre, Itaperu. Mafrense, Matadouro, Mocambinho, Nova Brasília, Olarias, Parque Alvorada, Poti Velho, São Joaquim e São Francisco. Os moradores do local não são contra o Programa. Ao contrário eles querem a urbanização e melhoria de suas casas. Mas eles querem mais. Querem a garantia de seus direitos, a real valorização de seus bens imóveis e o respeito à cultura daquele povo. Querem conversar com a prefeitura. Maria Lucia de Oliveira Sousa é a presidente da Associação de Defesa dos Direitos Sociais Ferreira de Sousa. Ferreira de Sousa foi seu pai – um dos primeiros moradores da avenida Boa Esperança. Quando ele chegou na região lá existia muita criação de gado. Aqui em Teresina chamamos de vacaria. Vaqueiro, foi um de seus primeiros ofícios. Maria Lúcia é quem, em nome dos moradores da região reclama a falta de dialogo da Prefeitura de Teresina. A seguir um vídeo onde a presidente da Associação conta a luta daquele povo. O blog deixa também o endereço eletrônico da Secretaria Municipal de Planejamento de Teresina com todos os detalhes do Programa Lagoas do Norte http://semplan.teresina.pi.gov.br/lagoas-do-norte/ [embed]https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=_SukbTFjMHA[/embed] Veja link para 180graus Pensarpiaui

Luzia Amélia: “o Lagoas do Norte é ridículo…o Firmino é sensível, mas não é bonzinho”

Foto: Googlea arte fotográfica e o sentimento social de Maurício Pokemon
a arte fotográfica e o sentimento social de Maurício Pokemon

Esta semana o pensarpiaui entrevistou a dançarina, coreógrafa e teresinense Luzia Amélia. Ela se incorporou à luta dos moradores do encontro dos rios em Teresina que resistem a ação da Prefeitura para retirá-los do seu local de origem por conta do Projeto Lagoas do Norte. Para Luzia Amélia “o Projeto Lagoas do Norte é ridículo. É um projeto oco, vazio. É interesseiro e higienista”. Ela fez duras críticas a equipe da Prefeitura de Teresina responsável pelo projeto e alertou o prefeito, o “Firmino tem que ter uma equipe com mais amor pela cidade. Eles são agressivos. Não conversam com a cidade. É um jogo muito sujo. Eles têm pavor de gente. É uma equipe irresponsável. O Firmino é sensível, mas não é bonzinho. O PSDB é elitista, terrível.” Mas antes de tratar do Lagoas do Norte, Luzia falou de sua vida e da relação com a cidade. “Não me sinto Luzia em nenhum lugar do mundo, como me sinto Luzia em Teresina. Só consigo pensar em dança numa relação com a cidade. Tenho relação ancestral com Teresina. Meu avô era careta de reizado.” Para Luzia, “a história da dança no Piauí foi deixada pelos homens pré-históricos” e quando ela viu uma sala de dança pela primeira vez na vida “aquilo me sugou e nunca mais voltei ao normal”    A arte de Luzia está profundamente ligada às questões das mulheres, das negras e do povo pobre de Teresina e do Estado. “No Piauí acontece um banho de sangue. As vidas prestas não importam.” Mas ela mesmo sentiu de perto o preconceito e o racismo “quando comecei a ir para lugares de liderança como o comando da Escola de Dança do Piauí”. E também agora após a apresentação da performance “Banho de Sangue” nas escadarias da Prefeitura de Teresina. “Uma pessoa disse que eu merecia 20 chibatadas, outro que era falta de vassoura e mais um dizendo que era falta de trouxa de roupa para lavar.” Veja a integra da entrevista: [embed]https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=HZgXY_oo5_k[/embed]

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