Primeiro se faz política, depois campanha. Lula sabe, Bolsonaro, não
Eleitor não gosta de votar em candidato com pinta de que vai perder

Por Ricardo Noblat, jornalista, no Metrópoles
A esta altura, quem tomará de Lula o espaço de candidato de uma aliança nacional interessada em ver pelas costas o presidente Jair Bolsonaro, se possível ainda no primeiro turno? Não apareceu.
Parte da direita que se diz civilizada, mas que votou em Bolsonaro há três anos, cobra a Lula uma exposição detalhada de suas ideias para governar. Ao seu tempo, e em linhas gerais, ele o fará.
Por que faria desde agora? Para arriscar-se a perder apoios quase consolidados? Para que lhe exijam mais concessões à direita e à esquerda? Para municiar de argumentos os que o rejeitam?
Não tem pressa. Sua situação é cômoda. Bolsonaro se elegeu sem dispor de um programa de governo. Pergunte a um eleitor de Lula por que votará nele. Resposta: pelo que ele já fez e poderá fazer.
Lula dedica-se a consolidar a imagem de candidato do centro, fechando todas as brechas por onde poderiam entrar outros nomes. Bolsonaro está em campanha. Lula, por ora, faz política.
Carlos Lacerda, que governou o extinto Estado da Guanabara, e Antônio Carlos Magalhães, que governou a Bahia três vezes, diziam que a política vem em primeiro lugar, campanha só depois.
Como Bolsonaro não sabe e não gosta de fazer política, o que faz? Zanza por aí a desfilar em cima de motos, a passear no mar de jet ski, a comer frango com farofa à beira da calçada e a deitar falação.
Cada vez que fala, arranja uma encrenca. Para reter os eleitores que lhe são fiéis, reforça seu desamor pela vida alheia ao atacar a vacinação infantil, dissemina preconceitos e fustiga a Justiça.
Como se os eleitores que se encantam com essas coisas fossem suficientes para reelegê-lo, ou garantir-lhe uma vaga no segundo turno. Lula atua para liquidar a eleição no primeiro turno.
Pode não conseguir. A história da próxima eleição ainda está sendo escrita. Prognóstico, segundo um antigo zagueiro do Santa Cruz, time de Pernambuco, só quando o juiz apita o fim do jogo.
Mas se o acaso não reservar surpresas, Lula manterá a dianteira nas pesquisas de intenção de voto até que a campanha comece de fato a partir de meados de agosto.
Acumulou gordura para gastar até lá, se for o caso. Mas quem apanha também bate ao sentir-se ameaçado. Se não, ignora as pancadas, banca o bom moço, posa de pai da pátria e vai levando.
Eleitor não gosta de votar em candidato com pinta de perdedor. Bolsonaro está com essa pinta mortal.
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