Política

Qualquer coisa é melhor que o Temer?

Qualquer coisa é melhor que o Temer?

  • quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Qualquer coisa é realmente melhor que Temer como presidente do Brasil? Façamos esta reflexão neste dia 15 quando, em São Paulo, manifestantes foram às ruas pedindo a volta dos militares ao poder. Ironicamente, no mesmo dia em que comemoramos os 128 anos de Proclamação da República no Brasil.
Nas redes, historiadores se dividem. Enquanto uns apontam a importância da data, outros a contestam. O empresário Luiz Philippe de Orleans e Bragança, tataraneto de D. Pedro II, o último imperador brasileiro, e militante do movimento direitista Acorda Brasil, disse em entrevista à BBC que a proclamação foi "ilegítima, foi um golpe de uma minoria escravocrata aliada aos grandes latifundiários, aos militares, a segmentos da Igreja e da maçonaria (portanto, um movimento de elite)". Observe-se que ele fala em causa própria, pois seria o imperador do Brasil desde o ano 1980, caso fossemos uma monarquia.
O fato é que desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, o movimento pró-monarquia foi impulsionado pelas redes sociais e pela presença de grupos monarquistas nas manifestações contra o governo petista. As pessoas parecem querer ignorar o plebiscito realizado em 21 de abril de 1993, quando os brasileiros voltaram às urnas para decidir sobre o regime de representação do país. Dos 67 milhões de eleitores que foram às urnas, 44,1 milhões (65%) votaram a favor da República e 37,1 milhões (35%) escolheram o presidencialismo.
Portanto, é no minimo contraditório existirem hoje historiadores renomados questionando a legitimidade da proclamação da Republica pela ausência da participação popular mas não vermos esses mesmos historiadores defenderem a legitimidade do plebiscito de 1993 e nem das eleições de 2014, que levaram Dilma ao Poder. A candidata petista obteve 51,6% dos votos e o tucano Aécio 48,3%, num total de 112,7 milhões de votos. Ainda mais assustador é ver um povo, mesmo que seja mínimo, ir à ruas pedindo o retorno de um regime violento que perdurou no Brasil por 21 anos e que contabilizou, conforme relatório da Comissão Nacional da Verdade, 434 pessoas entre mortos e desaparecidos durante o regime, além de um genocídio de cerca de 8,3 mil índios, lamentáveis violações de direitos humanos, como a prática de detenções ilegais e arbitrárias, tortura, violência sexual, execuções, desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres resultantes de uma política estatal, de alcance generalizado contra a população civil, caracterizando-se como crimes contra a humanidade.
Esse momento de total descrédito na política brasileira atual se agravou expressivamente principalmente em decorrência da não aceitação da derrota nas eleições de 2014 pelo senador Aécio Neves, que aliado com Eduardo Cunha então presidente da Câmara (hoje preso, condenado a 15 anos de reclusão e réu em inúmeros outros processos relacionados a corrupção) passaram a boicotar o governo de Dilma, com aprovação pelo Congresso das chamadas "pautas-bombas" e reprovação de todas as medidas de ajuste fiscal proposta pelo governo à época. O que estava ruim, continua péssimo. O Brasil caiu no ranking de transparência internacional e Michel Temer, que não resolveu absolutamente nenhum problema nacional, vem a cada dia - com sua política liberal - aprovando medidas prejudiciais para toda a população, principalmente para os grupos menos favorecidos e para a classe trabalhadora, como a lei da terceirização e a reforma trabalhista, em vigor desde o ultimo dia 11. A prova disso é o levantamento recente realizado pela grupo de análise política Eurasia com todos os presidentes do mundo em que Temer foi apontado como o presidente mais impopular, com apenas 3% de aprovação.
Fiquemos com a reflexão do professor Marcos Napolitano, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista ao UOL:
"Qualquer processo político está ligado à capacidade de minorias ativas ganharem o apoio de maiorias, ativas ou passivas, e neutralizarem outros grupos que lhes são contra. Nem sempre um processo político que começa com uma minoria ativa redunda em falta de democracia. Esta é a medida de legitimidade de um processo político. Muitos processos políticos democratizantes, que mudaram a história mundial, começaram assim. O que não os exime de serem processos muitas vezes traumáticos e conflitivos".
Proclamemos neste dia 15 de novembro mais liberdade de consciência, mais direitos, mais república e mais democracia.
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