Política

Por que Bolsonaro não gosta de mulher?

Misoginia que exige tratamento médico, terapia e a paciência caridosa da sociedade civilizada

  • sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Foto: ReproduçãoJair Bolsonaro
Jair Bolsonaro

 

Por Walter Falceta, jornalista no Facebook 

Fui comprar uma lâmpada de led amarela. A atendente me viu com o brochinho discreto do Lula. Riu discretamente e começou um papo esparso sobre política. Ao saber de minha profissão, arriscou uma pergunta:

- O senhor me diga: por que o Bolsonaro não gosta de mulher?

Não era possível me alongar. Mas respondi mais ou menos isso.

- Acho que ele não gosta de um monte de coisas. Não gosta de tudo que o assusta, que o questiona, que expõe diferenças. Sabe a história da Terra Plana? Então, ele quer um mundo plano, com gente mandando e gente obedecendo. Por isso que se deu bem com hierarquia militar, mundo autoritário masculino. As mulheres o assustam porque elas são ilimitadas.

Testou-se a lâmpada. Acendia. A moça ficou pensativa. E repetiu devagar: "i-li-mi-ta-das".
Voltei para casa bem frustrado. Acho que minha resposta foi ruim, complicada, meio acadêmica, com uma linguagem de código hermético. Por um segundo, cogitei de voltar, comprar outra lâmpada e me fazer mais claro. Bobagem.

No Largo do Carrão, eu havia evoluído na decifração. Creio que isso tudo vem da infância, em uma família de hábitos moralmente primitivos, religiosamente ignorante e dada ao encouraçamento da libido.
Eu já tinha visto isso em outras famílias italianas, de oriundi e de gente da própria bota. Essa exaltação doentia do mundo masculino, do qual se aproveitou Mussolini. Assista a "Um dia Muito Especial", com Sophia Loren e vai compreender essa fascinação bestial.

Os cavalos e as motocicletas fazem parte desse fetiche italiano, que Bolsonaro também cultua. Ele se excita na figura do centauro, sobre quatro patas emprestadas ou sobre duas rodas.

Estranhamente, esse culto do falo, da coisa gigante entre as pernas, está simbolicamente associado a uma síndrome de castração. A psicologia de massas dos fascismo, de W. Reich, vai explicar como funciona essa interdição do sexo amoroso, considerado como uma fraqueza masculina. Veja que filha é tida como resultado de uma "fraquejada".

Esse extermínio programado do afeto permite que a energia primitiva se canalize para missão fascista de odiar os diferentes.

Jair Messias Bolsonaro nasceu nesse ambiente de estigmatização das interações sexuais de comunhão, patrocinadoras do gozo em igualdade. Em sua adolescência, ele mesmo admite que fazia sexo com galinhas. Não é invenção. É ele mesmo quem diz.
Os amigos mais valentes, segundo o elemento, desfrutavam de bezerrinhas e jumentinhas. Ele, em sua fraqueza, em seu profundo medo da pulsão sexual, submetia galinhas. Então, muito se explica nesse início de trajetória do capitão.

No Exército, se existe uma saída, é no afeto legítimo e romântico que ele desenvolve por um outro homem, um instrutor, mas que ele reprime como pecado imperdoável. Sente-se infeliz, mas não rompe a regra.
Seus casamentos são construídos sob a hierarquia militar, em uma suprema infelicidade marcada por coações, ameaças, agressões e autoritarismo brutal. As mulheres de sua vida se situam em um território nebuloso entre a servidão e o desfrute mecânico. 
Bolsonaro continua se assustando com a autonomia possível das mulheres, que pensam, imaginam, subvertem, criam e questionam. Ele as teme. Como teme tudo que é complexo e que não pode categorizar em um relatório de caserna. Se estão no caminho, eles as agride, como ocorreu com a cliente do Banco do Brasil.

O que mais o aterroriza, no entanto, é a mulher que, no processo de emancipação, tornou-se senhora da palavra e agente da livre expressão. Para Messias, essas figuras figuras são atrevidas, perigosas e devem ser tratadas a pauladas.

Daí, o ódio que nutriu por Maria do Rosário, que se exercitava na divergência. Como puni-la? Ora, a psiquê bolsonarista remete aos tempos do barranquismo e dos ataques ao galinheiro. Ali, ele é o senhor dos corpos alheios. Então, vomita: "só não te estupro porque você não merece".

Agora, no topo do mundo patriarcal, no Planalto, ele não se conforma com as mulheres que, desde o mundo do jornalismo, questionam suas decisões. É o que o tira do sério e fustiga seu "self" inseguro.
Veja que ao responder a Vera Magalhães, ele inclui uma sutil referência ao delírio sexual. A profissional de comunicação dormiria pensando nele. Ou seja, sua conduta teria natureza em uma adulteração da idolatria que julga merecer.

Este é o presidente do país, assombrado por seus próprios demônios, pela impotência psíquica, pela medo da vagina, uma misoginia que exige tratamento médico, terapia e a paciência caridosa da sociedade civilizada.

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