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Padre alvo de racismo recebe apoio de Diocese

'No ambiente religioso também tem racismo', lamenta padre vítima de injúria racial em igreja de MG

Foto: Reprodução/EPTVPadre Riva Rodrigues, vítima de injúria racial em Alfenas (MG)
Padre Riva Rodrigues, vítima de injúria racial em Alfenas (MG)

 

Um padre relatou ter sido vítima de injúria racial em uma igreja de Alfenas (MG). As atitudes criminosas, que vão de ligações a ofensas pessoais, levaram a Diocese de Guaxupé (MG) a divulgar uma nota de repúdio e apoio ao padre Riva Rodrigues de Paula, que foi lida nas celebrações das oito paróquias de Alfenas nesse domingo (23).

“Fiquei muito triste, muito triste mesmo. Mas ao mesmo tempo, sempre colocando tudo em oração, até que chegou um momento que senti que era hora de falar, de colocar o nosso povo a par dessa situação, que infelizmente dentro do ambiente religioso, também tem o preconceito, o racismo. Aqueles que prezam pelo respeito à vida, têm que falar, têm que denunciar, têm que mostrar que esse mal está vivo, muito presente no coração, infelizmente, de algumas pessoas”.

De acordo com o G1, Riva tem 42 anos, sendo oito de sacerdócio, e é vigário paroquial na Igreja Matriz de Alfenas. As injúrias começaram há dois meses, quando ele chegou à cidade. Ele é o primeiro vigário paroquial negro em Alfenas.

O primeiro caso foi de telefonemas à secretaria paroquial, com ofensas. Há três semanas, segundo Riva, um casal cometeu injúria racial pessoalmente, dentro da igreja.

“Via telefone, eles falaram muitas coisas, que era para serem avisados quando o padre preto fosse celebrar a Santa Missa, que eles não gostam de preto, para eles não poderem vir à missa. E o casal chegando para a celebração, disse 'esse preto fedido aqui de novo?", relatou.

O padre ainda afirma que já foi vítima de injúria racial dentro da igreja em outras ocasiões. O primeiro caso foi em Poços de Caldas (MG), em 2013.

O caso é considerado injúria racial quando uma pessoa ofende alguém por conta da cor da pele ou da etnia, e é considerado crime. O código penal prevê prisão de um a três anos, além de multa. Já o racismo acontece quando o crime é contra um grupo de pessoas e é considerado inafiançável.

Apesar do crime, o padre não registrou boletim de ocorrência. No entanto, ele conversou com um delegado da cidade. Por enquanto, o sacerdote disse que prefere expor o que aconteceu e tentar conscientizar os fiéis. Mas se as injúrias raciais continuarem, ele afirmou que vai buscar medidas legais.

“Eu acredito na força do amor. E optei pela conscientização. Em um primeiro momento, as palavras têm um impacto, uma força muito grande sobre a gente. Mas rezando, eu optei pelo desabafo, pela denúncia e levar o nosso povo a conscientizar que nenhum tipo de preconceito é bem-vindo hoje em nossa sociedade. E que nós devemos denunciar, trabalhar isso, porque nossa sociedade não comporta mais esse tipo de atitude”, disse o religioso.

O padre ainda agradeceu o apoio de fiéis e da Diocese de Guaxupé, que emitiu a nota. (Veja a nota na íntegra no final da matéria).

A coordenação de Promoção da Igualdade Racial de Alfenas informou que acompanha o caso e que vão lançar uma nota de repúdio.

Confira o vídeo e a imagem da nota de repúdio:

 

Nota de repúdio

Padre sofre racismo em #Alfenas

Posted by Pedrinho MinasAcontece on Monday, November 23, 2020
Foto: Diocese de GuaxupéNota de Repúdio
Nota de Repúdio

 

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