Política

Rachadinha se espalha: há indícios do esquema também com Jair e Carlos Bolsonaro

O UOL publicou reportagem onde faz uma anatomia da rachadinha

  • segunda-feira, 15 de março de 2021

Foto: DivulgaçãoFamília rachada
Família rachada

A quebra de sigilos bancário e fiscal de pessoas e empresas ligadas ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) revela indícios de que o esquema da rachadinha também ocorria nos gabinetes do pai, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), quando este era deputado federal, e do irmão, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Os dados apontam ainda a existência de transações financeiras suspeitas realizadas pela segunda mulher do presidente, Ana Cristina Siqueira Valle.

A análise realizada pelo UOL mostra que o intenso volume de saques dos assessores de Jair e Carlos é bastante semelhante aos dos funcionários de Flávio.

Esse padrão chama atenção porque foi identificado pelos investigadores do MP-RJ como parte do método usado durante a “rachadinha” na Alerj. Além disso, o uso constante de quantias em espécie dificulta o rastreamento pelos órgãos de controle.

O então deputado federal, Jair Bolsonaro, empregou em seu gabinete por oito anos (de 1998 a 2006) Andrea Siqueira Valle, a irmã de sua segunda mulher, Ana Cristina Siqueira Valle. Um ano e dois meses depois que a irmã deixou de trabalhar para Jair, Ana Cristina ficou com todo o dinheiro acumulado na conta em que Andrea aparecia como titular e recebia o salário: um saldo de R$ 54 mil – quantia equivalente a R$ 110 mil, em valores de hoje.

Andrea foi empregada por Jair Bolsonaro de setembro de 1998 a novembro de 2006, período em que Bolsonaro e Ana Cristina tinham um relacionamento estável —a união durou de 1998 a fins de 2007.

Pouco depois, em janeiro de 2008, Ana Cristina fez as operações para “zerar” a conta em que a irmã aparecia como titular em uma agência que fica dentro da Câmara dos Deputados, em Brasília.

Entre os anos de 2007 e 2009, Andrea declarou como moradia à Receita Federal, em seu Imposto de Renda, o endereço da casa onde Ana Cristina e Bolsonaro viviam na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Apesar disso e de ter a conta bancária dentro da Câmara, Andrea nunca morou na capital federal e nem na casa na capital fluminense. Vivia em Resende, no sul do Rio de Janeiro, onde fazia diferentes serviços gerais, a exemplo de faxinas.

Mariana Mota, ex-chefe de gabinete de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), fez pagamentos de despesas locatárias de uma quitinete no centro do Rio, onde morava Leonardo Rodrigues de Jesus, o Léo Índio, primo do atual senador. O dinheiro provinha da conta de Mariana, no período em que Flávio foi deputado estadual e que Léo constava como seu assessor na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), ao longo de 2007.

Os dados mostram ainda que Mariana recebeu em sua conta repasses de funcionários do gabinete de Flávio.

Foram cinco pagamentos em benefício de Léo Índio. Em fevereiro de 2007, Mariana fez uma transferência identificada como “al.leo” para Norival Dantas, que alugava imóvel para Léo Índio. O valor foi de R$ 503. No mês seguinte, repetiu a operação para Dantas, no valor de R$ 460 — dessa vez, anotou “condomin”.

Em maio, outra transferência, identificada como “leo” e valor de R$ 503. Em julho do mesmo ano, outra operação chamada de “aluguel”, no total de R$ 500. Em agosto, mais R$ 500 com anotação “leo”.

Quatro funcionários que trabalharam para Jair Bolsonaro (sem partido) em seu gabinete na Câmara dos Deputados retiraram 72% de seus salários em dinheiro vivo. Eles receberam R$ 764 mil líquidos, entre salários e benefícios, e sacaram um total de R$ 551 mil.

UOL identificou os saques ao verificar documentos e quebras de sigilos bancário e fiscal da investigação do “escândalo da rachadinha”. Os dados financeiros abrangem 12 anos, de 2007 a 2018, período em que esses assessores foram nomeados tanto para o gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) quanto para o de Jair. Dessa forma, é possível saber como movimentaram o contracheque da Câmara dos Deputados.

As operações em dinheiro vivo realizadas pelo quarteto são um indício de que a prática ilegal de devolução de salários de assessores também ocorreu no gabinete de Jair Bolsonaro, quando ele exerceu o mandato de deputado federal.

Carlos Bolsonaro

Ao menos quatro funcionários do gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) sacaram 87% de seus salários em dinheiro vivo. Juntos, eles retiraram um total de R$ 570 mil.

O intenso volume de saques de assessores de Carlos Bolsonaro, após os pagamentos, é semelhante ao padrão apontado pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) na suposta organização criminosa que funcionava no gabinete do irmão mais velho, Flávio Bolsonaro, na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

Entre os funcionários de Carlos Bolsonaro que tiveram o sigilo bancário quebrado, estão Márcio Gerbatim e seu sobrinho Claudionor Gerbatim. Os dois trabalharam como cabeleireiros no Rio de Janeiro. Além disso, atuaram como motoristas.

Também tiveram o sigilo bancário quebrado outros dois funcionários de Carlos – o militar Nelson Rabello e Andrea Siqueira Valle, irmã de Ana Valle, ex-mulher de Jair -que, além de Flávio, também atuaram com Bolsonaro na Câmara dos Deputados.

Siga nas redes sociais

Deixe sua opinião: