Pensar Piauí

Quanto mais desumano, mais Bolsonaro se fortalece

Se Bolsonaro confessasse que já foi miliciano, que já pisou em imagens de Nossa Senhora Aparecida e que já comeu yanomami, não aconteceria nada

Foto: ReproduçãoBolsonaro
Bolsonaro

 

Por Moisés Mendes, jornalista, em seu Blog

Se Bolsonaro confessasse que já foi miliciano, que já pisou em imagens de Nossa Senhora Aparecida e que já comeu yanomami ensopado, não aconteceria nada.

Bolsonaro descobriu que a normalidade o prejudica. Quanto mais for identificado como uma aberração política e humana, mais se fortalece.

Por isso melhorou nas pesquisas depois de dizer que uma criança venezuelana havia se encantado por seu charme ou por sua boca de cobra.

No Datafolha, na semana passada, tinha 44% dos votos totais. Ganhou um ponto e está agora com 45%. Lula continua com os mesmos 49%.

Todas as pesquisas vão confirmando. Quanto menos humano for, mais o sujeito tem a aceitação de ricos e da classe média que o utilizam como cão de guarda de seus interesses, medos e frustrações.

E ainda conta com os pobres que se identificam com os ricos e dizem ter medo de ver suas igrejas invadidas e seus bens tomados pelo comunismo.

Nada mais tira votos de Bolsonaro. E nada mais acrescenta votos a Lula. Nem Simone Tebet, nem Henrique Meirelles, nem Xuxa. Nem Luciano Huck acrescentaria coisa alguma, se abrisse o voto para Lula.

Bolsonaro é o sujeito que deu certo como excrescência humana porque quase metade da população tem a mesma índole.

Bolsonaro é a criatura. O criador coletivo de Bolsonaro é o Brasil sem escrúpulos que não se incomoda com as confissões de um velho babão com boca de cobra.

A FARSA DAS DESCULPAS

Já foi dito, mas é preciso repetir. O sujeito não pediu desculpas por ter dito que as crianças venezuelanas eram prostitutas, ao gravar um vídeo com cara de arrependido.

Vamos relembrar que ele não insinuou que as meninas estavam se prostituindo, ele afirmou, ele assegurou que eram prostitutas.

O que ele insinuou naquela live foi que uma menina se sentiu atraída por sua boca de cobra.

É só ler o que ele disse agora, com a velha história de que foi mal interpretado.

“Se as minhas palavras, que, por má-fé, foram tiradas de contexto, de alguma forma foram mal entendidas ou provocaram algum constrangimento às nossas irmãs venezuelanas, peço desculpas”.

Ninguém tirou palavras de contexto. Não há nessa fala um pedido desculpas. E mesmo que houvesse, seria apenas para se livrar da acusação de pedofilia.

O sujeito com boca de cobra tentou enrolar, porque a enrolação é bem absorvida, sempre foi. O problema existiria se o pedido de desculpas fosse verdadeiro, aí sim ele perderia votos.

E o jornalismo continua devendo a grande reportagem sobre esse assédio.

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